Prosseguindo a análise dos dados mais recente dos dados da OCDE sobre o sector tecnológico e das tecnologias de informação e comunicação, vale a pena olhar para a percentagem do emprego tecnológico no sector empresarial ("business sector" em inglês, e que inclui tudo que não seja Estado e particulares), que é responsável por mais de dois terços do valor acrescentado dos países da OCDE.
Neste sentido, se atentarmos para o gráfico abaixo, não é dificil verificar o enorme atraso que ainda temos nesta área. Portugal é o país da OCDE que tem a percentagem mais baixa de emprego tecnológico no sector empresarial. Assinale-se que estes dados não incluem a Islândia, o México, a Nova Zelândia, a Polónia e a Turquia e, por isso, talvez a nossa posição relativa não seja tão má. Talvez até estejamos à frente dos turcos e dos mexicanos. De qualquer maneira, e mais uma vez, é fácil de ver que da propaganda à realidade vai uma grande distância.
Percentagem de emprego tecnológico no emprego do sector empresarial
Fonte: OCDE (2010), Information Technology Outlook
Quem desejar consultar estes dados pode fazê-lo aqui. |
2 comentários:
Tenho trabalhado nos últimos 10 anos em empresas de alta tecnologia, e há dois pontos que diminuem as perspectivas de empregabilidade no sector. Por um lado, as empresas têm pouca perspectiva internacional, quando os seus produtos são transaccionáveis. É uma questão de ambição e gestão. Se calhar se vivessemos no clima mais agreste a ambição (e disponibilidade para abrir novos mercados) fosse maior.
Depois, é realmente dificil encontrar pessoas competentes e com experiência.
Os dois juntos podem explicar parte do atraso do gráfico acima.
De facto, a forma voluntarista como o PM Sócrates abordou esta questão, é, no mínimo, deplorável. A política governamental tem-se feito aos arrepelões, ao ritmo do sound bite de cada momento.
Mas, mesmo que o dito Plano Tecnológico tivesse sido gizado (e posto em prática) de forma profunda, estruturada e serena, os resultados não seriam imediatos, para uma ou duas legislaturas (e aí está o busílis das práticas dos governos e das oposições).
O atraso espelhado no gráfico não é alheio ao passivo de ignorância e menorização do saber que nos tem feito companhia ao longo dos tempos, e que as estatísticas desde o último quartel do século XIX puseram sucessivamente a nu.
Senão, veja-se o paulatino aumento do investimento na educação em geral (pré e universitária) que começou a partir da década de 60, com o consequente aumento de frequência escolar (embora esse investimento tivesse sido abaixo dos valores médios dos países da OCDE até aos anos 90), e o surgimento de empresas de base tecnológica a partir dos anos 80, tais como: Chipidea; Novabase; YDreams; ALERT Life Sciences Computing; Link Consulting; SISGOG; WIT-Software; ISA- Remote Management Systems; Critical Software; Enabler; WeDO Consulting; Atitude Software (são todas portuguesas, apesar dos nomes em inglês – excepto uma ou outra, ramos nacionais de empresas internacionais).
Desenvolver as empresas e a economia a partir do SABER dá muito trabalho e demora muito tempo, só é pena que os governos não façam tudo o que lhes compete, e que a sociedade (empresários, trabalhadores e pessoas em geral) continuem em tão grande número com pouca consciência desta necessidade vital. Há ainda demasiados discursos anacrónicos do género «antigamente é que se sabia, agora não se aprende nada», que se reflectem, p. ex. na atitude de não aumentar o ordenado mínimo nacional em 15 euros. É um bom sintoma de certas mentalidades que persistem, porque a alegação da saúde das empresas esbarra nos ordenados principescos dos administradores. Enquanto que temos dos trabalhadores mais mal pagos na zona em que nos inserimos, temos dos administradores mais bem pagos.
Tenho uma expectativa enorme sobre o novo governo que aí virá, pelas críticas às políticas do actual espero que faça tudo bem feito, e ao contrário deste.
Se não fosse trágico, que divertido seria termos eleições já amanhã!
Manuel Henrique Figueira
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