24 janeiro 2011

ESTABILIDADE A TODO O CUSTO?

Agora que as eleições presidenciais já estão resolvidas, é importante começar a pensar no futuro. Cavaco Silva ganhou e ganhou bem. Apesar da abstenção e dos inacreditáveis problemas relacionados com o cartão do cidadão, Cavaco Silva acabou por ficar 33 pontos percentuais acima do segundo candidato mais votado, uma diferença de tal modo significativa que não merece qualquer contestação. Tentar reduzir o sucesso eleitoral de Cavaco Silva por causa da abstenção não faz qualquer sentido. Por isso, Cavaco Silva só pode estar satisfeito com a sua reeleição. E tem bons motivos para isso.
Dito isto, também me parece evidente que grande parte do eleitorado de Cavaco Silva espera que o Presidente seja bem mais interventivo no seu segundo mandato. A partir de agora, não bastam avisos mais ou menos explícitos sobre a situação do país ou recados ao parlamento ou ao governo. É preciso actuar. A partir de agora, é preciso que o Presidente não deixe que a situação económica do país se deteriore ainda mais.
Acima de tudo, é importante perceber que a estabilidade política não é um fim em si mesmo. Neste sentido, vale a pena lembrar que a dívida externa bruta do país já ultrapassou os 410 mil milhões de euros (mais de 240% do PIB), e a dívida pública nacional em 2011 será a mais elevada dos últimos 160 anos. E todos nós sabemos (ou devíamos saber) quem são os principais responsáveis por termos chegado a esta situação.
A verdade é que não interessa preservar a estabilidade a todo o custo, quando a irresponsabilidade e a incompetência dos nossos governantes não dão mostras de abrandar (basta lembrar que a execução orçamental em 2009 e em 2010 foi desastrosa, as obras do TGV continuam, as empresas públicas continuam a endividar-se em mais de 3 mil milhões de euros ao ano...) Uma irresponsabilidade e uma incompetência que nos descredibilizam aos olhos do mundo e que condenam os nossos filhos a um futuro cheio de dívidas e a um país sem oportunidades.
Pouco importa promover estabilidade política a todo o custo quando a incompetência e a irresponsabilidade estão a conduzir o país para um abismo financeiro que irá marcar inexoravelmente os governos vindouros e as próximas gerações. Pouco interessa defender a estabilidade política a todo o custo quando a incúria dos últimos anos ameaça levar o país à insolvência.  Pouco importa fomentar a estabilidade política a todo o custo quando a taxa de desemprego é a maior dos últimos 80 anos e continua a aumentar. Pouco interessa manter a estabilidade política a todo o custo quando vivemos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 150 anos e os nossos jovens já não vêem o nosso país como um destino viável. Pouca importa zelar pela estabilidade política a todo o custo quando vivemos num cenário de produtividade zero e o PIB potencial cresce à módica taxa de 0% ao ano. Pouco interessa apoiar a estabilidade política a todo o custo quando há 600 mil portugueses sem emprego, 300 mil desempregados de longa duração, e há dezenas de milhares trabalhadores desencorajados que nem sequer constam ou contam para os números do desemprego. Pouco importa defensar a estabilidade política a todo o custo quando a factura a pagar pelos eleitores são as políticas falhadas dos últimos anos, um despesismo atroz e milhares de milhões de euros de juros adicionais devido à nossa dívida pública explosiva.
Entre a estabilidade política e a competência e a responsabilidade, a escolha é simples. É que já são muitos anos de irresponsabilidade e de incompetência. Não são uns meses adicionais de governação nem sequer a ameaça da chegada do FMI ou o recurso ao FEEF que irão alterar isso. Bem pelo contrário.

2 comentários:

Contra.facção disse...

Claro!
Pouco importa defender a estabilidade política (que vamos tendo), que só tem servido para a instabilidade social.
Importa é defender a estabilidade individual e colectiva, de um país que vais caindo na depressão, por causa da recessão, que a estabilidade política nos trouxe.
Mas não vejo que a estabilidade política, na área da Presidência, acrescente algo, se não interferir na estabilidade política governamental.
Um dilema, que o actual PR não resolve, racional e politicamente, ou se o fizer será por "vingança" sentimental...

Anónimo disse...

23%??? Então o alegre nem aos 20 chegou e o Cavaco ganho com mais de 50.
Essa conta é de um assessor governamental, a matemática é das novas oportunidades ou é a dislexia que fez ler ao contrário e trocar 23 com 32?