17 abril 2009

COMENTÁRIOS AO "MEDO DO INSUCESSO"

Nos próximos dias irei publicar comentários e críticas dos leitores ao "Medo do Insucesso Nacional", tentando responder o melhor possível. Começo hoje com os comentários de Rolando Almeida, filósofo, professor e autor do blogue A Filosofia no Ensino Secundário:
"Como a economia não é a minha área tenho maiores dificuldades em encontrar falhas no teu livro, mas confesso que não foi para isso que o li, para encontrar falhas. Li-o sobretudo porque gostei do Mitos e da forma fresca e lúcida como aborda o nosso país. E Medo tem também essa força. Fecho o livro em cada capítulo que leio e pergunto: porque não? De resto existem ali ideias que tenho defendido, ainda que sem a visão da economia. Isto faz-me lembrar o ambiente que se instalou nas escolas aquando das primeiras directrizes para a avaliação dos professores. De repente todos os professores falavam que ia ser tramado já que todos iam fazer a vida negra a vida uns dos outros. Foram muitas as vezes que perguntei aos colegas, mesmo aos mais velhos:”mas por que razão tem de ser assim?”. É que tal atitude nem nada a ver com a avaliação em si, mas com o espírito com que as pessoas encaram as novidades e os novos desafios. O que mais observei nessas curtas conversas é o conservadorismo, e, agora posso dizê-lo, o medo do insucesso nacional. Ainda ontem disse a uma colega uma coisa e ela reagiu com choque e desaprovação completa. Disse algo tão simples como: “os principais responsáveis pelo insucesso educativo é dos professores.” Disse-o dentro da escola e por momentos ela esqueceu que eu também sou professor do ensino secundário desde os meus 21 anos (e já tenho 35). Bom, mas vamos aqui a uns comentários avulsos:
Na p. 208, apresenta uma comparação dos salários dos juízes. Só uma nota: em relação ao salário médio do país, é verdade que os juízes portugueses ganham muito mais que os seus congéneres de outros países. Acontece que o salário médio português deve ser muito mais baixo que os seus congéneres, de modo que se explica essa distância. É verdade que a disparidade existe. Mas serão os juízes que estão a auferir salários altos ou os restantes que auferem salários muito baixos? Ou seja, o problema não é o que os juízes ganham, mas o preço do salário médio. Mas posso estar a ver mal a coisa.
Fiquei também com algumas dúvidas em relação ao que diz dos políticos. Segundo lembro, defende que o privado paga melhor e os melhores preferem trabalhar para o privado do que enveredarem pela política, já que os salários são pouco competitivos. Eu não vejo isso assim. E não vejo em primeiro lugar porque ser político em Portugal significa ter um poder de influência demasiado grande e poder beneficiar empresas (em que os políticos ou familiares são sócios), para além de que, se não estou em erro, ao fim de 2 mandatos um governante tem direito a uma reforma vitalícia. Isto é, de modo pouco transparente, ser político em Portugal compensa e muito. Não se esqueça que no próprio livro defende a tese que um dos problemas de Portugal é ter Estado a mais. Já agora, por curiosidade, o filósofo inglês Stuart Mill tem uma obra importantíssima , Sobre a Liberdade, em que já defende o Estado Minímo. Mais recente, Robert Nozick defende uma ideia interessante, a do estado minímo, no seu State, Utopia and Anarchy.
Mais adiante defende duas teses que podem soar algo inconsistentes. Vamos ver: 1) Defende (e parece-me, que bem) a reorganização do espaço geográfico escolar. 2) Defende a descentralização do país de Lisboa e Porto.
Ora, do ponto de vista da economia 1) é essencial, mas do ponto de vista social 1) pode constituir o primeiro entrave a 2) No primeiro capitulo, por que razão a entrada de mais países na EU seria positiva para Portugal? Creio que isto ficou por explicar.
CONCLUSÃO: é importante que as teses que defende no livro entrem no espaço público. A publicação do livro é já a manifestação dessa vontade. Espero que as pessoas se apercebam do real impacto que algumas das suas teses podem ter para o país e que se discutam essas teses.
De resto, tenho a dar-lhe uma palavra de agradecimento profundo por ter escrito este livro. Aprendi muita, mas mesmo muita coisa com ele e, sobretudo, é um livro que me deixa a discutir os problemas e esse é talvez o desejo maior de qualquer autor e investigador."
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Obrigado Rolando pelos comentários e sugestões. Aqui vão as minhas respostas:
a) salários dos juízes. É verdade que os nossos salários médios não são dos mais altos da Europa (os nossos salários são médios na UE27, ie., baixos em relação aos país mais ricos, mas altos comparados à maioria dos países da Europa de Leste). No entanto, os salários dos nossos juízes são altos tanto em termos relativos, como absolutos. Não são tão altos como no Reino Unido e a Irlanda, mas são mais elevados do que na grande maioria dos países, França e Alemanha incluídas. Por isso, são altos.
b) salários dos juízes. É verdade que os políticos têm outras "compensações". Porém, se estas existem são, pelo menos, em parte justificadas exactamente pelos baixos salários relativos que os políticos auferem. Se os salários fossem mais elevados, muitos políticos não seriam tentados a arranjarem remunerações suplementares. Claro que nada disto justifica a corrupção que existe (e que será um dos temas do meu próximo livro). E, principalmente, claro que o combate deve ser feito por todos os meios, inclusivamente através de legislação que aumente a transparência dos cargos públicos. Também concordo que é preciso regulamentar melhor
c) concordo que a descentralização da Educação ficou por explicar. Tal será feito tanto aqui no blogue como no próximo livro
d) a minha defesa da entrada de mais países para a UE é irónica. É simplesmente uma forma de dizer que, a continuar no ritmo de crescimento dos últimos 10 anos, só nos resta esperar que mais e mais países entrem na União se não quisermos ficar na "cauda da Europa".
Obrigado.

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