03 fevereiro 2011

MORTOS OU A PAGAR DÍVIDAS

“No longo prazo estamos todos mortos” é uma das frases mais famosas da Economia. A frase foi proferida em 1936 por John Maynard Keynes, porventura o economista mais influente do século passado, e foi essencialmente uma crítica ao pensamento económico dominante na época.
A ideologia então prevalecente defendia que as crises são consequências do desenvolvimento económico e que no longo prazo tudo está de volta ao normal. Em contraste, Keynes achava que os governos não deviam esperar para actuar em situações de grave recessão ou de elevado desemprego. Por isso, nessas situações, os governos deviam aumentar as despesas públicas para estimular a procura de bens e serviços, o que, por sua vez, fomentaria a produção e o emprego.
E foi assim que, em 2008 e 2009, sob a inspiração de Keynes, os governos gastaram o que tinham e o que não tinham para evitar uma recessão. Só que, nalguns países europeus (como o nosso), tudo foi feito esquecendo um pequeno pormenor: é que as ideias de Keynes foram defendidas para um cenário onde as dívidas públicas eram bastante modestas. Uma situação muito diferente da encontrada em 2008. Foi assim que o endividamento originado pelo combate à crise internacional se juntou às elevadas dívidas já existentes e deu origem à crise da dívida europeia que nos sobressalta actualmente.
Quem pagará tudo isto? Os nossos filhos, obviamente. É que no longo prazo poderemos estar todos mortos, mas os nossos filhos cá estarão a lidar e a pagar as nossas imensas dívidas. Um legado, no mínimo, pouco simpático.

Nota: Meu artigo no Notícias Sábado, Janeiro 2011

2 comentários:

Jonh disse...

"E foi assim que, em 2008 e 2009, sob a inspiração de Keynes, os governos gastaram o que tinham e o que não tinham para evitar uma recessão. Só que, nalguns países europeus (como o nosso), tudo foi feito esquecendo um pequeno pormenor: é que as ideias de Keynes foram defendidas para um cenário onde as dívidas públicas eram bastante modestas."

Não só as dívidas eram diferentes, como o próprio económico era diferente. Na altura, uma pataca gasta servia para dar trabalho aos portugueses e comprar matérias portuguesas. Isso hoje não acontece. Muito do investimento feito pelo Estado vai directamente lá para fora. Já não falo de se considerar um bom ou mau investimento.....

PMP disse...

Keynes também partia do principio que cada país tinha a sua moeda e que o Banco Central manteria as taxas de juro baixas.

Mas a medida mais estupida anti-crise foi incentivo ao abate de automóveis importados.