21 março 2008

NARCO BISSAU (2)

O PUBLICO dedica hoje duas páginas à situação na Guiné Bissau, onde se salienta a influência dos narcotraficantes e a grave situação que se vive nesse país. Aqui est+a um extracto:
"A Guiné-Bissau é hoje, apesar da relativa estabilidade, muito mais pobre do que antes do conflito de 1998 e 1999 e dos quatro anos da presidência de Kumba Ialá. Em meados dos anos 1990, um terço da população vivia com menos de um dólar por dia. Hoje, são cerca de dois terços nessa situação. Mesmo assim, diz o secretário de Estado português dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, que esteve recentemente em visita oficial ao país: "Houve uma melhoria nos últimos 12 meses. E, por isso, há que continuar este caminho."O Parlamento guineense aprovou recentemente a controversa Lei da Amnistia, que perdoa os crimes no âmbito dos conflitos político-militares até Outubro de 2004 - nesse mês foram assassinados o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), general Veríssimo Correia Seabra, e o responsável pela Informação das FA, coronel Domingos de Barros. A lei é porém vista como um passo para uma "verdadeira reconciliação" e para se avançar para a urgente reforma das FA. Subjacente a esta reforma tem de estar a aceitação por parte dos militares de partirem, sem receio de serem perseguidos judicialmente ou de viverem sem recursos. Junto ao quartel-general e ao Ministério da Defesa, em Bissau, estão a ser construídos, com dinheiro da cooperação chinesa, casas para os oficiais.
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Também estes têm sido elogiados pela sua contenção. Estará ela ligada a uma maior satisfação? Para alguns, terá sido o dinheiro do narcotráfico, desde que a Guiné-Bissau se transformou num importante ponto de passagem para a droga (que vem da Colômbia com destino à Europa), que permitiu satisfazer algumas altas patentes das FA e propiciar esta estabilidade... Vivendas de dois ou mais pisos, com espaçosas varandas, estão a ser construídas. Dão um ar diferente à capital. Pertencem a altos responsáveis militares, ex-ministros (alguns muito próximos de Nino Vieira) ou funcionários em posições-chave, como por exemplo um responsável das alfândegas. Para Luiz Vaz Martins, esta é uma importante razão para a recente acalmia no país. "A droga tem criado riqueza para alguns sectores das Forças Armadas que deixaram de ver a política como forma de enriquecimento. São pessoas que levam uma vida de luxo, com carros topo de gama e grandes vivendas. Tal só é possível com o dinheiro do narcotráfico", considera. "Este negócio, embora ilícito, acomodou aqueles oficiais que antes estavam interessados em interferir na política. Agora, uma situação de desestabilização também não lhes interessa, porque podem vir a perder tudo." Reconhece que há aqui um "outro lado da moeda". E diz: "A droga tem um aspecto muito negativo. Mas veio trazer uma certa calma e estabilidade ao país."O cineasta Flora Gomes tem outra visão. Para ele, a acalmia é sinal de uma "tomada de consciência" dos próprios militares. Quanto às informações que circulam sobre supostas conivências de militares com os narcotraficantes, diz: "É bom não generalizar. Desses homens, muitos deles fizeram coisas extraordinárias, na luta de libertação. É verdade que deve haver pessoas com alguma influência envolvidas nisso. Mas o que terá trazido essa estabilidade é também a consciência de que não é com a guerra que se reivindicam coisas, muitas das vezes justas."

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