04 fevereiro 2008

COMENTÁRIOS DOS LEITORES (8)

Continuação dos comentários do Antonio:
"Imigração. Está em voga dizer que é uma mais valia. É politicamente incorrecto dizer o contrário. Não me considero nem conservador nem tenho nada contra os imigrantes. Mas tenho muitas duvidas sobre os benificios da imigração e penso que o assunto foi tratado com muita ligeireza.De que imigração se está a falar? De cérebros, tipo indianos barras em informática? Ou de ucranianos médicos e engenheiros que andam a trabalhar nas obras? Há que entender que o modelo de desenvolvimento europeu que vigorou ate aos anos setenta assentou na emigração, mas que o boom da economia europeia que o justificou, foi-se. E o que temos agora? Larguissimos milhões de europeus a viver de subsidios sociais, pondo em causa a sobrevivência do estado social enquanto se importam os novos escravos assalariados que executam as tarefas que os tais subsidiodependentes rejeitam. Não acha você, que claramente defende uma politica de incentivos correctos, que esta imigração só existe porque os europeus andam a receber incentivos errados para ficarem em casa e deixarem para os imigrantes as tarefas mais "aviltantes"? Mas isso não vai resolver o problema porque os filhos desses imigrantes não vão querer desempenhar essas tarefas originando assim um circulo vicioso. Por isso eu chamo a esses imigrantes algo politicamente incorrecto: escravos assalariados.Mas sejamos claros, nenhuma sociedade equlibrada pode viver sem o Sr.Isidro que nos serve de manhã a bica e o croissant, sem a Dona Quitéria que nos vende o jornal no quiosque, sem a loira que nos corta o cabelo mensalmente,sem o taxista, o camionista, o carteiro, o empregado de mesa, a caixa do supermercado, o padeiro, o pasteleiro, o sr. José do talho e a D.Maria da peixaria. E que dizer da imprescindivel da D.Bia que vai lá a casa às 3as feiras e me deixa tudo a brilhar e as camisas impecáveis? Será que de futuro queremos que estas profissões "vergonhosas" sejam só desempenhadas por imigrantes enquanto andamos a descontar para que muitos dos nossos compatriotas andem confortávelmente encostados ao subsidio de desemprego? Será isto uma politica sustentável? Será que os incentivos que o Estado Social Europeu criou com tantos subsidios não estrá profundamente errado? E isto prende-se com a política de educação. Quer-se à viva força que toda a rapaziada chegue pelo menos ao 12º ano. Mesmo aqueles que manifestamente não o querem e que não se esforçam. Isso custa muito a um país. Faz-se um esforço enorme para que todos cheguem ao 12º ano. E o que irá acontecer de futuro? Teremos falta de pedreiros, de empregados de mesa, de taxistas e de padeiros e teremos de continuar a importar imigrantes para essas tarefas "menos dignas". Mas o que ´será ainda mais grave é que para que todos completem o 12º ano torna-se necessário baixar os patamares de exigência nas escolas. Isto é, abre-se as portas à mediocridade. E isso obviamente não é um factor de estimulo para os mais aptos e interessados. Por isso as nossas faculdades estão a abarrotar de alunos que deviam ter ficado pelo caminho e que irão ser futuros desempregados. Mas que talvez pudessem ser excelentes empregados de mesa. Ou pintores, carpinteiros etc. Por isso salvo raras excepções a excelência está ausente do nosso ensino. E consequentemente da nossa investigação. Talvez por isso a própria Alemanha esteja a importar em tão grande quantidade cerebros da India. Porque está tão preocupada em criar futuros desempregados no seu próprio país que acaba também por ter necessidade de importar elites. E também turcos para varrerem as ruas. Eu não tenho certezas de nada excepto que não tem havido coragem para olhar para estes assuntos de frente. Da mesma forma que durante décadas, quando´era já visivel que as seguranças sociais dos países europeus estavam insustentáveis se continuaram a conceder benesses perfeitamente impossiveis de cobrir num futuro próximo. E só há muito pouco tempo esse assunto deixou de ser tabu. Levantei estas questões porque foi você a levantá-las no seu livro. E porque acho que pessoas como você têm obrigação de levantar questões incómodas."
