06 junho 2011

UM NOVO COMEÇO

Era importante que saísse das eleições uma maioria forte e estável e com um programa reformista. Era igualmente importante que o governo dos últimos anos perdesse em toda a linha, até para que o PS se pudesse reformar e refundar. Felizmente, as duas condições prevaleceram nas eleições de ontem. Pedro Passos Coelho venceu e venceu bem e agora cabe-lhe liderar o governo mais reformista das últimas décadas. Ou seja, agora vem o mais difícil. Os próximos tempos não serão fáceis e, por isso, é muito importante que o ímpeto reformista não esmoreça perante as enormes dificuldades que se adivinham. Aliás, é absolutamente fundamental que tal não aconteça. Porém, é também importante perceber que o sucesso de Portugal não vai depender somente do novo governo. Vai depender também de todos nós, particulares, famílias, empresas, e parceiros sociais. É fundamental trabalhar afincadamente para implementar reformas, enquanto se evitam a todo o custo conflitos sociais desnecessários (um pacto social é fundamental). É igualmente vital conseguir trabalhar em equipa para que consigamos dar a volta à difícil situação actual. Penso que vamos conseguir. Porquê? Porque acho que o próximo governo será verdadeiramente reformista e porque, francamente, não temos alternativa. Ou melhor: temos alternativa que é falharmos como país. O que, obviamente, não é alternativa. Tenho a certeza que tal não acontecerá. Foi exactamente isso que defendi no "Portugal na Hora Verdade", cujo capítulo final contém as seguintes considerações sobre um programa reformista para o nosso país:
 
"Acredito que temos em nós as soluções para os nossos males… Nesse sentido, se implementarmos as (ou algumas das) reformas [que necessitamos], se começarmos a viver dentro das possibilidades, se controlarmos o défice externo e a despesa pública, se fomentarmos o empreendedorismo nacional, se criarmos melhores incentivos à inovação e a um maior dinamismo empresarial, se melhorarmos a transparência das contas públicas, e a equidade intergeracional destas, se adaptarmos as nossas leis laborais às realidades do mundo moderno, poderemos ter a certeza de que a economia nacional sairá ainda mais fortalecida da crise actual. Acima de tudo, acredito que o importante é não ficarmos resignados com o actual estado de coisas, não baixarmos os braços e darmos os passos necessários para que nos levantemos de novo e retomemos a senda do progresso que caracterizou o último meio século do século XX. A grande crise nacional poderá assim transformar-se numa grande oportunidade para reformarmos o nosso país. … 
Não há dúvida de que a crise actual representa a maior oportunidade de reforma que o país teve nas últimas décadas. Sim, leu bem. Nas últimas décadas. A razão para tanto «optimismo» é simples: tanto a nossa economia, como nós próprios, já batemos ou estamos prestes a bater no fundo por causa da crise. Já batemos ou estamos prestes a bater no fundo da nossa auto-estima, da nossa descrença, da nossa falta de esperança, da nossa ausência de oportunidades. E, por isso, se não nos reformarmos agora, seremos decerto forçados a concordar com os mais pessimistas, que prevêem um futuro sem futuro para o nosso país. De modo que, para evitar que tal aconteça, é preciso que arregacemos as mangas e levemos a cabo o maior programa de reformas das últimas décadas. Assim, é chegada a hora de arrumar nas prateleiras da memória a ideologia oficiosa do nosso Estado, o credo do fontismo que tanto mal nos tem provocado quando não é utilizado no momento certo. É chegada a hora de acabarmos com os resquícios socializantes do período revolucionário que tanto continuam a penalizar a nossa economia. É chegada a hora de acabar com a irresponsabilidade de atirar os encargos das nossas despesas públicas para as gerações futuras e para os nossos filhos. E, acima de tudo, é chegada a hora de reformarmos de uma vez por todas o nosso Estado, que asfixia cada vez mais a nossa economia, o empreendedorismo e o próprio sector privado. 
Nos últimos anos, temos andado a viver num autêntico país de faz-de-conta, em que fingimos que tudo está bem e que não vale a pena nos preocuparmos com a alarmante baixa da natalidade, com o regresso da emigração, com a crescente fuga de cérebros, com o histórico desemprego, ou com a maior estagnação do último século. Esta é uma verdadeira estratégia de autodestruição que não só é de uma irresponsabilidade atroz, como também não nos dá nenhum futuro. Muito pelo contrário. Se há lição a retirar da turbulência económica e financeira dos últimos meses é que as irresponsabilidades se pagam muito caro e que as más políticas podem ter consequências verdadeiramente trágicas para um país.
Sair da crise não será fácil, pois serão exigidos ainda mais sacrifícios. A todos nós. Como a economia nacional já está estagnada há uma década, estes sacrifícios parecer-nos-ão ainda maiores, ainda mais injustos. Porém, a verdade é que não há alternativa a um vigoroso programa de reformas. O que está em causa não é reformar ou morrer, mas é, certamente, reformar ou declinar. Um declínio que pode ser revertido se escolhermos um outro caminho, um novo rumo. 
… 
É difícil implementar todas estas reformas e todos estes princípios? Claro que sim. Será muito difícil fazê-lo. Porém, quando as dúvidas começarem a crepitar no espírito dos reformistas, quando acontecerem os primeiros (mas inevitáveis) desaires políticos, quando o estado de graça acabar e quando as sondagens de opinião começarem a ser menos favoráveis, é absolutamente fundamental que o curso reformista não seja abandonado, sob pena de hipotecarmos o futuro do país. O mais importante, o mais fundamental, é que, nesse momento de dúvida, nesse instante de incerteza, os reformistas respirem fundo e se perguntem: qual é a alternativa? Qual é a alternativa a um programa de reformas? Qual é a alternativa a um governo responsável e com uma visão estratégica para o país? ... Como é bem patente, a alternativa está bem à vista e chama-se declínio económico e social de Portugal, chama-se emigração e desemprego, chama-se crise e recessão, chama-se falta de futuro. E, por isso, é importante que os reformistas não esmoreçam e que as reformas não deixem de ser feitas. 
Na nossa História, já demonstrámos inúmeras vezes que somos capazes de reagir às circunstâncias mais adversas, que somos capazes de nos erguer quando muitos nos julgavam perdidos, que somos capazes de nos reinventar perante as incertezas do futuro, que somos capazes de ultrapassar os Adamastores mais inultrapassáveis. Por isso, não tenho a mínima dúvida de que também seremos capazes de o fazer nesta hora da verdade, de que iremos sobreviver a esta crise e de que até poderemos emergir mais fortes das convulsões recentes. Porém, para que tal aconteça, teremos de mudar radicalmente o rumo dos últimos anos. Não temos outra opção. O preço da inacção é demasiado elevado e o preço de continuar a insistir numa trajectória de irresponsabilidade é simplesmente insustentável." ("Portugal na Hora da Verdade", Gradiva, 2011)

