13 junho 2008

QUANDO SE CEDE...

Quando se cede, paga-se a factura. Apesar de concordar com o Antonio (que afirma "Parece-me que apesar de tudo o Governo se saiu bastante bem. Não cedeu naquilo que para si era fundamental, isto é, não acordou na criação do gasóleo profissional"), a verdade é que quando os governos cedem quase sempre há consequências. Por isso, depois de ter confessado as vulnerabilidades do Estado e de ter cedido aos camionistas, era fácil de prever que outros sectores iriam igualmente reivindicar mais ajudas ao governo. Assim, hoje ficamos a saber que os agricultores e os taxistas são os senhores que se seguem. Os taxistas ainda entendo, pois a subida dos preços do petróleo afecta-os directamente. Mesmo assim, duvido que as suas demandas surtam efeito se decidirem parar os seus carros. Se não há táxis há transportes públicos ou o aluguer de automóveis (nem sempre, é verdade, mas na maioria dos casos). Ou seja, há alternativas aos táxis. Por isso, se quiserem que o governo os ouça, provavelmente os taxistas terão que bloquear estradas e vias de acesso às cidades. Uma decisão nada popular.
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E se um protesto dos taxistas se compreeende, as reinvindicações dos agricultores parecem-me desajustadas e excessivas. A subida dos preços agrícolas beneficia directamente os produtores agrícolas. Por todo o mundo, os valores das terras agrícolas estão a subir em flecha e os produtores anunciam previsões de um aumento de oferta (e dos seus rendimentos) nos próximos anos. Portugal não é excepção. Assim, o PUBLICO de hoje anuncia que, de acordo com a Associação Nacional de Produtores de Cereais, Oleaginosas e Proteaginosas (Anpoc), a campanha de cereais de 2008 apresenta "boas perspectivas". Pois claro. Os produtores agrícolas respondem aos incentivos do mercado. E se é assim, se é esperado que os produtores tenham nalguns casos rendimentos bastante superiores aos alcançados nos últimos anos, porque é que os contribuintes devem pagar a factura do aumento do preço do gasóleo agrícola? Se eles(as) são dos principais beneficiados(as) pela subida dos preços dos produtos alimentares, porque é que não são os agricultores a "subsidiarem" o aumento dos preços do petróleo para o resto da economia? Note-se que eu não acho que o devam fazer. O que eu acho é que pedir ajudas governamentais numa época de vacas gordas (para os agricultores) só porque que o sector é "estratégico" (tal como as empresas de camionagem...) é pura e simplesmente chantagem. Uma chantagem que decorre directamente da cedência do governo aos camionistas. Uma chantagem que deriva directamente das "vulnerabilidades" do Estado apregoadas pelo primeiro-ministro.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Alvaro;

Realmente o Senhor percebe pouco de agricultura. Deve saber por certo, que não pode generalizar o termo "agricultura" a todos os sectores da mesma. Vários sectores da agricultiura enfrentam desafios muitos distintos, pelo que a sua generalização é errada. Por fim, se os preços das terras agrícolas estam a subir em flecha, é mais um pretexto para existir uma greve dos empresários agrícolas, pois as suas terras valem muito mais do que nos anos 90.

atentamente,

Fernandes

antonio disse...

Caro Àlvaro

São 5 e meia aqui em Washington e acabei de atestar o meu carro com "regular". Com o galão a 4.13 dolares e o Euro a valer 1.55 dolares significa isto que o litro de regular me custou 59 centimos de Euro. Ontem de manhã em Portugal meti gasolina 95 a 1.53 euros. "No comments"

Hoje de manhã apanhei um taxi. Paguei o que estava indicado no contador do taxi, mais um suplemento de 1.5 dolares por cada passageiro adicional para alem de mim mais uma taxa de 1 dolar de combustivel.

Há cerca de uma semana li que a TAP ia criar 3 novas taxas de combustivel para pequeno, médio e longo curso.

Pergunto-me a mim próprio como é possivel os camionistas e taxistas resistirem a preços regulados que não acompanham de forma alguma o aumento dos custos enquanto as grandes petroliferas dispoem de cada vez maior liberdade de actuação.

Isto parece um discurso do PC ou do BLOCO mas não é.

Por isso eu digo que a procissão ainda vai no adro. É que a crise está para durar e há muita gente que começa a viver a balões de oxigénio.

Antonio

Alvaro Santos Pereira disse...

Caro Fernandes,
Irei responder ao seu post no blog.

António,
Espero que as coisas lhe corram bem em Washington. Pois, de facto, os produtos petrolíferos são bastante mais baratos na América do Norte do que na Europa. São dois os motivos para que tal aconteça: os impostos europeus sobre os produtos petrolíferos são
muito mais elevados e os norte-americanos subsidiam directa ou indirectamente os produtos petrolíferos.
Esta opção já é velha, mas é sempre reacesa quando os preços sobre bruscamente. E é por isso que os choques petrolíferos são muitas vezes mais danosos na Europa do que na América do Norte

Abraço

Alvaro