26 abril 2008

POBREZA MUNDIAL (4)

Se o mundo está cada vez mais desigual (devido ao crescimento económico) o que é que podemos fazer para diminuir a pobreza mundial?
Primeiro, os países subdesenvolvidos têm que melhorar os seus governos e respectivas políticas económicas. Uma das maiores lições dos últimos 200 anos é que é não há receitas mágicas para o desenvolvimento. De facto, é muito mais fácil destruir do que construir uma economia. Destruir é simples. Se um governo imprimir dinheiro desmesuradamente, deixar sobrevalorizar excessivamente a moeda nacional, criar défices excessivos, deixar crescer a dívida pública de forma desmedida, ou se fomentar a corrupção, então os incentivos dos agentes económicos serão distorcidos e o crescimento económico morrerá. Por outro lado, construir uma economia é muito mais difícil. Contudo, políticas macroeconómicas estáveis e responsáveis, conjuntamente com o estabelecimento de instituições que protejam os direitos de propriedade são importantes pré-condições para o desenvolvimento económico.
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Em segundo lugar, é crucial que depois de um período mais proteccionista, a estratégia de desenvolvimento privilegie o comércio com o exterior, como o exemplo das economias asiáticas bem demonstra. Finalmente, é imperioso que as economias subdesenvolvidas diminuam o grau de corrupção existente em muitos desses países. A corrupção é extremamente penalizadora para o desenvolvimento económico não só porque muitos importantes recursos são desviados para fins duvidosos, mas também porque os incentivos à produção são distorcidos. De facto, muitos países subdesenvolvidos nunca poderão aspirar a uma melhoria significativa das suas populações enquanto não diminuírem esse cancro das economias chamado corrupção.
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Porém, a eliminação da pobreza deverá ser alcançada não só com políticas internas, mas também através do auxílio dos países desenvolvidos e organizações internacionais. O que podemos então fazer para ajudar?
Primeiro, é preciso darmos conta que a ajuda externa deverá ser utilizada principalmente para emergências. Se os elementos fundamentais de uma economia não estiverem correctos, então não há ajuda externa que valha. Segundo, contrariamente a muitas correntes de opinião, reduzir o crescimento populacional não é suficiente para os países se desenvolverem. De facto, quase sempre é o crescimento económico que conduz a um decréscimo do crescimento populacional, e não ao contrário. Terceiro, o perdão da dívida externa dos países subdesenvolvidos não contribuirá para a eliminação da pobreza se esse perdão for utilizado para fins que não sejam o do desenvolvimento. Se a dívida externa for perdoada a um governo corrupto, quais são as garantias que temos que os pobres desse país irão beneficiar da nossa generosidade? Porque deverão os nossos contribuintes financiar governos corruptos? Deste modo, tanto a ajuda externa como o perdão de dívidas deverão ser somente atribuídos a governos que demonstrem que estão genuinamente interessados em eliminar a pobreza nos seus povos.
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Finalmente, os países desenvolvidos deveriam abrir mais os seus mercados aos países subdesenvolvidos. Atrás de uma retórica de protecção de “sectores sensíveis”, a UE, os EUA e Japão têm sistematicamente encerrado os seus mercados aos produtos mais exportados pelos países subdesenvolvidos. Ora, se quisermos realmente ajudar diminuir a pobreza a nível mundial, a abertura dos mercados tem que ser bidireccional e não ter apenas um sentido.
Em suma, a pobreza de mais de dois terços da humanidade é o problema mais premente que a economia mundial enfrenta actualmente. Existem muitos obstáculos ao desenvolvimento económico de muitas regiões, tais como guerras, o flagelo da SIDA, e corrupção endémica. Porém, a nível do desenvolvimento económico, o recente sucesso da China e da Índia dão-nos a esperança de que no futuro é mesmo possível termos um mundo melhor e eliminarmos a pobreza das nações.

2 comentários:

Gi disse...

Só um detalhe: quando estive na Índia há um ano e meio as pessoas diziam-me que agora têm menos filhos, que estão atentas ao controle populacional, e que só nos meios rurais é que as famílias ainda têm uma dúzia de filhos.

Julgo que ter muitos filhos é uma necessidade das sociedades que não têm esquemas de segurança social: os pais precisam de assegurar que alguém tratará deles quando forem velhos (nem sempre resulta..)

Alvaro Santos Pereira disse...

Olá Gi

Sem dúvida. Nas sociedades rurais, os filhos funcionam tanto como um factor produtivo (pois quantos mais melhor para a produção agrícola), como protecção social. Quando as sociedades se desenvolvem e, principalmente, se urbanizam, os pais deixam de ter necessidade de ter muitos filhos, porque estes já não são precisos para lavrar e cuidar das terras. Para além do mais, nas sociedades industrializadas, o tempo é mais "escasso" e mais "valioso", e por isso, habitualmente, os pais preferem ter menos filhos do que nas sociedades rurais