26 março 2008

PARAR A HISTERIA

Aqui está um excelente artigo, da autoria de Robert J. Samuelson, sobre a actual crise financeira actual e como, por enquanto, a crise é mais fumo do que fogo.
Já tínhamos alertado para isto mesmo no blogue há umas semanas atrás sobre o Mito da GRANDE Crise:
"Há uma aura de incerteza e até um certo pânico a pairar sobre a economia mundial. Os mercados continuam nervosos e nem mesmo a maior descida das taxas de juro americanas dos últimos 25 anos parece ter acalmado os ânimos. A nível nacional, os receios com a crise financeira também se fazem sentir. Por exemplo, Fernando Ulrich, presidente do BPI, alertou que esta é a crise mais séria da sua vida profissional. Não, não estava a falar sobre a crise da economia nacional, mas sim sobre a crise financeira mundial. É mais um aviso, desta vez interno, do quão grave e danosa pode ser a crise dos mercados financeiros mundiais. Os sinais de crise sucedem-se quase diariamente. Em parte, sem dúvida que muito do que se vê e ouve nas notícias é especulação. Afinal, é sabido os media gostam de empolar as coisas. No entanto, há sintomas preocupantes em vários quadrantes das economias ocidentais (principalmente a americana). É a contracção do crédito. É o rebentar da bolha especulativa do mercado imobiliário. É o défice orçamental desmesurado. É uma administração americana fundamentalista que só tem uma receita para combater as crises (os cortes de impostos). É a Europa que não emerge decisivamente da crise. É o Japão ainda praticamente estagnado. É o preço do petróleo a atingir valores nunca dantes vistos.
Parecem assim estar reunidos todos os ingredientes para uma crise grave e com contornos globais. Pelo menos é nesse sentido que os mercados estão a reagir. Ora, será que a crise se irá mesmo materializar? Ninguém tem a certeza. Nem mesmo o poderoso Ben Bernake. Um abrandamento é inevitável e, pelo que parece, uma recessão também. O que resta saber é quão longa, quão extensa e quão profunda será esta recessão. Por um lado, estamos, sem dúvida alguma, mais bem preparados para combater uma recessão global do que nos anos 70 (quando o preço do petróleo triplicou em poucos meses). Por outro lado, a economia mundial também está bem mais integrada do que então, o que quer dizer que um choque numa economia como a americana terá maior impacto e maiores ramificações. No entanto, temos que levar em linha de conta um factor que não existia nos anos 70, que é a entrada da China e de outros importantes países subdesenvolvidos no processo do crescimento económico internacional. Nunca os países subdesenvolvidos cresceram tanto como actualmente e nunca a economia mundial esteve tão dependente destes países. Pelo menos na era moderna.
Por isso, apesar dos sinais de alarme se repetirem um pouco por todo o mundo ocidental, não carreguemos já no botão de pânico à espera da maior recessão mundial desde os deprimentes anos 30. Ainda não estamos lá (bem longe disso) e é provável que lá não cheguemos. Nem que não seja porque actualmente estamos muito mais bem equipados para lidar com este tipo de ameaças. Os bancos centrais sabem melhor como actuar (veja-se a decisão da Fed que surpreendeu os mercados), os governos não têm receio de usar políticas económicas agressivas, e os agentes económicos podem diversificar e investir os seus portfolios noutros mercados e economias. Por isso, manter a calma é a melhor estratégia. Pelo menos por agora. Pode ser que as coisas descambem, mas é provável que não. Se tal acontecer, poderemos, pela primeira vez, agradecer aos países subdesenvolvidos por nos resgatarem de uma recessão com contornos globais. E perceberemos então que o extraordinário crescimento económico destes países é muito mais uma oportunidade do que uma ameaça para todos nós. China incluída."

2 comentários:

Rita R. Carreira disse...

Concordo plenamente. Acho que o maior problema foi que as pessoas habituaram-se a que a economia estivesse acima do pleno emprego e como tal pensam que isso deve ser a norma.

Logicamente, a forma como se publicam os indicadores da economia ajuda a fomentar a histeria. Qualquer descida normal parece medonha quando se compara com os indicadores fenomenais de quando a economia se encontrava acima do pleno emprego.

Mesmo com a gasolina mais cara, as pessoas pouco ou nada mudaram as suas rotinas. Apenas gastam menos pois estam com mais dificuldade em obter acesso aos refinanciamentos de hipotecas.

Alvaro Santos Pereira disse...

Ola,

Sem dúvida nenhuma. É isso mesmo. A última recessão substancial já foi há mais de 15 anos, o que faz as pessoas esquecerem-se de como viver em tempos menos bons