23 fevereiro 2011

REESTRUTURAÇÃO OU NÃO, EIS A QUESTÃO (6)

Fala-se cada vez mais abertamente sobre a possibilidade da Grécia e da Irlanda terem de reestruturar as suas dívidas, com haircuts entre 20% e 50%. Na campanha eleitoral, vários partidos sublinharam a insustentabilidade da dívida irlandesa e defenderam essa mesma reestruturação da dívida.
No Financial Times, Michael O’Sullivan, um economista irlandês, defende essa opção e afirma sem rodeios:
"A better path would see a managed restructuring, so the debt burden no longer rests just with the Irish taxpayer. Such a restructuring could include moves like an extension on debt maturity, while restructured debt could be backed by a pool of eurozone assets, or the exchange of euro bonds for Irish debt. However it is done, the aim would be to reduce the burden to the point that the repayment of outstanding debt is no longer a market concern. A plan engineered in collaboration with the European Union could also involve other troubled states, like Greece."
Num excelente artigo, Martin Wolf também defende a opção da reestruturação, e apresenta outras possibilidades:
"Apart from the Armageddon of a sovereign default, two partial escapes exist. The more trivial would be a reduction in the rate of interest on Ireland’s borrowing: a 1 per cent reduction in the rate of interest would save the state 0.4 per cent of GDP a year. That would be a small help, at least. A more valuable possibility would be a writedown of existing subordinated and senior bank debt, which currently amounts to €21.4bn (14 per cent of GDP). The ECB and the other members of the European Union have vetoed this idea, fearful of contagion. Indeed, the assistance package was partly to prevent just such an outcome. Yet the idea that taxpayers should bail out senior creditors of massively insolvent banks at such risk to the solvency of their state is both unfair and unreasonable."

Por sua vez, confirma-se que a dívida pública grega já ronda os 150% do PIB e até já o governo alemão considera que é preciso, no mínimo, uma extensão do plano de resgate atribuído a esse país. Não falta muito para que se discuta ainda mais claramente a necessidade de haver igualmente uma reestruturação da dívida helénica.
Sinceramente, e face ao que hoje sabemos, é difícil imaginar um cenário onde uma reestruturação da dívida grega não será feita. A acontecer, e como já defendi aqui várias vezes (e como O'Sullivan também advoga), seria bom que uma reestruturação das dívidas irlandesas e gregas fosse feita de forma coordenada ao nível europeu. E se tal acontecer, talvez fosse bom se nós pensássemos se valeria ou não a pena fazermos o mesmo.

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