Os juros da dívida pública continuam a subir, já tendo inclusivamente ultrapassado os 6,5%, e aproximando-se da barreira psicológica dos 7%. Afinal, por que sobem os juros se o Orçamento já foi aprovado? Por que é que não conseguimos acalmar os malvados dos mercados?
Há três razões principais para os juros continuarem a sua escalada. Primeiro, e como já aqui mencionei, há um evidente "efeito de arrasto" das economias europeias com dívidas elevadas. Nos últimos dias, ficámos a saber não só que a crise bancária da Irlanda está longe de estar debelada ou controlada (bem pelo contrário), mas também que o buraco orçamental grego será ainda maior do que o esperado. Por isso, os juros das dívidas soberanas desses países tem vindo a subir, arrastando consigo os juros da dívida nacional.
Segundo, os mercados já perceberam que há uma enorme falta de credibilidade das nossas contas públicas e que o descontrolo da despesa é bem maior do que julgava. Como a credibilidade custa muito a construir, mas muito pouco para destruir, a inexplicável derrapagem das contas públicas este ano foi a gota de água para que os credores externos e para que os mercados ficassem definivamente de pé atrás em relação a nós. E, como é óbvio, se em Maio tivéssemos seguido o exemplo da Espanha e tivéssemos logo um plano de austeridade mais severo, e se não tivesse havido o referido descontrolo da despesa, é muito possível que a ira dos mercados já não estivesse sobre nós.
Finalmente, como as previsões económicas mais recentes têm sido pouco optimistas, existem cada vez mais dúvidas sobre a capacidade de a economia nacional crescer significativamente a curto prazo, o que nos ajudaria a pagar as nossas dívidas. Como a austeridade a conta gotas não nos ajuda nada a inverter esta situação, tem aumentado a percepção de que não iremos ser capazes de evitar um incumprimento ou que, mais cedo ou mais tarde, teremos de recorrer ao fundo de estabilização europeu. Por isso, os mercados vão pedindo um prémio cada vez maior para os juros da nossa dívida.
Em suma, há efeitos internos e externos que explicam a contínua subida dos juros. Não são só os malvados dos mercados, ou só a crise internacional e a crise da dívida europeia, ou só a incompetência do governo. É mesmo tudo junto. O que, como é óbvio, só complica mais as coisas.
1 comentário:
Alvaro, há quem diga que os bancos portugueses andam a comprar dinheiro a 1% ao BCE para depois comprar títulos da dívida pública.
Cumprimentos
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