16 junho 2008

A LINHA DA FRENTE E O ABANDONO ESCOLAR

Após meses e meses de silêncio, o primeiro-ministro relembrou-se do seu propagado Plano Tecnológico. Foi a uma escola-modelo alentejana e garantiu que brevemente todas as escolas do país terão videovigilância (para haver "mais liberdade"...), bem como um "computador por cada cinco alunos, um videoprojector em todas as salas de aula e um quadro interactivo por cada três salas de aula". Um sonho bonito, portanto. Mesmo assim, seria importante perceber que um Plano Tecnológico da Educação não pode (e não é) ser uma receita mágica para o desenvolvimento nacional. A educação ajudará, mas não é suficiente para melhorar a atractividade e a competitividade da nossa economia.
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Ora, mesmo que nos emocionemos com o sonho do primeiro-ministro, interessa perguntar o seguinte:
1) serão os objectivos anunciados realistas ou necessários? Eu lecciono num dos países mais ricos do mundo e numa das universidades mais abastadas da América do Norte. Mesmo assim, não há um videoprojector em todas as salas de aula (talvez um em cada 10 ou 15 salas) e muito menos um quadro interactivo (que só existe em grandes auditórios ou salas especiais). E se é assim numa universidade canadiana com vastos recursos, porque é que haveremos de ambicionar fazer melhor em todas as nossas escolas? Parece-me completamente despropositado, bem como extremamente dispendioso.
2) sonhar com alta tecnologia é, sem dúvida, bonito. No entanto, em vez de sonharmos em ter as salas de aulas mais avançadas do mundo (ou perto disso), porque não dar atenção ao verdadeiro flagelo educativo nacional chamado abandono escolar? De facto, Portugal é o país da OCDE com as mais altas taxas de abandono escolar (com a excepção da Turquia). Esta é, aliás, uma das grandes causas das desigualdades sociais no nosso país (pois os rendimentos para os indivíduos com menos educação são bastantes mais baixos do que os rendimentos daqueles que têm o ensino secundário completo ou o ensino superior). Por isso, não seria aconselhável (e bem menos caro) investir recursos na prevenção do abandono escolar do que ambicionar ter um videoprojector em cada sala de aulas ou quadros interactivos?

2 comentários:

Anónimo disse...

Em Évora foi mostrada apenas uma pequena parte do que é anunciado pelo PTE. É muito mais do que isso e pode ser um meio fundamental para aumentar o tão falado sucesso educativo. Mas, ao contrário do que parece ser a percepção de muitos, vejo-o com uma estratégia que encontra receptividade nos alunos. Nem menciono que irá permitir o desenvolvimento de competências fundamentais na Sociedade do Conhecimento, sendo que é dirigido não só para os alunos, como também para a comunidade envolvente. As tecnologias são apenas a base - mas ainda assim absolutamente necessárias.
"O Dinheiro é um bom conselheiro e um péssimo amigo"
É assim que vejo o investimento - criticado por alguns. Cabe a cada um e a todos de nós fazer com que este plano resulte. Afinal não é disso que se quer dizer quando se promove a web2.0? Comunidades de aprendizagem a uma escala alargada? Optei por acreditar num projecto integrado e integrador.
Venha o PTE!!!

Alvaro Santos Pereira disse...

Caro Anónimo

Não sou contra o PTE, somente contra a ideia que tal plano possa ser uma receita mágica do crescimento económico nacional. Não é.
De resto, espero sinceramente que o PTE tenha sucesso, não só contribuindo para uma maior qualificação dos nossos alunos, mas também dando azo a um menor abandono escolar.
Dito isto, mesmo assim seria aconselhável ter sido um pouco mais modesto nalguns dos objectivos do PTE

Obrigado