10 janeiro 2011

A GRANDE DESCONFIANÇA

Agora que estamos prestes a pedir ajuda financeira ao FMI e aos nossos parceiros europeus (através do FEEF), vale a pena perguntar: Por que é que os mercados e os "malvados dos especuladores" não acreditam em nós? Por que é que eles não acreditam na palavra do primeiro-ministro ou dos outros membros do governo? Porque após o descalabro associado à (inexistente) execução orçamental do primeiro semestre deste ano (e em 2009), simplesmente o governo não tem qualquer resquício de credibilidade perante os mercados ou perante os nossos parceiros europeus. Ou seja, o problema que enfrentamos não se restringe à crise da dívida europeia (um fenómeno que, como sabemos, atingiu vários países europeus), mas é também um grave problema de credibilidade das autoridades económicas portuguesas. E quando não há credibilidade, não há mercado ou "especulador" que acredite que o governo vá ser capaz de dar a volta aos profundos desequilíbrios das nossas contas públicas ou à grave estagnação económica da última década.
Se não acredita, vale a pena atentar para os dados no quadro abaixo, retirados do site da entidade do Estado responsável pela emissão e pela gestão da nossa dívida pública, o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP). Segundo o IGCP, a dívida pública portuguesa aumentou cerca de 15 mil milhões de euros em 2009 e cerca de outros 15 mil milhões de euros em 2010 (até Novembro desse ano). Algo como 9% do PIB em ambos os anos. Como podemos ver, é, de facto, verdade que nos últimos meses a dívida pública directa do Estado estabilizou em valores a rondar os 147 mil mihões de euros. No entanto, tal não aconteceu nos primeiros meses de 2010. Só entre 1 de Janeiro e 31 de Julho de 2010 a dívida pública portuguesa aumentou 13,5 mil milhões de euros, isto é, mais de 8 pontos percentuais do PIB nacional. 
As verdadeiras causas da derrapagem orçamental no primeiro semestre de 2010 ainda estão por contar, mas convém recordar que a medíocre execução orçamental da primeira metade de 2010 aconteceu apesar da implementação de um pacote de austeridade em Maio do ano passado. Com austeridade ou sem austeridade, a verdade é que Portugal foi único país da Zona Euro onde a despesa pública aumentou no primeiro semestre de 2010, um facto que foi fatal para a credibilidade do nosso país e cuja pesada factura receberemos muito em breve.


Stock da dívida pública portuguesa, valores mensais, Janeiro 2009- Novembro 2010


 
EURO milhões
31-Jan-09 28-Fev-09 31-Mar-09 30-Abr-09 31-Mai-09 30-Jun-09
Dívida Total  117,837  119,576  121,777  124,655  125,303  130,102
31-Jul-09 31-Ago-09 30-Set-09 31-Out-09 30-Nov-09 31-Dez-09
Dívida Total  128,730  129,627  128,220  129,776  130,234  132,746
31-Jan-10 28-Fev-10 31-Mar-10 30-Abr-10 31-Mai-10 30-Jun-10
Dívida Total  133,744  135,131  135,929  139,947  140,287  142,614
31-Jul-10 31-Ago-10 30-Set-10 31-Out-10 30-Nov-10
Dívida Total  146,209  146,993  147,747  147,959  147,726
 
Fonte: IGCP
 
 
F
Foonte: 
 

3 comentários:

Anónimo disse...

http://plocking.wordpress.com/2011/01/07/sobre-a-execucao-orcamental/

Anónimo disse...

http://plocking.wordpress.com/2011/01/07/sobre-a-execucao-orcamental/

Guillaume Tell disse...

Eu aposto que daqui a pouco, o Governo vai dizer que não consegue, conseguiu, conseguirá etc. "respeitar os seus compromissos porque apesar dos esforços, o país tem de pagar mais de juros, que aumentaram devido à especulação". blabla.