23 junho 2008

NIVELAR PELA MEDIOCRIDADE

As reacções aos exames nacionais deste ano têm sido quase unânimes num aspecto: são demasiado fáceis. São os próprios alunos e professores que o dizem. E se é verdade, interessa perguntar: porquê? Qual é a intenção? Que os alunos tenham boas notas? Que as estatísticas portuguesas no sector da educação melhorem? Para mostrar obra feita? Para demonstrar que a "paixão pela educação" começa finalmente a dar frutos? Mas, se é assim, não nos estaremos a enganar a nós próprios? O que é que ganhamos em inflacionar os resultados dos exames?
Diga-se de passagem que sou contra aquela noção antiga de chumbar por chumbar, ou a ideia que a competência de um(a) professor(a) é directamente proporcional ao número de reprovações. Esta tradição vigora ainda em muitos estabelecimentos de ensino (principalmente nas universidades) e é simplesmente errada. Um bom professor não se mede pelo número de chumbos, mas sim pela qualidade das suas aulas e pelo nível de preparação dos alunos.
No entanto, convém não cair no outro extremo. Nivelar por baixo nunca é uma boa medida nem dá resultados duradouros. É sempre preciso manter um nível de exigência mínimo, tanto no ensino como nos exames nacionais. Se não, estaremos a criar uma geração de impreparados e de quase-ignorantes-técnicos. Ou seja, de indivíduos que têm os diplomas e as credenciais mas não têm o devido conhecimento.
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Este é o risco que acarreta a decisão (tácita ou não) de baixar o nível de exigência dos exames nacionais. E é isto que devemos estar cientes quando nos congratulamos com os "excelentes" resultados dos nossos alunos e filhos nos exames nacionais.
PS. Dito isto, se formos um pouco mais optimistas, também é provavelmente verdade que as algumas das percepções dos alunos que os exames são fáceis se devem ao maior investimento que muitos pais têm feito na preparação dos seus filhos para os exames. A palavra exame (nacional) acarreta consigo toda uma conotação e todo um estigma que levou muitos pais a increverem os seus filhos em toda a espécie de explicadores e outros auxílios suplementares, de forma a permitir um melhor desempenho dos seus filhos nos exames. Neste sentido, a "facilidade" dos exames pode ser somente um sintoma que os nossos filhos estão melhor preparados que nunca. Esperemos que sim. Infelizmente, é improvável que assim seja, pelo menos na totalidade dos casos. Como os professores também argumentam que os exames estão mais fáceis este ano, o mais certo é que estejamos a nivelar por baixo o grau de exigência.

3 comentários:

Rita R. Carreira disse...

Achei este post muito pertinente. Gostaria de adicionar que seria super-importante que o ensino fosse um pouco mais aplicado em Portugal, em vez de se investir tanto em decorar. Gostaria que os alunos portugueses fossem mais proficientes com o computador, etc.

Anónimo disse...

Tambem acredito que o nivel de exigência tenha baixado...mas acho que tem tudo um proposito...

Enquanto os jovens vão para a faculdade o governo esconde e evita o aumento de nº de jovens à procura do primeiro emprego. Era um desastre por isso convém facilitar...

Anónimo disse...

Atenção... há exames e exames...

alguns exames foram efectivamente mais fáceis. mas muita gente diz o contrário em relaçao a, por exemplo, geografia ou biologia... e há uma outra coisa... as perguntas que há partida parecem muito fáceis, têm por detrás critérios bastante apertados. É a nova avaliação por competências em substituição da antiga avaliação por conteúdos...