O meu artigo no PUBLICO de hoje:
Não é difícil antever que 2008 será um ano histórico, tanto económica como politicamente. Economicamente, 2008 foi o ano em que a economia mundial sofreu dois rudes golpes. Primeiro, tivemos um choque petrolífero que ameaçou arrastar-nos para uma recessão semelhante às ocorridas em 1973 e em 1980, quando a subida vertiginosa dos preços petrolíferos originou uma quebra de produção significativa (e um correspondente aumento do desemprego) e um aumento considerável da inflação. Logo em seguida, fomos atingidos pelos efeitos da grave crise financeira americana que se espalharam como um rastilho pela economia mundial e abalaram as estruturas do sistema financeiro internacional. Quando demos conta, vimos os mercados financeiros e bolsistas em pânico, os mercados de crédito a congelar e a confiança das agentes económicos a evaporar-se. Apesar da volatilidade ainda não ter acabado, os mercados parecem estar mais estabilizados. É chegada a hora de emendar o que está mal e começar a preparar o combate contra a recessão que aí vem, uma recessão que poderá ser a maior e a mais prolongada dos últimos anos.
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O dramatismo da crise financeira foi tal que muitos chegaram a proclamar o falhanço do modelo económico vigente. Porém, afirmar que a crise financeira é o prenúncio do fim das economias de mercado ou que a crise é a prova provada dos falhanços do capitalismo é, no mínimo, errado ou enganador. Apesar de não serem frequentes, as crises financeiras são um facto recorrente das economias de mercado (e não só). O que é importante é garantir que, quando as crises ocorrem, os governos estejam preparados para actuar convicta e decisivamente para não deixar que as coisas fiquem foram de controlo. E essa é uma das lições da Grande Depressão.
Ainda assim, restam poucas dúvidas que 2008 entrará na história como um ano de viragem no pêndulo ideológico dominante nas últimas décadas. A era Thatcher-Reagan chegou ao fim. Nos próximos tempos, os gritos de privatização, desregulamentação e liberalização serão cada vez menos audíveis. Nos próximos anos, o mundo virará à esquerda tanto económica como ideologicamente. Na próxima década, os governos serão bem mais intervencionistas do que nos últimos 30 anos, a regulação da actividade económica aumentará, o proteccionismo crescerá, o recurso aos défices orçamentais tornar-se-á mais frequente (mesmo na Eurolândia), as despesas públicas aumentarão, e, consequentemente, a carga fiscal crescerá.
O dramatismo da crise financeira foi tal que muitos chegaram a proclamar o falhanço do modelo económico vigente. Porém, afirmar que a crise financeira é o prenúncio do fim das economias de mercado ou que a crise é a prova provada dos falhanços do capitalismo é, no mínimo, errado ou enganador. Apesar de não serem frequentes, as crises financeiras são um facto recorrente das economias de mercado (e não só). O que é importante é garantir que, quando as crises ocorrem, os governos estejam preparados para actuar convicta e decisivamente para não deixar que as coisas fiquem foram de controlo. E essa é uma das lições da Grande Depressão.
Ainda assim, restam poucas dúvidas que 2008 entrará na história como um ano de viragem no pêndulo ideológico dominante nas últimas décadas. A era Thatcher-Reagan chegou ao fim. Nos próximos tempos, os gritos de privatização, desregulamentação e liberalização serão cada vez menos audíveis. Nos próximos anos, o mundo virará à esquerda tanto económica como ideologicamente. Na próxima década, os governos serão bem mais intervencionistas do que nos últimos 30 anos, a regulação da actividade económica aumentará, o proteccionismo crescerá, o recurso aos défices orçamentais tornar-se-á mais frequente (mesmo na Eurolândia), as despesas públicas aumentarão, e, consequentemente, a carga fiscal crescerá.
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Quão pronunciada será esta viragem à esquerda irá depender principalmente de um factor: a gravidade da recessão que se aproxima. Quanto maior for a crise económica mundial, maior será a tentação de seguir receitas populistas e fórmulas milagrosas patrocinadas pelo Estado.
Neste contexto, outra lição a retirar da crise financeira associada à Grande Depressão é que é importante também não esquecer os erros de política económica desse período. A década de 1930 foi a época mais proteccionista dos últimos 150 anos e o resultado foi desastroso a nível económico. O mesmo poderá acontecer actualmente. Retroceder na globalização, aumentar desmesuradamente o nível de proteccionismo, e até mesmo ceder ao encantamento da regulamentação excessiva não beneficiará ninguém, a não ser determinados grupos de interesse. Independentemente do que venha a acontecer, é fundamental garantir que esta viragem ideológica seja regrada por forma a evitar que, sob um manto proteccionista e ideológico, se desbaratem os avanços económicos alcançados das últimas décadas.
Quão pronunciada será esta viragem à esquerda irá depender principalmente de um factor: a gravidade da recessão que se aproxima. Quanto maior for a crise económica mundial, maior será a tentação de seguir receitas populistas e fórmulas milagrosas patrocinadas pelo Estado.
Neste contexto, outra lição a retirar da crise financeira associada à Grande Depressão é que é importante também não esquecer os erros de política económica desse período. A década de 1930 foi a época mais proteccionista dos últimos 150 anos e o resultado foi desastroso a nível económico. O mesmo poderá acontecer actualmente. Retroceder na globalização, aumentar desmesuradamente o nível de proteccionismo, e até mesmo ceder ao encantamento da regulamentação excessiva não beneficiará ninguém, a não ser determinados grupos de interesse. Independentemente do que venha a acontecer, é fundamental garantir que esta viragem ideológica seja regrada por forma a evitar que, sob um manto proteccionista e ideológico, se desbaratem os avanços económicos alcançados das últimas décadas.
3 comentários:
Já se vêem alguns discursos altamente regulacionistas e para os quais o depoimento de Alan Greenspan caiu como um presente do céu pronto para ser multiplicado e servido aos pobres de espírito.
Parabéns pelo artigo no Journal of Economic History!
li o artigo, via pedro lains
Olá Gi,
Sem dúvida alguma. Já estou a ver o Jerónimo Martins e outros afins a citarem o Greenspan para tentar vender as suas cassetes
Alvaro
Caro Pedro,
Obrigado
Alvaro
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