07 abril 2011

O INEVITÁVEL ACONTECEU

O inevitável aconteceu. Já se sabia há vários meses que um pedido de resgate era inevitável. Essa era a opinião dominante dos economistas nacionais e internacionais, que já há muito tinham percebido que o nível de endividamento da economia nacional e do nosso Estado eram simplesmente insustentáveis, principalmente numa economia que já não alcança taxas de crescimento signficativas há mais de uma década. No entanto, e lamentavelmente, o governo viu nesse inevitável resgate a sentença final de uma governação medíocre e irrealista que conduziu o país à beira da insolvência e ao maior nível de endividamento desde o século 19. E por isso andámos meses a fio a implementar pacote de austeridade atrás de pacote de austeridade, e a suportar juros crescentes que nos irão sair muito caros e que poderão comprometer desnecessariamente parte do nosso Estado Social. Porém, nem os sucessivos pacotes de austeridade foram suficientes para evitar as constantes derrapagens orçamentais, nem para atenuar o crescimento explosivo da dívida pública nacional. E assim chegámos ao dia de ontem e à inevitabilidade do resgate. 
A verdade é que, se tivesse sido feito em Novembro, quando a Irlanda pediu ajuda, um resgate teria sido bastante menos oneroso e teria tido até bem menos custos reputacionais.  Teríamos ainda conseguido condições muito mais favoráveis. E não teríamos passado meses e meses a mostrar ao mundo o descontrolo das nossas finanças públicas e a irresponsabilidade dos nossos governantes. Se tivessemos pedido auxílio nessa altura, poderíamos então ter alegado que estavamos somente a sofrer as consequências de um contágio irlandês e que a ajuda externa era apenas feita por precaução. Não era totalmente verdade (pois nós temos realmente um problema gravíssimo de endividamento), mas seria uma desculpa perfeitamente aceitável e razoável. E nessas condições, o governo poderia até ter conseguido sobreviver após o recurso ao FEEF e ao FMI. Todavia, o governo preferiu não seguir esse caminho.
E foi assim que, por causa de um orgulho político inusitado, Portugal andou meses a vender dívida pública a taxas proibitivas e a recorrer cada vez mais a emissões de curto prazo. E é assim que quando a factura final nos for apresentada no final deste ano e no próximo, decerto que daremos conta que o peso dos juros será de tal ordem que teremos de fazer cortes de despesas suplementares e/ou onerar ainda mais a carga fiscal e/ou até ter de embarcar em cortes das pensões e, quiçá, dos salários. Esperemos que não, mas já não seria tão surpreendente se tal acontecesse. Porém, se acontecer, esperemos que nos lembremos da razão que nos levará a tomar essas medidas. 

Daqui a umas décadas, nem o dia de ontem, nem o resgate do FEEF e do FMI figurarão em grande destaque no meio das grandes tendências da economia nacional. O que irá sobressair serão as dívidas acumuladas nos últimos 15 anos, bem como a irresponsabilidade das políticas económicas.  Quando muito, o dia de ontem ou o resgate do FEEF e do FMI serão vistos como o ponto de inflexão de uma era que é verdadeiramente histórica, e que ficará na memória como sendo uma era de irresponsabilidade e de irrealismo. Uma era em que a propaganda substitui o bom senso, e em que a retórica política falou mais alto do que a responsabilidade e o sentido de Estado. Os resultados estão à vista: um endividamento recorde e um desemprego sem precedentes.

4 comentários:

Anónimo disse...

