Para quem ainda teima em atribuir a crise nacional à crise financeira internacional, aqui estão dois gráficos que mostram bem que os nossos problemas começaram bem antes de 2008. O primeiro gráfico apresenta a evolução da dívida externa líquida (posição líquida internacional) desde 1990. É notório que a nossa dívida externa era bastante reduzida até 1995, mas começou a subir a partir dos meados dos anos 1990. Uma subida que foi sistemática e quase linear. Obviamente, nada ou pouco foi feito para tentar travar esta espiral de endividamento explosiva que nos conduziu à situação actual.
Dívida externa líquida em percentagem do PIB, 1990-2010
Fonte: Banco de Portugal, FMI, Mateus (1998)
O segundo gráfico é retirado da base de dados da Comissão Europeia, a AMECO, e apresenta os dados do crescimento do PIB potencial da economia portuguesa (que mede o produto que um país produz com os recursos ao seu dispor). Como é visível, o crescimento da economia portuguesa já era bastante baixo (e a declinar) bem antes da crise internacional. Por outras palavras, a crise nacional é estrutural e a crise internacional só a agravou. Porém, a tendência de estagnação e de desempenho económico sofrível é bem mais antiga. Mais uma vez, só não vê quem não quer ou, então, só deseja ilibar os governos dos últimos anos por não terem actuado devidamente para tentar debelar a crise. É tão simples como isso.
Crescimento do PIB potencial, 1980-2010
Fonte: AMECO
4 comentários:
Estes números falam por si próprios. Por isso ninguém poderá discordar.
Porém, gostaria de acrescentar que é importante analisar, ano a ano, ou Governo por Governo, as causas desta evolução do PIB.
Gosto especialmente do 2º gráfico. O PIB Potencial reduziu-se muito a partir de 1989. Este gráfico mostra que os dinheiros da CEE foram mal aplicados, não foram aproveitados para aumentar a produtividade. O problema financeiro de Portugal vem já muito de trás, e tem como base a falta de tecido produtivo e de uma estrutura económica saudável. O PIB potencial é um indicador importante para avaliar a saúde da Economia, e traduz o potencial de crescimento num cenário de utilização ótima dos recursos disponíveis.
Caro Alvaro:Palavras para quê? Só um cego não vê.Mas sente.
Infelizmente muitos ficaram cegos pela "demissão" da contestação à loucura a troco de "migalhas do bolo do Poder".mesmo que o resultado sejam só pós de migalhas.
Ali ao lado, as crises não são portuguesas.E poucos já olham para nós como "pessoas de bem", "povo de desafios".
Boa Páscoa
Ainda esta semana Miguel Relvas, veio a público esclarecer que importa definir um ponto de partida e outro de chegada de forma a inverter o rumo actual, sendo este blog e um outro que importa recordar; http://semiramis.weblog.com.pt, elementos para “memória futura”, do muito certo que agora se diz sobre a realidade portuguesa.
Contudo, como (modesto) contributo para esse “ponto de partida”, e sem que se cometa qualquer inconfidência, pois já lá vão mais de 10 anos, já no último consolado do engº António Guterres, num dos Gabinetes de Estudos de um dos partidos tidos agora como do “arco da governação” – ex- Bloco Central, o diagnóstico estava feito, o ponto de partida era conhecido “grosso modo”, isto apesar do controle da informação de quem estava no poder.
No meio de alguns gags cómicos proporcionados pelo engº António Guterres, como por exemplo, a alteração da “Lei do Álcool”, discutia-se nos meandros desse Gabinete de Estudos, de que a situação era já delicada e; “bastava uma variação de 1% à partida para que o lugar de chegada fosse ao fim de 4 anos muito distante do suposto ponto de chegada”.
Racionalizações de despesas, méritocracia, emagrecimento da máquina do estado,...., eram algumas certezas obrigatórias de forma a inverter o rumo do pântano.
No entanto estando ainda em funções o “bloco central”, o partido vencedor ao invés de trilhar o caminho obrigatório e menos fácil, deixou-se cair nas “soluções” mais fáceis, sendo a máquina governativa presa fácil desse mesmo “bloco central”. A situação era de tal forma, que Durão Barroso seguiu o seu caminho, e “nós” o nosso.
Programas eleitorais ainda não são conhecidos, mas é claro, de um passado recente, tudo nos merece reservas.
A
Rui
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