12 abril 2011

FEEF-FMI EM PORTUGAL



O Diário Económico perguntou a minha opinião sobre algumas consequências do recurso ao FEEF-FMI para a nossa economia. Aqui estão as minhas respostas:  

DIÁRIO ECONÓMICO: Apesar de ainda se saber pouco sobre os detalhes do pacote de ajuda do FEEF a Portugal, o que podem os portugueses esperar em termos de impostos, salários e pensões?
Penso que tudo vai depender da auditoria que irá ser feita e que nos vai dizer qual é o verdadeiro buraco das contas públicas portuguesas, bem como de todas as outras responsabilidades do sector estatal, incluindo as empresas públicas. No entanto, e mesmo tendo em linha de conta esta incerteza, é muito natural que alguns impostos sejam agravados e que as pensões acima de 1000-1500 euros sejam afectadas. Espero que não seja necessário um novo corte salarial, mas tudo vai depender do verdadeiro estado das finanças estatais.

DIÁRIO ECONÓMICO: E ao nível do investimento e da poupança, há o risco de os certificados de Aforro e do Tesouro serem congelados ou sujeitos a novas uma alteração de regras?
É possível. Essa é uma decisão que terá de ser tomada pelo novo governo. No entanto, parece-me evidente que, nos próximos tempos, iremos assistir a um aumento dos incentivos ao aforro das família e das empresas, visto que a subida da poupança é essencial para diminuir as necessidades de financiamento da economia portuguesa.

DIÁRIO ECONÓMICO: Quais as vantagens que o país poderá vir a retirar desta decisão? E quais as consequências mais severas de recorrer ao FEEF e ao FMI?
A principal vantagem de um recurso ao FEEF e ao FMI é ter a garantia de que algumas reformas que estão a ser adiadas há muitos anos (se não mesmo décadas) irão mesmo para a frente. A reforma laboral vai mesmo avançar e as empresas públicas tornar-se-ão mais eficientes e mais conscientes das suas dívidas e défices. Penso ainda que uma “vinda” do FMI poderá acabar por ser útil ao próximo governo, pois algumas medidas impopulares podem ser tomadas com a desculpa de que foi o FMI que nos obrigou a tomá-las. As consequências mais severas têm a ver com os custos reputacionais (que, de qualquer maneira, já eram muito altos), bem como com alguma perda de autonomia da política económica e da política fiscal. Mais precisamente, há medidas que deveriam ser implementadas para estimular a competitividade das nossas exportações e que agora não sei se será possível fazê-lo.

DIÁRIO ECONÓMICO: Qual será o impacto que a solicitação de ajuda externo terá no sector financeiro? Pode dizer-se que o FEEF foi a salvação dos bancos portugueses?

O recurso ao FEEF vai ser importante para ajudar a recapitalizar os bancos nacionais, e, deste modo, vai ser igualmente fundamental para conseguirmos melhorar o financiamento da economia nacional. As restrições de crédito estão a fazer-se sentir em muitos sectores da nossa economia, e se não tivéssemos recorrido ao FEEF, provavelmente as coisas só tenderiam a agravar-se. Por isso, faz todo o sentido que o tivéssemos feito. Foi só pena que não o fizemos há mais tempo, pois poderíamos ter evitado o desnecessário agravamento do financiamento da economia nacional que ocorreu nos últimos meses.

2 comentários:

Anónimo disse...

E porque é que ninguém toca na Justiça?
Parece-me que a justiça é um ponto fundamental para a competitividade.

Por exemplo: http://aeiou.expresso.pt/a-justica-da-finlandia=f642456

Como é que Portugal pode competir com a Finlândia se em vez de 58 dias tem de esperar 2 anos e meio (em média) por uma decisão?

Rolando Almeida disse...

Caro Anónimo,
Atrevo-me a responder: os livros do Alvaro tratam esse tema de forma muito clara, a saber, de que modo o atraso na justiça contribui de forma negativa para o avanço da economia.