Nas próximas semanas, vamos ouvir falar até à exaustão das importantes negociações que vamos ter com o Fundo Monetário Internacional (o FMI), com o Banco Central Europeu (BCE) e com a Comissão Europeia. Porém, como todos sabemos, os nossos contactos com o FMI e com as restantes instituições não ficarão por aqui. Bem pelo contrário. Como o FMI e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) nos vão emprestar qualquer coisa como 80 mil milhões de euros (quase 50% do PIB nacional), é natural que eles não nos queiram ver pelas costas tão cedo. Afinal, eles têm todo o interesse que o dinheiro lhes seja devolvido a tempo e horas.
Tudo se passa como acontece com as famílias (ou as empresas) endividadas. Se as dívidas são demasiado elevadas, as famílias tentarão primeiro arranjar melhores e mais empregos para ver se conseguem obter mais rendimentos para pagar as suas dívidas. Se tal não for possível ou se as dívidas forem demasiado grandes, as famílias poderão tentar recorrer a ainda mais créditos para pagar as dívidas existentes. Só que nessa altura, se o endividamento for demasiado grande, os bancos já só emprestarão a taxas mais elevadas ou até se poderão recusar a emprestar mais dinheiro. O que poderá fazer com que as famílias recorram a agiotas ou a instituições de crédito menos formais para poderem aceder aos créditos desejados. Tudo feito com taxas de juros ainda mais altas.
E é assim que dívidas excessivas facilmente se podem tornar insustentáveis, e as famílias podem ser forçadas a vender os seus activos (carros, casas, etc). Numa situação extrema, as famílias podem ser obrigadas a declarar bancarrota. A mesma lógica aplica-se com os países endividados. A diferença é que os países não costumam ser invadidos se não pagarem as suas dívidas, enquanto as famílias e as empresas podem ser sujeitos a mecanismos de coação judiciais.
E é aqui que entra o FMI. No fundo, o FMI é uma espécie de um banco de última instância, que empresta dinheiro aos países que já não conseguem crédito de mais ninguém. O FMI fá-lo, mas com condições, que por vezes são muito severas para os países que pedem ajuda. Porquê? Porque o FMI quer recuperar o dinheiro emprestado e, para isso, pretende que as dívidas dos países sejam abatidas e que o crescimento económico seja reatado. As condições impostas são assim uma maneira de o FMI tentar garantir que os países recuperem para que possam, o mais brevemente possível, pagar o dinheiro que pediram emprestado.
Nota: Artigo da minha coluna "Macroeconomia Divertida" do último Notícias Sábado
1 comentário:
Dr. Álvaro Santos Pereira,
Até que ponto podemos nós sair beneficiados tecnicamente da solução aplicada anteriormente na Irlanda e na Grécia? Tendo por base as condições exigidas como garantia pelo empréstimo e pela ideia de a Europa querer que sejamos definitivamente o último país a ser "contagiado".
Tiago Duarte
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