Aqui está um artigo indispensável de Simon Johnson, professor no FMI e ex-economista-chefe do FMI. Segundo Johnson, a crise bancária irlandesa é provavelmente ainda mais grave do que andamos a pensar e foi provocada pelo excessivo crescimento dos bancos, quer na Irlanda, quer no resto da Europa. Quando a crise do subprime se abateu sobre a América, os bancos europeus viram-se expostos a todo o tipo de activos tóxicos (europeus e americanos), e, ainda por cima, sentiram-se extremamente vulneráveis ao rebentamento de bolhas imobiliárias que os próprios bancos tinham incentivado. Foi então que os banqueiros irlandeses (e europeus) começaram a argumentar (e a mostrar) que eram demasiado importantes para as economias nacionais para poderem ir abaixo. E foi assim que vários países europeus se viram a braços com a necessidade de levar a cabo planos de resgate dos seus bancos, cujas dívidas eram por vezes bem maiores do que os PIB nacionais.
Aliás, de acordo com Johnson, as dívidas dos bancos irlandeses e europeus são de tal modo elevadas que nem o FMI, nem o BCE, nem sequer os contribuintes alemães têm recursos suficientes para cobrir essas mesmas dívidas ou simplesmente não estão dispostos a fazê-lo. Qual é problema? Será que essas dívidas se limitam à Irlanda e, quiçá, à Espanha e Portugal? Não, porque os bancos franceses, holandeses e alemães estão demasiado expostos à divida bancária irlandesa (e espanhola), o que significa que se a Irlanda (ou os seus bancos) cair em incumprimento, os bancos do centro da Europa também sofrerão graves consequências.
Qual é a solução? Segundo Johnson, a ironia é que quem poderá vir resgatar a Europa poderá ser a China (lembram-se de quem veio cá recentemente prometer comprar a nossa dívida?), que tem recursos financeiros suficientes para salvar o Velho Continente e poderá tentar ganhar créditos com toda esta situação? Como? Comprando a dívida europeia em troca do aumento da sua influência em organizações como o FMI. Num caso extremo, se a quota da China no FMI crescesse significativamente, a sede do FMI poderia inclusivamente mudar-se para Pequim, pois os regulamentos dessa organização estipulam que a sede se situa no país com a maior quota.
Será esta possibilidade mera especulação? Claro que sim. Pelo menos por enquanto. No entanto, também é verdade que já estivemos bem mais longe de todo este cenário ser impossível ou somente fantasioso. E se Johnson, que conhece bem os meandros da arquitectura financeira internacional, especula sobre estas possibilidades é porque haverá um fundo de verdade em tudo isto.
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