20 junho 2008

AINDA O BOICOTE DOS COMBUSTÍVEIS

A Sábado desta semana idealizou um cenário onde o boicote dos combustíveis seria prolongado por umas semanas. Aqui estão alguns cenários possíveis e prováveis:
Um cenário de boicote prolongado dos combustíveis seria uma espécie de bomba de neutrões económico. Ou seja, após a bomba (i.e. o fim dos combustíveis) as infra-estruturas manter-se-iam nos seus lugares, mas tudo o resto seria afectado. Para bem ou para mal, o petróleo é como o sangue nas veias da economia mundial (e nacional, como é óbvio). Se falta o petróleo (ou os combustíveis), não existe energia suficiente para que as actividades económicas se façam normalmente. Um tal cenário não destruiria por completo as actividades económicas. Afinal, até há poucas décadas atrás, o petróleo não desempenhava nenhum papel significativo na economia mundial. No entanto, uma escassez absoluta dos combustíveis iria causar dificuldades tremendas para muitos sectores.
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Um dos problemas que se colocariam seria com a produção e distribuição de alimentos. Como mencionei, há umas décadas atrás o petróleo não era tão importante como hoje. Porém, na altura, uma grande parte das populações ainda vivia ligada à terra. O mesmo não é verdade hoje em dia. Nos países ocidentais, somente entre 3 e 10 por cento das populações nacionais trabalham directa ou indirectamente da agricultura. Por isso, num cenário de escassez absoluta de combustíveis, as pessoas certamente iriam tentar armazenar a maior quantidade possível de alimentos. É provável até que houvesse um certo pânico das populações que tentariam guardar o mais possível alimentos não perecíveis. Prontamente surgiria um mercado negro (ou não oficial) de todo o tipo de produtos (alimentares incluídos), a especulação aumentaria, e os preços cresceriam de uma forma significativa. Um outro mercado negro surgiria certamente para os próprios combustíveis, que seriam mais valiosos que o ouro.
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Os sectores mais afectados inicialmente seriam os ligados aos transportes e à distribuição de produtos. Táxis e transportes privados seriam os primeiros a sentir o efeito, e só mais tarde os transportes públicos (porque, certamente, seria dada prioridade a este tipo de transportes). Aos poucos e poucos até estes transportes seriam afectados. Os menos afectados seriam as actividades do sector dos serviços, tais como o sector financeiro e as empresas ligadas às novas tecnologias de informação (principalmente àquelas que dependem da internet).
Passadas umas semanas, e se os combustíveis ficassem realmente escassos, toda uma série de serviços públicos (p. ex. A recolha do lixo, etc) iriam ser afectados consideravelmente. Para evitar situações de ruptura da ordem pública e para manter a saúde pública, a prioridade total seria dada ao abastecimento dos serviços do Estado. Para tal, seria declarado o estado de emergência, no qual seriam mantidas reservas nacionais de combustíveis para sectores como a defesa e a segurança interna, bem como para o sector da saúde.
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Numa situação de desespero, alguns poderiam ser tentados a reintroduzir alguns animais de carga e de transporte, como os burros (se ainda existirem...) e outros. Muitos poderiam ser tentados a procurar alternativas ao petróleo, mas estas tentativas seriam quase todas em vão. É certo que existem algumas energias alternativas. Contudo, mesmo que houvesse um maior investimento nessas áreas, a verdade é que levaria demasiado tempo para que quaisquer alternativas surtissem efeito a curto ou médio prazo.
O tempo de resistência dependeria muito do sector em causa. Os mais rapidamente afectados seriam os dos produtos perecíveis e o sector dos transportes. Os sectores que não dependem directamente do sector dos transportes seriam menos afectados.
Os hábitos dos consumidores e dos privados seriam muito afectados. O chamado “tele-commuting” (trabalhar de casa) aumentaria exponencialmente. Muitos iriam para os seus empregos a pé ou de bicicleta. Muitas escolas fechariam, etc., etc. Somente serviços essenciais seriam mantidos.
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O impacto macroeconómico seria tremendo. A Inflação dispararia. A Economia entraria em recessão. O desemprego e o sub-emprego cresceriam dramaticamente. A escala das actividades económicas seria substancialmente reduzida
O comércio internacional seria gravemente afectado. A maior parte das nossas exportações iria acabar. Se o mundo não fosse afectado, as nossas maiores importações seriam alimentos e combustíveis. Se o mundo fosse afectado, então o comércio internacional seria reduzido quase para zero.

2 comentários:

Anónimo disse...

Belo trabalho este da Sábado. Agora que sei que é um economista, deixo-lhe aqui a ligação de um texto que eu proprio escrevi no meu blogue sobre a questão da directiva do retorno.

http://oafilhado.blogspot.com/2008/06/um-mal-necessrio.html

Rita R. Carreira disse...

O que mais me preocupa nesta historia do petroleo e' que toda a gente insiste em dar prioridade a solucoes que affectam a oferta quando a solucao a curto prazo esta' no lado da procura.

E' verdade que Portugal tem pouco impacto a nivel mundial para afectar o preco, mas tal nao invalida que os portugueses tentem reduzir o seu consumo de energias fosseis. As pessoas devem comecar a comprar coisas que sao mais eficientes no consumo de energia e comecar a reciclar.

Por exemplo, os plasticos sao feitos de compostos de gas natural ou petroleo. Reduzem-se o consumo de plasticos, reusem-se os plassticos ou reciclem-se os plasticos que se consomem: Reduzir, reusar, e reciclar.

Mas acho que o teu post e' muito pertinente e concordo com quase tudo. So' acho que mesmo a area da Internet sera' afectada pois alguma electricidade e' produzida com derivados do petroleo. Sem electricidade, nao ha' Internet. E apesar de ja' haverem mochilas com paneis solares que podem recarregar telemoveis, nao podem recarregar computadores portateis, infelizmente...