04 novembro 2010

A NOSSA MAIOR EXPORTAÇÃO

Sabe qual é a exportação nacional mais bem sucedida das últimas décadas? Não, não são os têxteis nem o calçado, ou sequer o turismo. E também não são os moldes, as tecnológicas, ou até as energias renováveis. Não. A exportação nacional que mais tem contribuído para atenuar o nosso défice externo é... a nossa mão-de-obra. Todos os anos, dezenas de milhares de portugueses emigram para os mais variados destinos do mundo. Nos anos que se seguem, esses emigrantes trabalham e poupam nos seus países de acolhimento, enviando parte das mesmas poupanças para Portugal (as chamadas remessas). E é assim que, todos os anos, o nosso país recebe centenas de milhares de euros dos trabalhadores “exportados”. Nenhuma outra exportação nacional tem gerado tantas receitas para o país. 
O problema é que, como em tudo, a exportação de trabalhadores nacionais precisa de ser competitiva. E essa competitividade tem-nos saído cada vez mais cara. Nos anos 60 e 70, o emigrante típico tinha poucas qualificações, de modo que não era muito caro “produzir” e “exportar” um trabalhador. Porém, o mundo mudou e agora os emigrantes portugueses têm de “competir” com chineses, indianos, ou cidadãos de outros países para emigrarem. E é assim que começámos a exportar muitos dos nossos trabalhadores mais qualificados. Actualmente, Portugal exporta licenciados, mestres e até doutorados em números tais, que já somos o segundo país da OCDE com a maior “fuga de cérebros”.  
Resta saber se, no futuro, os custos dessa exportação para a economia nacional não serão bem maiores do que os benefícios. 
Nota: Meu artigo no Notícias Magazine do último fim de semana.

1 comentário:

Rui P. Guimaraes disse...

Dr. Alvaro Pereira, a fuga de cerebros e' bem conhecida e e' so' negada pelo ministro Mariano Gago. Quem se licenciou nas ultimas decadas tera' uma nocao da quantidade de colegas que ja' emigrou. E' absolutamente inaceitavel que o estado Portugues nao obtenha dados concretos sobre este fenonemo ate' porque, como no diz no artigo, muitos destes trabalhadores poderao manter a ligacao com a sua origem. Deveria competir ao governo criar condicoes para facilitar esta ligacao de modo a que emigrantes mantivessem poupancas em Portugal, parcerias tecnologicas, etc. O que eu lhe gostaria de perguntar e' em que dados se baseia para afirmar que e' este fenonemo que mais contribui para atenuar o defice. Que estudos existem em Portugal sobre o impacto da emigracao? Quantos emigrantes terao ainda contas bancarias em Portugal? Normalmente quando se emigra tao jovem a vida e' refeita no pais de acolhimento acabando por se perder a ligacao financeira. Se antes se emigrava para mandar dinheiro para casa, esta nova vaga de emigracao foge a salarios baixos mas nao propriamente 'a pobreza. E' possivel que a emigracao de mao de obra especializada nao mantenha tanta ligacao financeira como antigamente. Por exemplo, com a moeda unica nao compensara ao emigrante manter as suas poupances num banco estrangeiro? Sempre que for a Portugal utliza o multibanco sem qq prezuijo. Onde e que andam os estudos sobre a emigracao depois de 2002?