26 fevereiro 2008

O CONHECIMENTOS DOS ALUNOS

O Rolando Almeida assina um interessantíssimo texto de opinião no De Rerum Natura sobre a falta de aptidão e de preparação dos nossos alunos em relação à ciência. Concordo inteiramente o que o Rolando diz, que é certamente extensível ao ensino superior.
Mesmo assim, é importante desmitificar a noção que este é um fenómeno português, que só os nossos alunos é que estão mal preparados para as questões científicas. Eu já leccionei milhares de alunos(as) tanto na Inglaterra como no Canadá e quase sempre fiquei estupefacto com a ignorância dos(as) alunos(as) sobre as questões científicas. Para os(as) testar, eu pergunto sempre uma coisa que devia ser da mais básica instrução de um(a) aluno(a): há quantos anos são
os humanos uma espécie distinta dos outros primatas?
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Nunca canso de me surpreender com as respostas. Invariavelmente, alguns alunos respondem com os bíblicos 6 mil anos, que não chegam sequer para cobrir o tempo em que os nossos antepassados começaram a cultivar os campos da Mesopotâmia. Outros(as) alunos(as) dizem 50 mil, outros 100 mil anos. Alguns arriscam 500 mil anos, mas é raro, raríssimo mesmo, ter alunos(as) que respondam 6 milhões ou 7 milhões de anos.
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Repito: Não estou a falar de Portugal, mas do Canadá e da Inglaterra. Os meus alunos(as) são predominantemente de Economia, mas tenho muitos(as) de Gestão, de Ciência Política, de Comunicação Social, de Estudos Internacionais, Sociologia, Antropologia, etc, etc. Ou seja, o fenómeno de alunos(as) mal preparados a nível científico não é um exclusivo nacional. É uma das infelizes tendências que têm surgido no mundo ocidental nas últimas décadas. E é algo que deve ser mudado o mais urgentemente possível.

2 comentários:

Rolando Almeida disse...

Caro Álvaro,
É verdade o que diz e tem conhecimento directo para o afirmar. Essa realidade é descrita já em Um mundo Infestado de demónios de Carl Sagan, um livro que tem uns anitos em cima, mas que denuncia a situação nos EUA. Claro está que todos os países têm os seus problemas com o ensino e é certo que me falta o distanciamento tão útil para uma reflexão mais isenta, menos apaeixonada (é que eu vivo o ensino público Português todos os dias por dentro), mas existem alguns aspectos centrais da actuação política educativa que se agravam em Portugal sem que se crie ampla discussão pública sobre o assunto. Por exemplo, a desvalorização crescente de conteúdos dos programas de ensino constitui um ataque silencioso ao conhecimento e ao saber. Não esqueçamos episódios como aquele que, para a disciplina de português, pretendia substituir literatura por regras do concurso do Big Brother. Existem dezenas de exemplos destes. Se um conteúdo ou disciplina é mais exigente, pura e simplesmente acaba-se com ela. Basta olhar para os currículos do ensino e perceber que andam cheios de horas de áreas de projecto, informática, etc... Mas, faça-se justiça, recentemente aumentaram as horas de secundário para biologia e outra disciplina, salvo erro, física. Mas o meu texto pretende ir mais longe e, por essa razão, pedi que fosse publicado num blog de cientistas: pretende alertar a comunidade científica e universitária para o problema. O caso da filosofia é aterrador: os universitários pura e simplesmente não sabem oque se passa no secundário. Isto não faz sentido quando os universitários estão todos os anos a perder alunos para os cursos de filosofia.
Obrigado pelo comentário
Abraço
Rolando Almeida

Alvaro Santos Pereira disse...

Obrigado Rolando. Tem toda a razão. E esta é só mais um motivo para ler o seu excelente blog sobre o ensino sencundário.
O livro do Sagan é, sem dúvida, óptimo, mesmo hoje, passados tantos anos.

Abraço

Alvaro