Às vezes ouvimos dizer que nos últimos anos andámos a viver acima das nossas possibilidades. Isto é, andámos a consumir acima dos nossos rendimentos o que fez com que nos endividássemos a ritmos pouco saudáveis, conduzindo-nos à situação actual. Noutra ocasião, já aqui apresentei alguns dados comparativos do consumo nacional com outros países europeus. Hoje aqui fica mais um gráfico que mostra a evolução do consumo privado em percentagem do PIB nas últimas 2 décadas em Portugal, na Espanha e na UE27. Repare-se que estamos só a falar de consumo privado, isto é, das famílias e não do Estado. No entanto, e como podemos ver, é perfeitamente visível que Portugal tem, de facto, andado a consumir uma percentagem do seu PIB bastante superior em relação à média europeia e até à própria Espanha.
É igualmente notório que, na última década, a crise económica não fez refrear o nosso ímpeto consumista, pois o consumo privado em percentagem do PIB subiu quase continuamente de 2003 em diante. Mais concretamente, o consumo manteve-se elevado enquanto o PIB estagnou, de modo que a importância relativa do consumo privado aumentou, assim como cresceram as nossas dívidas.
Nos próximos anos, podemos estar certos que esta nefasta tendência não irá continuar. Aliás, o mais provável é que o consumo em percentagem do PIB diminua nos próximos anos. Porquê? Porque o pagamento das nossas dívidas excessivas e a necessária correcção da política económica assim o ditarão. Não há alternativa.
Consumo privado em % do PIB, 1993-2010
Fonte: AMECO
3 comentários:
Isto é um pesadelo! Portugal se fosse uma empresa à muito que estaria encerrada e os credores apenas a comprarem o recheio pelo preço base!
Como estes dados nunca são ou serão apresentados nos MEDIA, é de louvar a sua coragem e mostrar a realidade nua e crua.
Ficamos impressionados com a entrada para o EURO, pensando que o filão nunca mais acabavam, mas o impensável chegou, a torneira dos milhões de euros para o desenvolvimento fechou, e desbaratamos uma soma muito elevada de dinheiro, em infraestruturas que não servem para nada, e que não ajudarão a desenvolver a economia Portuguesa.
Julgo que também a faltou cultura económica por parte dos Portugueses, e englobo toda a gente (governantes, empresários, famílias) tem a sua grande quota parte de culpa. Por estes dias convêm lembrar a história da "formiga e da cigarra".
Ou seja: temos andado a viver como os ricos sem o sermos, porque compramos os mesmos produtos que os outros, aos mesmos preços, mas como somos mais pobres isso custa-nos relativamente muito mais.
A pergunta que faço é: pondo de parte os desempregados, estaremos dispostos a gastar menos e a prescindir de parte do que consumimos? E de que parte?
Sejamos claros: podemos não comprar sapatos nos próximos três anos, mas quereremos passar sem tv cabo, internet e telemóvel?
E a pergunta final: teremos escolha?
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