A líder do principal partido da oposição afirmou na sua primeira grande entrevista (após a sua eleição para esse cargo) que "não há dinheiro para nada" e que, por isso, o governo deveria repensar a sua política despesista com os investimentos públicos projectados para os próximos anos. Pois muito bem. Eu até concordo que a margem de manobra é baixa e que a situação das contas públicas continua a ser delicada. Concordo também que a maior parte dos investimentos públicos anunciados são demasiado caros e até desnecessários. Mesmo assim, seria interessante que Manuela Ferreira Leite nos explicasse três coisas:
- Como é que tenciona ganhar as eleições? Se não dinheiro para nada, o que é que um seu governo tenciona ajudar os portugueses(as)? Somente combater o défice orçamental?
- Que medidas é que propõe para combater a estagnação dos últimos anos e, pior, os efeitos do choque petrolífero? Combater o défice não chega para estimular uma economia. Ou será que Manuela Ferreira Leite pensa que sim?
- Todo o investimento público é mau ou haverá algum que faz sentido? Se o TGV é um erro, o que fazer com o dinheiro que lhe é destinado?
Esperemos que nos próximos tempos a líder da oposição consiga esclarecer a sua posição nestas matérias. De uma coisa podemos estar certos. O discurso de austeridade de Ferreira Leite não se alterou nos últimos anos. Porém, se tal discurso fazia sentido em 2002 ou em 2003, o mesmo não é verdade hoje em dia. O cinto dos portugueses já está apertado e vai ficar ainda mais com a crise internacional e com as subidas dos juros projectados pelo Banco Central Europeu. O desemprego já é dos mais elevados na União Europeia e irá certamente piorar antes de melhorar. Ficar de braços cruzados ou alegar que nada pode ser feito poderá ser um erro de dimensões colossais. E, certamente, é um erro político que Ferreira Leite arrisca-se a pagar.
3 comentários:
Caro Álvaro,
Receio bem que M.F.L. seja um deserto de ideias. O tempo o dirá. O seu ultimo artigo no Expresso do Sábado passado é aliás uma clara demonstração desse deserto.
O tempo o dirá.
Agora vou tentar-me aproveitar de si e pedir-lhe uma pequena lição de economia: - Quando se diz por exemploque o crescimento do BIP é de 1.5% estamos a falar de preços constantes ou preços correntes? É que se falarmos de preços constantes significa que de facto houve um crescimento económico de 1.5%. Isto é, que os cidadãos da região económica que registou esse aumento produziram na realidade nmais 1.5% de riqueza. O que apesar de tudo não me parece muito mau. Mesmo 1% não me parece horrivel. E se quer que lhe diga, 0% a preços constantes também me não parece horrivel. Quer apenas dizer que em determinado ano os cidadãos de determinada região económica mantiveram o nivel de riqueza do ano anterior. Portanto ser bom ou mau nessas condições depende apenas do nivel de riqueza que essa região produziu anteriormente.
Contudo se estramos a falar de valores a preços correntes então o caso muda de figura. Temos de "descontar" a inflacção para podermos comparar. Neste caso a região económica terá de ter tido um crescimento pelo menos igual à inflacção da sua região para que se possa concluir que a sociedade não terá ficado mais pobre do que no0 ano anterior.E qualquer décima que cresça acima da inflacção significa que a sociedade se tornou um pouco mais rica que no ano anterior.
Outro aspecto a ter em conta é o grau de credibilidadxe do valor da inflacção apurada. É evidente que tanto os governos como os bancos centrais têm interesse em não reconhecer taxas de inflação altas, já que o seu reconhecimento dava argumentos para elevados crescimentos da massa salarial o qie constitui por si só mais um factor de tensão inflaccionista, quer pelo lado do rendimento disponivel quer pelo lado do aumento do custo da produção. Por isso anda-me a parecer que anda muita gente a fazer mal as contas ou a considerar um cabaz que não traduz a realidade do consumo para fazer baixar os valores apurados da inflação. Não serei só eu a ter esta impressão e já nhá ex-ministros das finanças a leveitar essa suspeita.
Um abraço
António
Penso que mais vale ficar quieto que fazer pior... O dinheiro do TGV e do aeroporto poderia perfeitamente ser investido em capital humano, bem nos falta...
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