Aqui está um excerto da entrevista que concedi há uns meses à revista da Ordem dos Engenheiros
1 - Um estudo do FMI recentemente divulgado (26 Outubro) revelou que Portugal foi o 3.º país do mundo que menos cresceu nos últimos 10 anos, seguido da Itália e do Haiti, posicionado no fim da lista. Os primeiros lugares pertencem à Guiné Equatorial, Angola, China e Índia… como pode esta tendência ser contrariada?
Esta tendência pode ser invertida acabando com as más políticas dos últimos anos e acabando com o modelo de desenvolvimento (baseado no investimento público e numa “política de betão”) que temos vindo sido a seguir. A prioridade tem de ser dada ao sector privado e à criatividade nacional, apostando numa verdadeira política de promoção das exportações e implementando medidas que poderão fomentar o crescimento da produtividade.
2 - A economia europeia está a ganhar força, sobretudo a alemã (crescimento previsto de 3,4% para 2011). O PIB português foi revisto no segundo trimestre de 0,2% para 0,3%. Porque é que Portugal cresce por décimas? É suficiente? Prevê que continue a crescer?
Portugal cresce pouco porque a produtividade está quase estagnada, e porque o nosso excessivo endividamento penaliza o consumo e o investimento. As exportações têm dado mostras de um notável dinamismo, mas que não é suficiente para inverter o actual estado de coisas.
Claro que crescer umas poucas décimas não é suficiente, até porque, a estas taxas há mais destruição de emprego do que criação de emprego.
Sim, penso que nos próximos 2-3 anos, o crescimento manter-se-á muito modesto.
3 - Perante o desenvolvimento das economias da China e Índia, com níveis de produção elevados e a baixo custo, assentes não já em mão-de-obra pouco qualificada, mas em recursos humanos tendencialmente mais qualificados, que lugar fica reservado à Europa, nomeadamente a países como Portugal?
Há muitos sectores e muitas indústrias onde a Europa e Portugal se podem especializar. O que é muito claro é que os nossos salários baixos já não são suficientes para tornar as nossas exportações competitivas. Por isso, temos que continuar a apostar em sector mais inovadores e com maior valor acrescentado.
4 - Qual o(s) grande(s) problema registado na nossa economia, nos últimos 20 anos? Competitividade? Porquê?
A competitividade e o endividamento (público e privado). A competitividade porque não fomos capazes de atenuar significativamente o nosso défice externo crónico. Bem pelo contrário. Na última década, vários sectores nacionais (como os têxteis e calçado) tiveram que enfrentar com uma concorrência mais acérrima por parte de países como a China e a Europa de Leste, o que desferiu um rude golpe nas suas quotas nos mercados internacionais.
Os nossos problemas de competitividade têm assim contribuído para o crescimento do endividamento externo, que já atingiu níveis verdadeiramente históricos e poucos sustentáveis.
5 - Que soluções preconiza para resolver esses mesmos problemas? Exportar? Cortar na despesa? Poupança? Reformas estruturais? Faz-se poupança quando a economia cresce; as reformas levam muito tempo; a nossa dependência externa é muito elevada…
Sim, precisamos de apostar mais nas exportações e no apoio aos exportadores para podermos reduzir o nosso défice externo. E sim, precisamos de fomentar a poupança interna, para que não estejamos tão dependentes do financiamento do exterior, que nos coloca numa situação de vulnerabilidade, como agora estamos a ver. Precisamos também de tentar importar menos.
É verdade que estas coisas levam tempo e a dependência externa é elevada. No entanto, estas coisas têm de ser feitas, pois não há volta a dar. Não temos outro remédio se não fazê-lo, sob pena de o nosso declínio relativo se transformar num empobrecimento absoluto.
6 - Tendo em conta a realidade actual, sair do euro seria uma “solução” a perspectivar?
Não. Seria um erro enorme, pois teria custos políticos e económicos substanciais. Uma saída do euro só agravaria ainda mais a nossa situação económica, pelo menos a curto prazo. Para além do mais, nós estamos demasiado endividados para podermos equacionar uma saída do euro. Só quando a nossa dívida externa baixar é que podemos pensar, se quisermos, em tal hipótese.
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