O que nos dizem os estudos económicos e sociais sobre a questão da imigração é que, habitualmente, a mesma é complementar aos trabalhadores nacionais. Isto é, os imigrantes não vêm para substituir o Sr.Isidro, a Dona Quitéria, ou a loira-que-nos-corta-o-cabelo-mensalmente. Pelo contrário, quase sempre, a imigração acontece em conjugação com esses mesmos trabalhadores. Neste sentido, o Sr. Isidro contrata um brasileiro para trabalhar consigo, a loira-que-nos-corta-o-cabelo-mensalmente arranja uma ucraniana para a ajudar, etc, etc. O problema é que a Europa tem quase sempre tratado os imigrantes como trabalho temporário e não como uma das soluções para os seus problemas produtividade e de fertilidade. E assim criam-se mais problemas sociais e os imigrantes não se integram nas nossas sociedades.
"Lembro-me também da questão de Espanha. É claro que Espanha não é um papão. Por mim nuestros hermanos são muito benvindos. Mas não sejamos ingénuos. Quando a Ford Volkswagen investe em Portugal, tem por base critérios puramente económicos. Previsões de rentabilidade, dado o custo da mão de obra, custo de infraestruturas, benesses concedidas pelo governo português etc. Já o investimento espanhol tem um caracter diferente.Muito mais estratégico.A Espanha, muito naturalmente, tende ser a potência hegemónica da Peninsula.E com toda a justeza e mérito. A Espanha tem tido uma evolução invejável. Já passou a Itália. E quer passar a França. E nós somos o páteo das traseiras. Uma especie de saguão. Basta ler o El País e verificar que se passam semanas sem que haja uma referência a Portugal. Basta lembrar-nos que Espanha só terminou as suas ligações para Portugal por autoestrada muitos anos depois de ter ficado ligada à Europa. Mas que não se culpe a Espanha. Quando muito deve-se ao nosso demérito.Por isso a Prisa, a EDP, a Banca, as herdades no Alentejo e os prédios na Avenida da Liberdade.Para finalizar este namoro e já que ainda estamos longe de aterrar na Portela onde muito provavelmente nos espera um passeio de autocarro à boa maneira portuguesa, (mesmo com as mangas do aeroporto vazias), lembro-me de você ter falado na questão da produtividade. Parece-me que na generalidade em Portugal muito poucos ainda assimilaram as três vertentes do aumento de produtividade. Produzir mais quantidade e melhor qualidade a melhor preço e sobretudo com melhor imagem. Lembremo-nos apenas que para aumentar o valor acrescentado dos nossos sapatos basta carimbá-los com "made in Italy". E parece-me que Portugal não tem associada a si qualquer imagem de qualidade. Nem sequer no sector que tem tido enorme dinamismo nos ultimos anos entre nós. Os vinhos portugueses escasseiam nos escaparates das lojas por esse mundo fora e muitas vezes encontram-se nas zonas sombrias dessas lojas. E vale a pena comprar bons vinhos portugueses em Toronto ou no Luxemburgo, pois dada a falta de imagem de qualidade são vendidos bem mais baratos nesses países do que em Portugal.E digaq-se de passagem que fiquei um pouco assustado pois acabeu de beber excelentes tintos austriacos.Até na Austria se estão a produzir excelentes tintos. Estamos a começar a descer e os meus ouvidos já começam na zumbir. Mas acho que ainda vou ter tempo de lhe falar no Algarve. Por errada opção da minha vida encontro-me a viver no Algarve e vejo com enorme desgosto que insistimos numa polílica de contrução desmesurada destinada a trazer o inglês de tatuagens e Tshirt sem alças que põe as patas na cadeira da frente quado se senta. Será impossivel nesse sector tão importante aumentar a produtividade porque cada vez mais as unidades irão vender-se a preços de saldo para ocupar as camas vazias. Claro que há excepções. Honrosas excepções. Mas a regra é investir nos carroceiros. Ignora-se ainda um aspecto. É que o bom não se gosta de misturar com os carroceiros. Enfim."
Caro António, mais uma vez o meu obrigado por levantar questões tão pertinentes e importantes. Quanto à Espanha, o que eu queria alertar é que a invasão espanhola não se tem concretizado. Muito pelo contrário. Os números hoje aqui revelados só confirmam esse facto mais uma vez. Não podia concordar mais consigo no que diz respeito à produtividade. Nomeadamente, é sem dúvida vital "Produzir mais quantidade e melhor qualidade a melhor preço e sobretudo com melhor imagem". Em relação ao Algarve, penso que tem toda a razão. O potencial do Algarve continua a ser desperdiçado por esta política de construção turística desenfreada. O Algarve teria tudo a ganhar se tentasse atrair outros sectores para desenvolver a sua economia. Aliás, como foi referido no Mitos. Estes temas continuarão a ser debatidos no blog.

1 comentário:

NL disse...

Comento só para pedir que, a favor da legibildade do texto introduza espaços entre os principais parágrafos do texto. Apesar do post ser interessante torna-se cansativo de ler.

E deixo aqui os meus sinceros parabéns pelo blog.