17 fevereiro 2011

PERGUNTAS INQUIETANTES

Perguntas que gostaria de ver respondidas: 
i) Quanto é que nos está realmente a custar o financiamento da dívida pública a estas taxas de juros em relação ao que nos poderia custar esse mesmo financiamento se recorressemos ao FEEF e ao FMI? Valerá a pena resistir a um financiamento mais barato (se for bem negociado) só para manter o governo em funções?
ii) Sabendo que financiamento da dívida a estas taxas de juros irá dar azo a centenas de milhões de euros adicionais em pagamentos de juros, onde é que o governo vai cortar ou que impostos vai subir para conseguirmos cumprir as metas do défice orçamental? Ou será que vamos absorver mais alguns Fundos de Pensões para fingirmos que está tudo sobre controlo?

5 comentários:

Manuel Henrique Figueira disse...

A ajuda FMI/FEEF, não tem sido muito simpática para a Grécia e para a Irlanda, os juros pagos são incomportáveis e os dos mercados ainda são mais elevados do que os nossos.
Neste ponto, a capacidade de diálogo inter partes entre nós também não tem ajudado a que se tome a melhor decisão, seja ela recorrer ou não (o P. R. disse que, se recorrermos, é sinal de que o Governo falhou. Mostrou-lhe um cartão amarelo. É triste só agora notar que o governo falhou. E é só nisto que falhou? O PSD está à espera que o governo recorra para encontrar motivo para o derrubar, o governo faz de conta que está tudo bem, que por isso não irá recorrer. A capacidade de diálogo para resolver problemas, encontrar plataformas de entendimento, é quase nula entre nós. Há muitas culpas repartidas).
Eu sei que a Espanha não é o Paraíso, nem tudo lá está bem, mas mesmo assim, há diferenças substanciais. Lá têm um partido minoritário que vai a caminho de cumprir a 2.ª legislatura, numa conjuntura interna de nacionalismos e regionalismos complexa, acrescida da actual conjuntura mundial não menos complexa; vemos, portanto, como é possível fazer diferente, mesmo não vivendo nuestros hermanos propriamente no Paraíso, como disse.
Em período homólogo (pós 25A em Portugal e normalização democrática em Espanha), tiveram 6 PM e 8 ou 9 governos contra 11 PM e 17 governos entre nós.
Estes números dão-nos a dimensão da capacidade de negociar e de ceder mutuamente, primordial hoje em política, que nós estamos longe de atingir.

António Parente disse...

Caro Prof. Álvaro Santos Pereira

1) As taxas de juro do seu link são as do mercado secundário. As que o Estado paga são as do mercado primário. As últimas pagas são mais baixas do que as do seu link. O recurso ao FMI não garante uma enorme poupança de juros como o seu texto parece indiciar. A taxa de juro paga pela Irlanda é de 5,8%, por empréstimos que têm de ser reembolsados a um prazo, salvo erro, de 7 anos. Quanto à dita "negociação", ela não existe. O FMI representa os credores e como sabemos os credores não são exactamente instituições de solidariedade social sem fins lucrativos.

2) O recurso ao FMI não faz baixar as taxas do mercado secundário - veja-se o caso da Grécia onde as taxas atingiam valores de 14% há umas semanas;

3) O recurso ao FMI significa que Portugal se afasta por vários anos dos mercados de dívida pública e que o rating cai para níveis de "lixo" ou perto disso; recuperar essa credibilidade demora muitos anos e quando voltarmos nada nos garante que as taxas pagas não permaneçam altas;

4)Pensar que o FMI nos vem impor medidas de política económica que nos vão tornar num país competitivo, feliz e produtivo é um mito - ou fazemos isso por nós mesmos ou o FMI apenas vem agravar a nossa condição de país periférico e fornecedor de mão-de-obra barata para os países da europa central (a célebre emigração de que fala o Sr. Prof.; já pensou que com a liberalização das leis laborais, menos protecção social e salários baixos é racional deixar Portugal e ir para países com salários superiores e com falta de mão-de-obra como é o caso da Alemanha? Pois é, é um efeito preverso;)

5)A questão do peso dos juros da dívida pública no orçamento é pertinente com ou sem FMI; como a taxa de um eventual empréstimo do FMI não será muito diferente da do mercado secundário (embora inferior) a solução será sempre a mesma - mais impostos e menos despesa, não há como fugir a isso.

6) Há uma solução que nos permitiria compensar essa subida da despesa com juros: a renegociação das parcerias público-privadas com a passagem do risco financeiro do Estado para os privados; estranhamente não vejo os liberais lusos defenderem essa solução.

7) Esperemos pela cimeira da UE no fim de Março e pela generosidade alemã, a única que nos pode aliviar.

António Parente disse...

Caro Prof. Álvaro Santos Pereira

Não sei se ficou bem explícito no meu comentário (usei o forma verbal "futuro") mas estou convencido que o recurso ao FMI e ao FEEF é só uma questão de semanas. Seria preferível o recurso após serem conhecidas as decisões da cimeira de Março mas não sei se o Governo conseguirá resistir até lá. De qualquer modo, aproxima-se o fim da carreira política de José Sócrates.

Alvaro Santos Pereira disse...

Caro Manuel,

Boa comparaçao com a Espanha. É o tema do meu post de hoje

Obrigado

Alvaro

Alvaro Santos Pereira disse...

Caro António Parente,

Excelente comentário, aliás na linha do que já tem vindo a fazer anteriormente.

Sim, é verdade que as taxas de juros do mercado secundário não são necessariamente as que mais interessam. No entanto, e como sabe, há uma grande correlação entre as taxas dos dois mercados.

Só um esclarecimento da minha parte: eu sinceramente não acho que o FMI vem resolver o que quer que seja. Muito menos os nossos problemas de competitividade. No maximo, o FMI pode ser um conveniente bode expiatório para levar algumas reformas menos populares.
No entanto, mesmo que o "FMI" venha, penso que, como diz, será somente um balão de oxigénio por algum tempo. A nossa dívida excessiva lá continuará e terá de ser resolvida.
O seu ponto 6) é exactamente um dos temas que debato no meu livro.

Abraço

Alvaro