Martim Ayres, estudante de História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem o seguinte comentário e pergunta:
"Foi me oferecido o livro "Os mitos da economia portuguesa" e gostei imenso. Os meus conhecimentos de economia são muito poucos e resumem-se ao que aprendi dentro da história e geografia e das ciências sociais e humanas. Sempre gostei de Economia, mas a minha escola secundária não a ofereceu como opção dentro da área de ciências sociais e humanas, embora a tivesse para os alunos de economia. Espero que perdoe qualquer incoerência no meu discurso. Dentro do que eu consegui entender de economia sempre gostei do conceito do estado providência. Fazia-me sentido uma economia virada para o poder de compra e o consumo. Com este livro entendo que o estado providência provoca um crescimento económico sustentado num modo de vida e não na competitividade, qualidade e inovação dos actores dessa economia.
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No entanto restaram-me algumas dúvidas. Entendo que as economias ocidentais estão totalmente baseadas no consumo de petróleo. Deve se a três planos, o da produção de energia eléctrica, o dos combustíveis para transporte e o plano da matéria prima plástica. Estes três planos sustentam a economia e é nos impossível de pensar uma economia sem a interligação entre os três. Sei que o abrandamento das economias europeias está ligado e este facto, cada vez que o preço do petróleo aumenta, estes três planos tornam-se mais dispendiosos, e a economia menos competitiva. A pergunta que faço é se será um hipotético plano de reforma total da economia, focado na substituição da produção de energia em derivados de petróleo, na substituição dos combustíveis fosseis para os transportes e na substituição do plástico como matéria prima (ou uma lei que o obrigasse a ser totalmente reciclado); ao diminuir o peso do consumo do petróleo (e logo o preço também), e ao mesmo tempo ajudando definitivamente para a redução de emissões (um plano dois em um!) não seria potencializador das economias ocidentais? Ou seja, até que ponto é que uma economia "verde", não seria mais competitiva? E em relação aos países de 3º mundo e em desenvolvimento, os novos "grandes consumidores de petróleo" com quem nos competimos agora, essa economia verde não seria uma mais valia para nós (ou a sua ausência um "handicap")? E uma essa hipotética diferenciação entre o ocidente "verde" e o resto do mundo seria positiva? Seria uma economia "verde" capaz de manter o modelo social europeu e o estado providência? É uma economia "verde" o "pesadelo" do neoliberalismo?"
Caro Martim,
Obrigado pelas suas palavras e pela sua mensagem. Será de facto a economia antagonista da economia de mercado? Será uma "economia verde" incompatível com o modelo social europeu? A resposta a estas duas perguntas é, cada vez mais, negativa. Há algumas décadas era, sem dúvida, verdade que a Economia era vista como inimiga da preservação do ambiente. Em certo sentido, isso ainda é verdade, principalmente nos países em desenvolvimento, onde as estratégias de industrialização são frequentemente penalizadoras do ambiente. Só para dar um exemplo e se estiver interessado, o New York Times tem uma série de artigos sobre o incrível crescimento da economia chinesa e as repercussões que este crescimento desenfreado tem tido sobre o meio ambiente na China (a série chama-se "Choking on growth").
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Dito isto, é cada vez mais claro que um número crescente de economistas e de empresas vêem o ambiente (a sua "economia verde") como um mercado como um potencial tremendo. Há cada vez mais empresas a investir em carros híbridos. Há cada vez mais companhias a investir em energias alternativas. Há cada vez mais empresas a fazer o marketing dos produtos "verdes". Mesmo na América do Norte (o supra-sumo das sociedades consumistas), ser-se verde é cada vez mais "cool". Ou seja, mais que um desafio, a apetência dos consumidores por produtos menos nefastos ao ambiente tem levado à introdução de novos produtos e novas tecnologias mais "verdes".
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O mesmo se passa com a procura de novas fontes de energia e com tecnologias menos nocivas e mais eficientes energeticamente. O que falta saber é se esta alteração dos hábitos de consumo e de investimento terá um impacto real sobre a sustentatibidade do meio ambiente. Em relação às alterações climáticas, a resposta é provavelmente negativa. É por isso que ainda existe espaço para o Estado intervir, quer a nível legislativo, quer a nível da introdução de incentivos que facilitem a transição para uma economia mais "verde". E é por isso que ainda existe espaço para o debate (que será aqui continuado em posts futuros).
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