George Bush está em África, com o intuito de cimentar as relações entre os Estados Unidos e o continente africano. Na agenda do presidente americano realça-se principalmente uma idea: ajuda, muita ajuda. Muitas promessas de muitas centenas de milhões de dólares. Para quê? Para auxiliar o desenvolvimento dos países africanos? Não, pelo menos não directamente. Bush pretende essencialmente reforçar a ajuda americana na luta contra o flagelo do HIV/Sida, que já matou muitos milhões de africanos(as). Milhões para o reforço das campanhas de abstinência sexual que não têm dado qualquer resultado. Milhões para o combate e profilaxia desta doença. Pelo que parece, a luta contra a malária também está na agenda. E ainda bem, porque esta doença (tal como a disinteria e a tuberculose mata mais do que a própria Sida).
No entanto, há um ponto que não está na agenda, um ponto que poderia fazer bem mais do que as largas centenas de milhões de dólares de ajuda externa que chegam a África todos os anos. Mais do que a ajuda externa (que é importante, é certo), mais do que a nossa compaixão, os africanos necessitavam que os ocidentais (os americanos, europeus e japoneses) abrissem os seus mercados aos seus produtos. Mais do que a nossa ajuda, os africanos beneficiariam muito mais se deixássemos de ser hipócritas ao prescrever o comércio livre para os outros, enquanto continuamos a proteger os nossos mercados agrícolas e dos produtos têxteis. Mais do que ajuda externa, os africanos precisavam que abrissemos as portas dos nossos mercados às suas exportações. E era principalmente isso que Bush e a União Europeia deviam ir a África discutir. A África não precisa da nossa compaixão, precisa dos nossos mercados.
3 comentários:
Nem mais.
Em relação a post anterior, boas notícias a segunda edição do seu livro já estar nas bancas. Já o vou poder obter.
Gosto imenso do blogue e acompanho quase diariamente.
Cumprimentos.
PR,
Muito obrigado pelas simpaticas palavras. Espero que tambem goste do livro. Quando o ler, se quiser mande comentarios!
Cumprimentos
Alvaro
Que África precisa dos nossos mercados é evidente. Que África precisa mais do que as nossas esmolas, de investimentos sérios no seu próprio continente, unica maneira de travar a fuga maciça de africanos para a Europa, também começa a ser evidente. Embora seja de muito dificil concretização já que a organização política de Africa foi feita contra-natura e não parece haver forma de solucionar o problema. Mas o problema mais grave e para o qual ninguém parece vislumbrar solução é que as mercadorias vindas das fragilissimas economias africanas (e não só),são transacionadas a preços incrivelmente baixos por poderosos e experientes importadores que não deixam grande margem de manobra aos negociadores desses estados.
E claro que ninguem finge ver esse problema, já que o ocidente precisa desesperadamente desses produtos a preços de miséria.(basta pensar que um Jantar para dois no centro de Paris vale o preço de uma tonelada de grão de café torrado no produtor). A miséria do terceiro mundo assegura de algum modo o nosso bem estar.
Bem estar esse que parece já ameaçado pelo crescimento de outras economias que parecem querer sair da miséria como a chinesa, fazendo com que a estabilidade do emrpego na Europa desaparecesse e que a crise social estivesse na ordem do dia.China essa que nos vai roubar África, a América do Sul e o Sudoeste Asiatico porque os seus produtos, embora de menor qualidade, são vendidos a preços muito mais acessiveis em mercados pobres que dificilmente poderão aceder aos produtos ocidentais.
Enfim, se queriamos globalização, aqui a temos com uma enorme complexidade de questões que nos pareceriam há uns anos ficção cientifica mas que vão mudar o mundo.
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