Ontem no Parlamento debateu-se a avaliação dos professores. O primeiro-ministro afirmou: "Não passarei por este exercício governamental sem instituir um sistema de avaliação de professores". Esperemos que sim. No entanto, se vamos mesmo introduzir tal avaliação dos professores, temos que tomar em linha de conta os incentivos necessários. Se, de facto, a avaliação dos professores incluir o número de reporvações, não tenhamos a mínima dúvida que tal medida é um perfeito disparate. Um(a) bom(boa) professor(a) não é medido pelo número de chumbos. Se assim for, é muito fácil. Se quiser ter melhores avaliações, é só diminuir o número de alunos chumbados. Ora, tal lógica distorce todos os incentivos à qualidade educativa. Avaliação, sim senhor, mas não assim.
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Dito isto, vale a pena reterar que a avaliação dos professores é uma boa ideia. Principalmente por parte dos alunos, que deviam ter uma maior voz no processo. São os alunos os principais beneficiados e prejudicados pela má qualidade educativa. São assim os principais interessados no assunto. Aumentar a participação dos alunos no processo de avaliação dos professores faz todo o sentido, tanto a nível do ensino universitário, como do ensino secundário.
2 comentários:
Relativamente à avaliação dos professores, todo o processo é um perfeito disparate, tanto o seu conteúdo como a forma desordenada e atabalhoada e apressada como está a ser implementado.
Em primeiro lugar, sou a favor da avaliação dos professores, mas desde que seja feita de uma forma simples, objectiva e justa.
Por isso estar-se a avaliar os professores em função de 2 ou 3 aulas assistidas, das notas dos alunos em todas as disciplinas, do abandono escolar e de uma pilha de impressos que se preenchem, é estar a criar um sistema burocrático, injusto e que não produz quaisquer resultados práticos. Para além disso veja-se a diferença entre 2 professores:
Um teve a sorte de ter turmas com boas notas, de nenhum dos seus alunos ter abandonado a escola;
O outro ao invés, apanhou turmas com notas mais fracas, e teve o azar de nelas existirem alunos com elevado grau de absentismo, alguns dos quais abandonaram os estudos;
É justo dizer que o primeiro professor é melhor que o segundo? É que é assim que vai ser feita a avaliação. É justo, não é? Justíssimo.
Outro dos parâmetros de avaliação, é feita pelo coordenador do grupo disciplinar, que assiste a 2 ou 3 aulas ao longo do ano. É claro que nessas aulas dificilmente um professor terá má nota, pois irá dar a aula da melhor forma, não atenderá o telemóvel na aula, não deixará os alunos fazerem o que querem, etc.
Para além disso, como a avaliação será em princípio da responsabilidade do Coordenador de Departamento, este pode não ser do mesmo grupo disciplinar do professor avaliado, o que dificultará a vida ao avaliador, pois não estará identificado com a área disciplinar do avaliado.
Este tipo de avaliação não vai premiar os bons professores, os professores cumpridores, mas antes permitir que os maus professores, aqueles que chegam atrasados, aqueles que pouco ou nada ensinam, aqueles com os quais os alunos não aprendem nada, tenham boas classificações e possam eventualmente progredir na carreira.
Para além disso, estar a limitar-se a progressão na carreira de docentes, mesmo que estes tenham a classificação de "Excelente", por causa do número limitado de vagas, é uma atitude mesquinha que só irá provocar mau ambiente nas Escolas e que conduzirá à quebra de produtividade nas mesmas, pois trabalhando muito ou pouco, mal ou bem, o resultado é o mesmo: É quase impossível progredir!!!!
Não percebo o porquê de tudo isto, não percebo o que pretendem com isto, pois os resultados, esses, já todos sabem (excepto meia dúzia de obtusos) que não terão qualquer utilidade.
Um processo de avaliação justo, correcto e com resultados práticos seria, quanto a mim, dividido em 4 parâmetros essenciais:
As aulas seriam avaliadas no final de cada período pelos .... alunos, sim os alunos pois eles são os "clientes" e só eles sabem o que se passa dentro da sala de aula. Não é em 2 ou 3 aulas assistidas que se verifica se o professor divulga os critérios de avaliação, se atende o telemóvel na aula, se explica bem, se está seguro da matéria que lecciona, se entrega os testes a tempo e horas, etc. Esses dados só os alunos poderão dar e se estes preencherem um questionário anónimo no final de cada período, os resultados serão concerteza fiáveis.
Desde o meu 1º ano como professor, sempre solicitei no final do ano que os meus alunos me avaliassem e os resultados obtidos têm-me permitido melhorar em muitos aspectos;
O Coordenador de Grupo seria responsável por avaliar as planificações e o seu cumprimento, a realização de articulações e verificar a forma como é feita a avaliação dos alunos;
Ao Conselho Executivo caberia a função de avaliar os docentes quanto à sua assiduidade e pontualidade e na realização de actividades nos tempos não lectivos, pois é justo que aqueles que trabalham na biblioteca, gerem os clubes, desenvolvem sites e aplicações, tenham o seu trabalho reconhecido e valorizado (o que o sistema de avaliação agora introduzido não prevê);
O Coordenador de Directores de Turma teria de avaliar os DT quanto ao cumprimento das tarefas propostas, nomeadamente o registo regular de faltas, a elaboração e actualização do Projecto Curricular de Turma, entre outros.
Neste particular, poderia eventualmente considerar-se a opinião dos Encarregados de Educação sobre o modo de actuação do Director de Turma, embora esta fosse discutível.
Para além disso, as acções de formação teriam também um peso na avaliação.
Após a implementação deste sistema de avaliação e se fosse permitida a progressão de todos os docentes que obtivessem boas classificações, a qualidade do ensino iria melhorar concerteza.
Caro Àlvaro,
Aproveito para deixar uma dica: o mesmo Ministério que pretende avaliar os professores, é também aquele que promove um sistema de ensino com o minímo de exames para os alunos. Ora, o exame nacional para os alunos é simultaneamente um dos melhores instrumentos para avaliar simultaneamente o aluno e o trabalho do professor e de uma forma muito simples: vamos supor que eu tenho 4 turmas que vão a exame final. Se nas 4 turmas tiver um desnivelamento de notas de frequencia e de exmame numa percentagem considerável, há ou não matéria para inquirir o professor sobre o que se passou com o seu trabalho??
O sistema de avaliação proposto pelo Ministério é um poço sem fundo. Não existe nele qualquer factor motivador para a profissão e , mais grave que tudo, é um sistema que desconsidera de forma escandalosa a qualidade do ensino. Porque não propôs o Ministério um sistema de avaliação a ser implementado gradualmente? é que como o pretende fazer só é de esperar um resultado possível: fugas permanentes à lei e trabalho em cima do joelho. De sistema de avaliação de professores, o novo ECD só tem mesmo o nome. Está muito na moda em falar de sistemas de avaliação até para as formigas, mas estou muito ceptico da justiça da maior parte dos sistemas de avaliação implementados pelas empresas. E existe ainda um aspecto muito subtil neste ECD imposto pelo Ministério - é que ele pretende, mesmo que falsamente - colmatar as falhas de formação do sistema de ensino superior português, mas não premiando os bons, apenas considerando os mediocres.
Abraço
Rolando Almeida
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