Parte 1
Olá rapaz,
tenho de dizer que discordo bastante com a tua visão da situação!!
No maior jornal espanhol lê-se que a situação portuguesa em nada se compara à Grega ou Irlandesa.
Qual é o nosso problema principal? Como tu o referes é o fraco crescimento apresentado nos últimos 10 anos.
E porque isto é um problema? Porque deixámos de viver num capitalismo assente na produção para passar-mos a um capitalismo assente na especulação!
O problema do capitalismo de especulação ( que serve para a banca fazer dinheiro através de especulação, menos trabalho ainda do que analisar mercado e comprar acções, porque é suficiente dizer este Portugal vai mal e comprar divida ) é que não analisa as variáveis de produção. A verdade, para quem olha para Portugal com olhos de ver, é que a nossa economia à 10 anos atrás se baseava apenas em empresas estrangeiras e na construção! Actualmente podemos, no minímo, ter o mesmo fraco crescimento mas se olhamos para quem contribui para esse crescimento vemos uma realidade totalmente distinta! Damos-nos conta que são pequenas e micro empresas com trabalhadores qualificados que produzem produtos de qualidade acrescida. Numa economia de especulaçäo a "confiança" é a variável mais importante. O que nos faz perdedores logo de inicio porque quem é o Tuga que fala bem de Portugal? Eu!? Estou só....porque prefiro falar do que tem de bom Portugal! Atenção: não fecho os olhos ao resto!
Faz anos que repito sem conta que "enquanto não acreditarmos em nós próprios, ninguém irá fazer-lo! E sendo assim o futuro só depende de nós!"

Anónimo disse...

Parte 2
Lê-se também no diário espanhol que seria menos duro para a população Tuga aceitar o PEC a ter de pedir ajuda a Bruxelas. Outra coisa que é dita, é que o governo português se demite quando começava a afastar a especulação do seu pais. O que se passa aqui é que será mais fácil para o senhor Paços (daí o não aprovar o PEC) justificar o fim do estado social com a entrada do FMI em Portugal. O bonito ver que os Espanhóis também referem que a quantia da ajuda é igual ao risco da divida espanhola em Portugal!! Eu que aqui ando por estas terras juro que eles parecem estar em pior situação que nós!! Mas quem sou eu...
Levam mais de um ano com 20% de desemprego...assim que me parece que essa ajuda será uma ajuda também a Espanha que se irá financiar recuperando o dinheiro investido na divida portuguesa. A Espanha é demasiado grande para ser eventualmente recadada segundo os economistas e daí uma necessidade de financiar-se recuperando os títulos de divida. Portugal, como bom samaritano tem os seus títulos em divida africana!!
Concordo que os políticos são os culpados mas eu sou daqueles que acredita que os políticos são um reflexo da população! O problema é cultural!
Uma população que aprova que o seu vizinho falte aos impostos e cobrar em negro não pode depois pedir moral e ética ao politico que subiu no partido por ser chico esperto como o seu vizinho! Os partidos são como um sistema de educação paralelo, só que em vez de começar aos 6 anos (primeira classe) começa aos 13 anos! Neste sentido, se não chegas a uma "cadeira" não está habilitado para nada mais. Basta parar e ver quanto tempo estes senhores demoram a fazer um curso universitário ou quantos vão para privadas! Depois temos dois sectores claramente distintos na nossa população: A função publica e o resto...
Temos na função publica contratos para toda a vida mesmo quem nada faz e temos os recibos verdes para o resto...para quem quer arriscar em abrir uma empresa tens o problema que se corre mal nem direito a fundo de desemprego tens! Com estas disparidades no mercado de trabalho todos querem o mesmo!

Anónimo disse...

Parte 3
Na minha humilde opinião acho que o Sócrates foi mau, mas também tenho olhos na cara para ver que mesmo assim foi o melhor que tivemos até hoje. Com ele, no primeiro mandato tivemos o governos com mais independentes a ministros. Houve algumas industrias que melhoraram e muito os seus produtos com as ajudas governamentais. Basta olhar para o mercado dos vinhos, baixou-se em 1/5 a produção mas aumentou-se a qualidade e os ingressos através da exportação. Outras como a da cortiça, informatica e biomédicas seguiram exemplo!
Para comentário final, acho o real problema está no sistema que tem como base um crescimento exponencial tendo recursos limitados. Concordo contigo quando dizes que este sistema está feito para alguns (li outros artigos teus)! A prova disso é que há ordenado mínimo e não existe um ordenado máximo, porque será? Para mim este sistema está falido e o que se faz nos dias de hoje é meter remendos até que não tenha arranjo! Marx bem dizia que o capitalismo se iria reformular até ao dia que seja impossível fazer-lo!
Eu bem gostaria de partilhar mais das minhas ideias de como o mundo devia funcionar mas já escrevi demais e há que voltar para o trabalho...
Um abraço sentido,
Rui Rosa (Grande Barreirense e Portista)

Anónimo disse...

E tudo isto graças a um pessimo estadista, diga-se!