MU _ Logo no início do livro, começa por dizer que «o pessimismo é uma das indústrias mais bem sucedidas em Portugal». Esta é uma característica exclusivamente portuguesa?
Não, aliás nós pensamos que somos os maiores pessimistas do mundo e não somos. Há países que são bem mais pessimistas que nós. Já vivi em Inglaterra e no Canadá e acredito que, por exemplo, os ingleses são extremamente pessimistas. A diferença é que, apesar de serem pessimistas, tentam lutar contra esse pessimismo.
MU _ O insucesso escolar pode ser uma consequência do pessimismo? Acho que não. Acho que o insucesso escolar se deve única e exclusivamente a uma má gestão do nosso sistema educativo. Fiquei chocado quando me deparei com as estatisticas. Apenas 30 a 35 por cento dos nossos jovens hoje acaba o secundário, sem chegar à universidade. O que nós podemos fazer é dar mais autonomia às universidades, flexibilizar o sistema, permitir que os alunos possam escolher um curso mais geral e a partir do segundo ano decidir o que querem fazer. Eu fiz o curso cá, mas sempre leccionei no estrangeiro e é uma atitude muito diferente. Acho que é essa atitude e essa flexibilidade que existe nesses países que se tem que incutir cá. Por exemplo, sou contra aquela ideia do ‘professor doutor’ que tem a chave do conhecimento. Esse tipo de atitude é completamente anacrónica nos dias de hoje. É importante que o estudante tenha uma voz na avaliação dos professores, principalmente no ensino universitário, e que exija mais qualidade aos professores.
MU _ Como é que se pode lutar contra o pessimismo?
Primeiro, pensar e darmo-nos conta que temos um percurso histórico que é extremamente rico e com muito sucesso. Há 40 anos anos atrás era normal ver pessoas na rua com o pé descalço mesmo em Lisboa. Portugal é hoje um país transformado. Temos empresários e pessoas com muitíssimo sucesso e pensar que estamos condenados ao fracasso não nos leva a lado nenhum. Depois, é preciso aplicar as políticas necessárias para levar à recondução económica do país. Mas também criando incentivos fiscais e ao empreendedorismo, que façam com que as pessoas tenham menos medo de arriscar e que constituam as suas empresas.
MU _ Enquanto professor nota que esse pessimismo também atinge os estudantes?
Acho que o grande medo da maior parte dos estudantes universitários é o de não conseguir arranjar emprego. E com boa razão. Neste momento, há duas hipóteses se não conseguirmos arranjar emprego: uma delas é pensar em mais estudos, apostar num mestrado ou num doutoramento. A outra possibilidade é sermos um bocadinho mais móveis e tentar arranjar emprego fora de Portugal. Pode ser uma estratégia que resulte e ganham-se conhecimentos importantes para quando se regresse a Portugal. É natural que haja algum receio entre os jovens, mas não acho que os jovens sejam pessimistas como os mais velhos são. O melhor é não ficar parado à espera que as oportunidades nos caiam nas mãos e actuar. Isso também é ser jovem.
MU _ Apostar no empreendedorismo criando um plano de negócio pode ser uma solução?
Sem dúvida. Aliás, um dos exemplos que dou no livro que acho um caso admirável, é a história de Carlos Oliveira, um empreendedor bracarense, que aos 22 anos quando estava a acabar o seu curso decidiu juntar-se com um professor e com dois empresários e formaram uma empresa na área das telecomunicações e tornou-se um dos maiores casos de sucesso nacional nos últimos anos. Acho que são os jovens universitários que nos fazem acreditar que Portugal poderá ter futuro. Acredito mesmo que eles são uma das peças-chave de Portugal.
2 comentários:
Estas respostas, sobre algumas partes do livro, são muito importantes, dado que nos dão um impacto para quem não o fez, a ler o livro. Mas essencialmente para conseguirmos perceber, que temos problemas, que somos pessimistas, que a Educação vai mal, mas que ainda temos saídas, e são essas saídas que estão apontadas no livro e até nestas respostas que vão ou não??? fazer a dierença, entre ganharmos o amanhã ou ficarmos derrotados à espera que alguem o faça por nos!!!
Não sei se sabe, Álvaro, que foi citado esta semana no Prós e Contras por Eduardo Catroga.
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