05 novembro 2010

CREDIBILIDADE

Como mencionei no post anterior, a credibilidade é um bem muito escasso na governação actual. Uma prova disto mesmo são as previsões mais recentes do FMI para o próximo ano, que destoam significativamente das projecções do governo. Por exemplo, enquanto o governo insiste num objectivo de défice de 4,6% do PIB para 2011 (sem receitas extraordinárias), o FMI prevê que o nosso défice orçamental para o próximo ano ronde os 5,2% do PIB. 
Mais: o FMI não acredita nas promessa do governo em reduzir o défice orçamental para 3% em 2013, conforme nos comprometemos com os nossos parceiros europeus. Nomeadamente, no seu mais recente relatório, o FMI prevê que o défice orçamental português será de 4,8% do PIB em 2012, 4,3% do PIB em 2013, 5,7% do PIB em 2014, e 5,8% em 2015. Ou seja, o FMI espera que o défice orçamental português suba nos próximos anos em vez de descer. 
Como é que é possível? Como é que o FMI se atreve a fazer semelhante previsão? É muito simples. É que o FMI sabe muito bem que a partir de 2013 se têm de pagar as PPPs (as parcerias público-privadas), e que essas mesmas PPPs irão custar algo entre 2 mil e 2,5 mil milhões de euros, ou seja, entre 1,5% e 2% do PIB. Todos os anos. Para além do mais, como os encargos com os juros da dívida pública já estão a subir e serão bem mais elevados num futuro bem próximo (pelo menos entre 1,3 e 2 pontos percentuais do PIB), será ainda mais difícil controlar as contas públicas nacionais sem um esforço adicional.
Ora, basta somar os valores das PPPs e os juros adicionais às previsões do governo para percebermos o que está por detrás das projecções do FMI, tão distintas das do governo. É tudo uma questão de contas bem feitas, de bom senso e de credibilidade. Características que, infelizmente, o nosso governo não tem.

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