20 abril 2009

O EURO E PORTUGAL

Já aqui falámos várias vezes do impacto que o euro teve em Portugal. Recentemente, li um artigo da autoria de Alan Ahearne e de Jean Pisani-Ferry do think tank Bruegel, que contrasta a experiência dos vários países da Eurolândia, dando revelância à taxa de câmbio real e à evolução das exportações. Segundo os autores, e como é bem conhecido, Portugal e a Itália foram os países que mais sofreram perdas de competitividade com a adesão ao euro. Porquê? Por dois motivos. Primeito, porque os preços em Portugal e na Itália cresceram muito mais rapidamente do que nos outros países da Eurolândia, tornando os nossos produtos menos atractivos. Assim, a taxa de câmbio real portuguesa (e italiana) apreciou-se em quase 15% desde 1999. Segundo, porque Portugal e a Itália ainda não transformaram as suas estruturas produtivas, sofrendo, assim, mais com a concorrência de países como a China. E, finalmente, por causa das irresponsabilidades da política fiscal do final dos anos 1990. Mais concretamente, os autores apontam o dedo aos anos 1995 a 1999, quando a política orçamental portuguesa se expandiu em vez de se ter tentado preparar para o impacto do euro. Conclusão: a expansão da procura interna no final dos anos 1990 (devido à descida das taxas de juro e do aumento das despesas do Estado) deram azo ao aumento do nível dos preços, que, por sua vez, afectou seriamente a competitividade da economia portuguesa (pois as nossas exportações se tornaram menos atractivas devido à subida dos preços nacionais). Segundo os autores, o preço que iremos pagar é um período prolongado de "desinflação competitiva", que só acabará quando os nossos principais sectores produtivos aumentarem a sua eficiência e produtividade, e quando os aumentos dos preços (e salários) internos forem menos significativos em relação ao resto da Europa.

5 comentários:

Rui Fonseca disse...

Se me permite não comentarei hoje a questão objecto deste post mas uma outra que é também analisada de forma destacada no seu livro "O Medo do Insucesso Nacional": a produtividade.

Trata-se de um tema a que dedico de vez em quando alguns apontamentos no meu caderno
http://aliastu.blogspot.com

Destaco da sua obra (pag. 31): "O grande problema de produtividade da economia nacional regista-se no sector dos serviços, tanto no Estado como no sector privado.

Também penso assim.

Acontece que o relatório do INE publicado recentemente aponta para resultados totalmente divergentes daquilo que é a percepção comum.

Analisei esses dados no post
"Logros e Paradoxos", em
http://aliastu.blogspot.com/2009/04/produtividade-e-emprego.html que não transcrevo aqui para não abusar do espaço.

Se for tão paciente que possa passar por lá e comentar ficaria muito grato.

Rui Fonseca disse...

Volto hoje para, em complemento do que referi ontem, comentar a parte do parágrafo deste seu post, que trancrevo:

"...um período prolongado de "desinflação competitiva", que só acabará quando os nossos principais sectores produtivos aumentarem a sua eficiência e produtividade,..."

O que entende por "principais sectores produtivos"?

Quando se fala de falta de produtividade da economia portuguesa é frequente apontarem-se défices na educação e na justiça como os grandes culpados do marasmo da produtividade da economia portuguesa. Em que medida é que "o aumento da produtividade e eficiência dos sectores produtivos" depende daqueles factores de sustentação?

Eu também subscrevo o diagnóstico de que sem mais educação e mais justiça não sairemos da cepa torta. Mas tenho dúvidas que, satisfeitos aqueles requisitos, e não se sabe quando isso acontecerá, voltaremos a ter níveis de competitividade que coloquem a economia portuguesa nos eixos.

Do meu ponto de vista, para além de educar e julgar melhor, temos de construir um enquadramento económico e social onde os sectores produtores de bens e serviços transaccionáveis deixem de estar a ser sugados pelos sectores monopolistas de facto.

O euro tem muito poucas culpas no cartório das nossas dificuldades actuais, se é que tem algumas.

As desvalorizações competitivas pagam-se mais tarde ou mais cedo com língua de palmo. Não soubemos adaptar-nos à convivência com uma moeda estável. Se por imposição do descalabro financeiro do Estado fôssemos obrigados a abandonar o euro (e não sei como é que isso se poderia fazer), a produtividade não aumentaria e a competitividade viveria uns fugazes meses de Sol mais quente. Resultado: Passado pouco tempo estaríamos pior que dantes.

E, mais tarde, não estaríamos na União Europeia. Porque eu não sei o que pode (poderia) ser uma União Europeia onde cada membro fosse livre de manobrar as suas moedas ao sabor das suas dificuldades orçamentais.

Também não sei como é que podemos "dar com os pés em Bruxelas" a propósito do défice. Só dá quem pode, e eu não penso que possamos. Mas ainda que mandássemos temporariamente o défice às urtigas fazendo uns manguitos à Comissão da UE, há uma cosa que dificilmente podemos fazer: dar com os pés nos credores.

Porque é aí que está o busilis do problema: Em princípio posso endividar-me indefinitamente desde que alguém me vá indefinitamente emprestando; o diabo é que esse alguém não existe.

Rui Fonseca disse...

Por favor leia "indefinidamente" e não o que está lá .

Portugal Azevedo disse...

Alvaro
Chamo a atenção para a valorização do euro (nos ultimos tempos)em relação às moedas dos paises do leste europeu e que já aderiram à União Europeia. Se no passado os erros foram enormes parece que não estamos muito atentos ao presente.

antonio disse...

Caro Álvaro

Mais boas noticias! E quando é que os nossos principais sectores produtivos vão aumentar a sua eficiencia e produtividade? Quem esta a fazer um esforço serio nesse sentido? Pelos vistos não vai ser tao cedo que as coisas vfao melhorar. Mas eu nao quero sr pessimista.


Abraço

Antonio