6 comentários:

john disse...

Caro Álvaro
Obrigado pelo seu contributo para denunciar o desastre económico das políticas socialistas.

Alvaro Santos Pereira disse...

Caro Ramiro,
Muito obrigado. Os sentimentos são mútuos. O Ramiro tem feito um notavel serviço público com o Profblog.
Abraço
Alvaro

Carlos Pereira disse...

Espero, sinceramente, que haja responsabilidade e seriedade no governo que se irá formar. Portugal não aguenta mais quatro anos de irresponsabilidade. Para bem de todos nós, desejo sucesso ao próximo governo.

Carlos

Fátima Santos disse...

Caro Alvaro,so tomei conhecimento de si quando comprei o seu ultimo livro. Eu sendo aluna de historia,devo confessar que foi a primeira vez que um livro de economia me chamou tanto a atencao como o seu,a isso se deve linguagem acessivel para compreencao da tematica exposta e defendida. Ando a seguir este seu blog,e concordo com o que diz sobre este post. Desculpe-me talvez o excesso de franqueza,mas este pais nunca saira do mesmo com a inércia do partido socialista. Um muito bem haja por todo o trabalho que tem vindo a exercer em nome do pais!

Anónimo disse...

pois é o povo tinha k votar.

mas infelizmente o povo tem a memoria curta! o Mário soares deixou o pais em que deixou, dpx António Guterres e agr Sócrates e quem é q tem k consertar tantos erros?(tenho pc mais de 20 e tal anos)
quem paga com isto?? sao as gerações mais nova e os mais idosos. os mais novos pq n conseguem arranjar trabalho etc. n venham com a lengalenga que não querem trab pq isso é td mentira, pq ja mandei milhares de CV e ate agr nenhuma resposta e aquelas que me responderam n valeu a pena la ir(so fui gastar gasoleo etc)

e a 2 questao nem vale a pena falar pq o nosso pais a nivel social esta como esta.

vão vir tempos mts difíceis p td os portugueses mas espero QUE HAJA REDISTRIBUIÇÃO DE ESFORÇOS POR TDS. CMX Pelos gestores publicos a ganhar o triplo do presidente da replubica,onde se viu?? aproveitar os dinheiros de cada cidadão p proveitos proprios mas pq??


o caso da CP deviam coloca-los tds na prisão onde se viu 1empresa dar prejuízo e comprarem carros de 56mil euros???

mas n me vou alargar mais é a triste realidd que temos.

um voto de confiança as pessoas que fazem este blog.

Anónimo disse...

Álvaro, tem preferência para algum nome para as Finanças?