Na minha coluna "Macroeconomia Divertida" na revista de sábado do DN e do JN tento explicar conceitos económicos de uma forma acessível aos não especialistas. O meu artigo da última semana foi sobre as dívidas de um país.
"Nos últimos tempos temos ouvido falar muito do endividamento nacional. Porém, nem sempre é claro que tipo de endividamento é que estamos a falar ou quem é que deve o quê. A verdade é que o endividamento de um país tem várias vertentes e, por isso, é importante perceber as diferenças entre as diversos tipos de dívida. A primeira distinção a fazer é entre o endividamento de uma economia e a dívida do Estado. As dívidas de um país são iguais às dívidas dos cidadãos e entidades (públicas e privadas) desse país, e incluem as dívidas do Estado mais as dívidas das famílias e particulares, bem como o endividamento das empresas e das instituições financeiras (p. ex. os bancos) do país em questão. A dívida destes agentes económicos pode ser, directa ou indirectamente, detida por instituições financeiras nacionais ou estrangeiras.
Por outro lado, quando o Estado no seu conjunto gasta mais durante um determinado período (geralmente um ano) do que aquilo que recebe, isto é, quando existe um défice orçamental das Administrações Públicas, é preciso financiar esse mesmo défice de alguma maneira. Há três formas de financiar o défice: a emissão de dívida pública, a criação monetária (isto é, a «impressão» de mais dinheiro) ou a obtenção de empréstimos junto do exterior. Nos países desenvolvidos, os rendimentos gerados com a criação monetária são reduzidos, e o método mais utilizado para financiar os défices do Estado é a emissão de dívida pública. Esta dívida do Estado é igual a todas as dívidas das Administrações Públicas.
Por sua vez, a dívida externa de Portugal inclui todas as responsabilidades financeiras do país com os credores internacionais. Assim, a nossa dívida externa compreende a dívida do Estado na posse de credores estrangeiros mais a dívida das famílias e das empresas contraída no estrangeiro (quer directamente, quer através dos bancos a operarem em Portugal), mais as dívidas dos bancos nacionais às instituições financeiras internacionais.
E assim vale a pena perguntar: serão as nossas dívidas realmente elevadas? Sem dúvida. Se não, vejamos: O Estado deve cerca de 120% do PIB (com as empresas públicas). As famílias devem cerca de 100% do PIB. As empresas cerca de 150% do PIB. E o país como um todo deve ao exterior qualquer coisa como 230% do PIB nacional. Foram exactamente essas elevadas dívidas que nos conduziram à situação actual. E enquanto não lidarmos de uma forma sustentada com o nosso endividamento, não iremos conseguir emergir da lamentável situação actual. É tão simples quanto isso."
10 comentários:
Mas então as dívidas do Estado está nos 120%, famílias cerca de 100% e empresas 150% como chega aos 230%?
Eu chego aos 370% do PIB...
A não ser que o professor esteja a falar da PII...
Marco Dias
A definição actual de limites aos défices orçamentais públicos (como faz a União Europeia) é de desconfiar. Como vimos, o défice é sempre mau.
Porque aceitar como boa uma gestão pública sob um défice de um determinado valor? Já vimos que, quando se define 3, os governos vão aos 5... porque há sempre um qualquer "imprevisto".
Assim voltamos a nos questionar: porque admitir que poderá haver uma boa gestão, com um défice limitado?
A resposta é simples: porque isso cria "negócio" bancário ao mais alto nível global. Porque assim, os Países criam dívida de forma gradual e controlada. A qualquer momento, os credores podem por um "travão", assumir as "rédeas" do poder (fim à independência nacional) e voltar a colocar as coisas no lugar. Não sem - antes - assegurar que o capital investido tem retorno e fica muitos anos a ser rentabilizado fortemente, pagando juros extorsionistas à custa da qualidade de vida das populações atingidas.
Qual é a melhor forma de assegurar este percurso?
Colocando e mantendo socialistas no poder...
http://existenciasustentada.blogspot.com/2010/11/9-orcamento.html?utm_source=BP_recent
Parece-me...
Que o ambiente internacional será razão para maior gravidade.
Quando houve o problema dos petro-dolars... coitada da America-do-Sul, pagaram a factura... que nem era deles.
Hoje passa-se o mesmo como a divida Quatrilionária de um certo pais. E o assunto torna-se complexo.
Aliás, Portugal tem "ainda" demasiado ouro para a sua propria saude geral. Basta ver a repetição de burla que se repete ocasionalmente sob o tema "ouro judeu" (neste caso por causa de problemas com a construção "do Muro").
E logo após as eleições... descobre-se um buracão financeiro de que ninguém fala nem foi investigado. Ou seja: O Pais é um pato de ouro, e tonto.
"Vão haver consequências muito graves se votarmos no Governo atual. Votar no Governo actual, quando a mim é votar na bancarrota, é votar para os nossos filhos emigrarem, é votar para ter a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, votar neste Governo é votar na irresponsabilidades e certamente votar na bancarrota do país"
Vão haver? você é professor na universidade do Futre?
Caro Cards,
Tem razão. Foi um lapso gramatical que eu lamento e que dei conta assim que foi dito em directo.
Obrigado
Alvaro
Não o conheço.
Mandaram-me através do Facebook o seu blogue, onde descobri que partilhamos algumas ideias.
Não se cale, emita opinião.
Deixo-lhe algumas sugestões, algumas delas já abordadas, para futuro desenvolvimento.
Liberalização dos despedimentos, fim dos recibos verdes, contrato único, diminuição dos organismos do Estado, diminuição do número de deputados, restrição à nomeação de assessores por parte de entidades politicas, indexação de vencimentos de gestores públicos, anulação de prémios de desempenho em empresas que operam em monopólio.
Temo que a minha listagem seja quase interminável, pelo que me fico por aqui...agora
Ao seu dispôr
Jorge Marcelo
120 + 100 + 150 = 370
230?
Caro Álvaro Santos Pereira,
Espero que não tenha ficado chateado com o meu anterior comentário, sou um leitor assíduo do seu blog e ontem estava na brincadeira, se for ao meu blog de certo que encontrará erros gramaticais muito piores.
Numa coisa tem razão votar Sócrates é votar bancarrota, só tenho é pena que o líder do psd não se chame Paulo rangel.
Realmente a minha conta também dá 370%...
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