O Presidente da República manifestou-se hoje chocado ("impressionado) com a ignorância e o alheamento dos jovens em relação às comemorações do 25 de Abril. Eu até acho bem que o Presidente da República faça esse alerta e esse apelo à participação dos jovens na nossa democracia. No entanto, antes de o fazer, interessa perceber as causas dessa falta de participação dos jovens. Há duas grandes razões para tal atitude:
Por um lado, a apatia dos jovens deve-se à própria natureza das democracias. A luta pelos grandes ideais e principíos é mais premente nas ditaduras. Numa ditadura, a prioridade é lutar pela democracia e pela liberdade. Nas ditaduras há menor probabilidade de haver "gerações rascas" (ou seja, desinteressadas) porque o que está em causa é demasiado vital. Quando a democracia chega e é consolidada, a luta por esses grandes ideais já não se justifica (pelo menos no país em causa). É certo que é preciso preservar a liberdade e a memória, mas as ideologias são menos importantes, menos fundamentais no dia-a-dia. Deste modo, as gerações mais novas não sentem necessidade de se revoltar contra o regime nem de agitar as águas, como acontece nas ditaduras. E ainda bem que assim é. Mesmo que os críticos estejam certos e os jovens das democracias sejam mais fúteis (o que não é certamente linear), é porque podem. As futilidades são o luxo de quem não se tem que preocupar com coisas mais importantes, como sejam a liberdade e a democracia.
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Por outro lado, o pouco interesse demonstrado pelos jovens em relação ao 25 de Abril deve-se também em grande parte aos próprios políticos. Por razões históricas, o 25 de Abril foi durante anos apropriado pela esquerda mais militante e ignorado pela direita. O 25 de Abril nunca foi uma verdadeira festa da democracia que envolva todos os sectores da sociedade. O 25 de Abril devia ser o verdadeiro dia de Portugal, o dia mais importante do nosso país. Mas não é. E não o é, porque damos demasiada importância à ideologia (p. ex. , "às causas dos trabalhadores") em vez de nos preocuparmos em explicar aos jovens quais são as diferenças entre as democracias e as ditaduras.
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Sou de uma geração que não se lembra de ter vivido em ditadura. Sinceramente, não me sinto mais ou menos rasca por isso. Penso que as gerações mais jovens também sentem o mesmo. E se os mais jovens não participam mais na política ou na democracia é porque os incentivos a tal participação não existem ou são fracos. Se quisermos alterar este estado de coisas, há que alterar o sistema de incentivos. E aí os políticos deviam dar o exemplo, mostrando o quão nobre essa actividade devia ser. E isto, certamente, não é mesmo linear. Pelo menos nos tempos que correm.
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