17 novembro 2010

RETRATOS DO DESPESISMO

Um dos gráficos que melhor retrata o excessivo despesismo do nosso Estado é o que nos dá a relação entre as despesas públicas em percentagem do PIB e o PIB por habitante nos países da União Europeia. Como podemos ver no gráfico abaixo, as despesas públicas em percentagem do PIB são bastante mais elevadas em Portugal do que em países com níveis de PIB per capita semelhantes. Ou seja, quando controlamos o rendimento por habitante, o Estado português gasta bem mais (em percentagem do PIB) do que todos os outros países com rendimentos inferiores ou até bastante maiores do que nós (como a Espanha, o Chipre, a Grécia, a Eslovénia ou a República Checa). Se isto não é um inequívoco retrato do despesismo do nosso Estado, eu sinceramente não sei o que é.

Gráfico_ Despesas públicas em percentagem do PIB versus PIB por habitante em 2010  
Fonte:AMECO
Para os menos versados em Economia, vale a pena referir que cada ponto no gráfico representa as despesas públicas em % do PIB de um determinado país, bem como o nível de rendimento per capita desse país. Por exemplo, a Espanha tem um rendimento per capita médio a rondar os 22,600 euros, e as despesas públicas são de 45,7% do PIB. Pontos acima (abaixo) da linha de regressão indicam que as despesas públicas (em % do PIB) são mais elevadas (menores) do que o que seria previsível para um determinado nível de rendimento per capita. Assim, Portugal tem um nível de despesa pública em percentagem do PIB bastante superior ao que é "normal" para o nosso nível de rendimento médio.
Uma outra versão deste gráfico pode ser encontrada aqui.

11 comentários:

Insurrecto Meditativo disse...

Obrigado pela "publicidade", professor.

Pedro Lains disse...

Pois... Mas se tirares a Europa de Leste, a linha baixa de ângulo, e Portugal fica mais perto dela. A Espanha e a Alemanha parecem demasiadamente baixas. Isto não é só despesas do Estado central?
Abraço,
P

Guillaume Tell disse...

Cautela com estes gráficos! Já estou a ver certo pessoal a dizer que deveriamos aumentar a despesa pública para chegarmos ao nível da qualidade de vida dinamarquesa. E ao contrário a dizerem que basta diminuir a despesa pública para termos um milagre económico.

Que conclusões tirar então? Sim, Portugal tem um Estado demasiado gordo e pouco eficiente (visto a fraqueza do PIB per capita em relação ao nível dos gastos estatais). Temos que refletir de como vamos "degovernamentalizar" e ao mesmo tempo aumentar a eficiência, tanto do sector público como do sector privado (basta recordar o que dizem os empresários estrangeiros dos nossos)!

MC disse...

Eu não me dou minimamente por convencido, mesmo sem a Europa de Leste.

A tese que está por detrás do gráfico é que o consumo público em % do PIB deveria ser proporcional ao PIB per capita.
Ora fazendo as contas,
(G/PIB)/(PIB/Populacao)=const é o mesmo que
G=PIB^2/Pop

Está afirmar que o consumo público deveria crescer com o quadrado do PIB*?

Ou olhando directamente para o gráfico, e sem contas. A tese afirma que um país africano deveria 2% de consumo público, e que o Luxemburgo (que surrateiramente deixou fora do gráfico) deveria ter 80%? Se houvesse um acima do Lux, talvez devesse ter um consumo público de 110% do PIB...


* na realidade a tese é ainda mais estranha porque no G/PIB é usado o PIBpm enquanto no PIB/Pop é usado o PIB em PPP. Ou seja seria G=PIB^2/Pop*termo de comparação do PPP

MC disse...

Peço desculpa, noto agora que a intercepção no eixo vertical não é zero, mas positiva. A minha equaçãozinha teria que ser alterada mas a crítica mantêm-se:

Essa linha a fazer sentido, aconselharia o Luxemburgo a ter 70% de despesa pública sobre PIB, e se algum país houvesse ainda mais acima, a curva diz que deveria ter um consumo público de 110%..

Resumindo, a única medida correcta é consumo público sobre PIB, e sobre essas o relatório de há dias do Eurostat não deixa dúvidas, Portugal está constantemente abaixo da média:

http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_PUBLIC/2-15112010-AP/EN/2-15112010-AP-EN.PDF

Alvaro Santos Pereira disse...

Obrigado a todos.
Guillaume,

Há sempre esse risco de sermos mal compreendidos. No entanto, concordo com o que diz. As resposta concretas que pede estão no meu livro, que continuo a escrever :)

Caro MC,

Respondo adequadamente às suas questões ainda este fim de semana.

Abraço

Alvaro
Alvaro

MC disse...

Outros dados que alimentam a minha visão:

1. Se fizermos o mesmo gráfico há 10 anos atrás (quando todos os países tinham PIB/capita mais baixos mas sensivelmente o mesmo nível de despesas/PIB) , então a curva desloca-se para a esquerda.
Ora não faz sentido dizer que o nível óptimo de despesa pública (medida como é no seu gráfico) vai aumentado de ano para ano, ou seja quando a recta vai para a direita.

2. Escolher 2010 parece-me altamente incorrecto para qualquer comparação que seja, porque há uma enorme fracção da despesa pública que é conjuntural: a Irlanda não tem que meter 30% do PIB na banca todos os anos, etc.

3. Uma breve vista de olhos no scholar google mostra que a literatura em economia usa apenas despesa/pib em vez de despesa/pib/pibpcapita.
Por exemplo, o Devarajan et all (1996) no JME, um dos seminal papers neste tema.

MC disse...

Caro Álvaro Santos Pereira,
registo que não chegou a responder às minhas dúvidas de há 11 dias atrás apesar de ter prometido resposta há mais de uma semana.
Tal como registo que já o fez noutras ocasiões aqui no blogue, quando foram levantadas dúvidas aos seus dados e quando também prometeu resposta.

Alvaro Santos Pereira disse...

Caro MC,

Não se preocupe pois eu não me esqueci. O MC menciona pontos importantes e eu vou falar neles no blogue. Peço desculpa pelo atraso.

Alvaro

MC disse...

Caro Álvaro,

peço imensa desculpa então.
Julguei que tinha deixado cair o assunto.

Fazendo de o papel de "seu advogado" - gosto sempre de procurar contra-argumentos - pode argumentar-se que um país mais rico pode dar-se ao luxo de "doar" uma maior parte da sua riqueza produzida ao Estado.

Surge aqui um problema de endogenidade, será que os países mais ricos são aqueles que tiveram gastos públicos maiores no passado (o tal movimento da curva com o tempo)? A questão é obviamente muito complicada, e por isso talvez prefira o medida habitual G/Y.

Anónimo disse...

Eu que sou do povo gostaria de obter uma resposta dos especialistas. Todos dizem que devemos reduzir a despesa mas não dizem como. Como se reduz a despesa sem que ninguem fique descontente?
Outra situação é fazer crescer a economia. Como se faz crescer a economia?

Luis Carlos