17 novembro 2010

BAILOUT OU NÃO, EIS A QUESTÃO

O impasse em redor do plano de resgate do sistema bancário irlandês continua. Bruxelas e Berlim querem que a Irlanda aceite a activação do fundo de estabilização europeu o mais rapidamente possível, mas o governo irlandês continua reluctante em fazê-lo, apesar de saber que o buraco da dívida bancária é bem maior do que seria desejável (e tinha sido previsto). Porquê? Porque não só, como já aqui referi, a Irlanda tem reservas suficientes para garantir o financiamento da dívida pública até meados de 2011, mas também porque o governo teme que uma cedência a Bruxelas e Berlim poderá acarretar pesados custos eleitorais para o partido no poder. Nada de novo, portanto.
Porém, há um motivo adicional que poderá explicar ainda melhor a renitência celta: a Irlanda está preocupada com a competitividade da economia irlandesa, pois teme que uma intervenção do FMI e, principalmente, a activação do fundo de estabilização possa forçar uma revisão dos generosos benefícios fiscais existentes para as empresas sediadas em território irlandês. Vale a pena relembrar que uma das razões que explicam o milagre económico irlandês das últimas duas décadas foi a política de taxar as empresas à taxa de 10%, bem mais reduzida do que na maioria dos países europeus, e que atraiu inúmeras empresas multinacionais para esse país. Ora, já há muitos anos que os franceses e os alemães, entre outros, se têm queixado da alegada "concorrência desleal" da Irlanda na atracção do investimento estrangeiro, pois os impostos irlandeses são bem mais baixos do que a média europeia. Aliás, se se recordam, há alguns anos, vários países da União Europeia tentaram vender a ideia de uma hamonização fiscal europeia, que tinha como principal objectivo acabar com as excepções fiscais concedidas por países como a Irlanda. Os irlandeses sempre resistiram (e bem) a estas investidas, pois sempre acharam que se aumentassem os impostos estariam a matar uma das galinhas de ovos de ouro do milagre irlandês e perderiam soberania económica. Por isso, temem agora que os alemães e os franceses finalmente alcancem o que já vêm tentando fazer há tanto tempo: a subida das taxas de impostos sobre as empresas em troca do resgate dos bancos irlandeses. E este é que parece ser um dos principais pontos de contenda nas negociações que estão a decorrer entre Dublin e Bruxelas (e o FMI).

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