11 novembro 2010

CUSTOS DO INCUMPRIMENTO

Um dos artigos mais interessantes que li ultimamente sobre os custos relacionados com situações de incumprimento ou de insolvência dos estados soberanos é este paper de Eduardo Borensztein e Ugo Panizza. Os autores revêem a literatura económica  sobre o assunto e chegam à conclusão de que há quatro grandes custos relacionados com o incumprimento da dívida soberana: 
1) custos de reputação (os países que entram em incumprimento sofrem perdas de credibilidade e de reputação a curto e médio prazo), 
2) custos comerciais (os países incumpridores tendem a registar quebras no comércio internacional, isto é, estes países exportam e importam menos após o incumprimento ou a insolvência)
3) menos crescimento económico após o "default" (incumprimento)
4) custos políticos (os governos responsáveis pelo incumprimento ou insolvência são, em média, grandemente penalizados nas urnas pelos eleitores).

Borensztein e Panizza argumentam que os custos de reputação, os custos comerciais e o menor crescimento económico são todos custos de curto prazo, e que desaparecem 2 ou 3 anos após ter ocorrido a situação de incumprimento. Por isso, os autores perguntam: se isto é verdade, por que é que os países e os governos fazem sempre todos os possíveis e os impossíveis para evitarem chegar a esse ponto? A resposta é simples e elucidativa: os governos fazem tudo para evitar chegar a uma situação de incumprimento porque os custos políticos que lhe estão associados são demasiado elevados. Mais concretamente, há mais de 26% de probabilidade que o governo responsável pela insolvência ou pelo incumprimento será penalizado nas urnas, perdendo as eleições.
Segundo esta lógica, podemos assim compreender por que é que o governo anda a fazer o que pode para prevenir uma situação em que nos vejamos forçados a recorrer ao fundo de estabilização europeu e ao FMI. É certo que, se o fizéssemos, quase de certeza pagaríamos juros mais reduzidos para financiar a nossa elevada dívida. No entanto, ao fazê-lo, o governo estaria a perder a pouca réstia de esperança que ainda tem para se tentar manter no poder. E é por isso que continuaremos neste jogo de espera até que a situação fique completamente fora de controlo (provável), ou até que o efeito de arrasto da grave crise bancária irlandesa nos obrigue a recorrer ao fundo de estabilização europeu (mais provável), ou até que o episódio de instabilidade financeira se resolva por si próprio (menos provável). Não falta muito para sabermos a resposta certa.

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