Agora que estamos prestes a pedir ajuda financeira ao FMI e aos nossos parceiros europeus (através do FEEF), vale a pena perguntar: Por que é que os mercados e os "malvados dos especuladores" não acreditam em nós? Por que é que eles não acreditam na palavra do primeiro-ministro ou dos outros membros do governo? Porque após o descalabro associado à (inexistente) execução orçamental do primeiro semestre deste ano (e em 2009), simplesmente o governo não tem qualquer resquício de credibilidade perante os mercados ou perante os nossos parceiros europeus. Ou seja, o problema que enfrentamos não se restringe à crise da dívida europeia (um fenómeno que, como sabemos, atingiu vários países europeus), mas é também um grave problema de credibilidade das autoridades económicas portuguesas. E quando não há credibilidade, não há mercado ou "especulador" que acredite que o governo vá ser capaz de dar a volta aos profundos desequilíbrios das nossas contas públicas ou à grave estagnação económica da última década.
Se não acredita, vale a pena atentar para os dados no quadro abaixo, retirados do site da entidade do Estado responsável pela emissão e pela gestão da nossa dívida pública, o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP). Segundo o IGCP, a dívida pública portuguesa aumentou cerca de 15 mil milhões de euros em 2009 e cerca de outros 15 mil milhões de euros em 2010 (até Novembro desse ano). Algo como 9% do PIB em ambos os anos. Como podemos ver, é, de facto, verdade que nos últimos meses a dívida pública directa do Estado estabilizou em valores a rondar os 147 mil mihões de euros. No entanto, tal não aconteceu nos primeiros meses de 2010. Só entre 1 de Janeiro e 31 de Julho de 2010 a dívida pública portuguesa aumentou 13,5 mil milhões de euros, isto é, mais de 8 pontos percentuais do PIB nacional.
As verdadeiras causas da derrapagem orçamental no primeiro semestre de 2010 ainda estão por contar, mas convém recordar que a medíocre execução orçamental da primeira metade de 2010 aconteceu apesar da implementação de um pacote de austeridade em Maio do ano passado. Com austeridade ou sem austeridade, a verdade é que Portugal foi único país da Zona Euro onde a despesa pública aumentou no primeiro semestre de 2010, um facto que foi fatal para a credibilidade do nosso país e cuja pesada factura receberemos muito em breve.
Stock da dívida pública portuguesa, valores mensais, Janeiro 2009- Novembro 2010
EURO milhões | ||||||
31-Jan-09 | 28-Fev-09 | 31-Mar-09 | 30-Abr-09 | 31-Mai-09 | 30-Jun-09 | |
Dívida Total | 117,837 | 119,576 | 121,777 | 124,655 | 125,303 | 130,102 |
31-Jul-09 | 31-Ago-09 | 30-Set-09 | 31-Out-09 | 30-Nov-09 | 31-Dez-09 | |
Dívida Total | 128,730 | 129,627 | 128,220 | 129,776 | 130,234 | 132,746 |
31-Jan-10 | 28-Fev-10 | 31-Mar-10 | 30-Abr-10 | 31-Mai-10 | 30-Jun-10 | |
Dívida Total | 133,744 | 135,131 | 135,929 | 139,947 | 140,287 | 142,614 |
31-Jul-10 | 31-Ago-10 | 30-Set-10 | 31-Out-10 | 30-Nov-10 | ||
Dívida Total | 146,209 | 146,993 | 147,747 | 147,959 | 147,726 |
3 comentários:
http://plocking.wordpress.com/2011/01/07/sobre-a-execucao-orcamental/
http://plocking.wordpress.com/2011/01/07/sobre-a-execucao-orcamental/
Eu aposto que daqui a pouco, o Governo vai dizer que não consegue, conseguiu, conseguirá etc. "respeitar os seus compromissos porque apesar dos esforços, o país tem de pagar mais de juros, que aumentaram devido à especulação". blabla.
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