17 maio 2011

POBREZA DAS CRIANÇAS

Para quem tem um governo que gosta tanto de se vangloriar de ter uma política social activa, vale a pena observar os dados mais recentes da OCDE sobre a pobreza das famílias e das crianças.  Mais concretamente, e como podemos constatar no gráfico abaixo, Portugal é um dos países da OCDE onde a percentagem de crianças em agregados familiares pobres é mais elevada. Cerca de 17% das nossas crianças estão em situações de pobreza. Ou seja, quase 1 em cada 5 crianças portuguesas pertencem a agregados familares com rendimentos médios baixos ou muito baixos. Uma percentagem bem mais elevada do que na grande maioria  dos países da OCDE, e substancialmente mais alta do que a média da OCDE (cerca de 12%). Em relação a este indicador, pior que nós só a Espanha (marginalmente), a Polónia e os Estados Unidos (que, como nós, também têm desigualdades sociais muito elevadas). 
Ainda de acordo com os dados da OCDE, é ainda interessante (e lamentável) verificar que, entre os meados dos anos 1990 e o final da primeira década do novo século, a percentagem de crianças em agregados familiares pobres aumentou cerca de um ponto percentual. Não é muito, é certo, mas não deixa de ser bastante significativo que o propagado aumento (e criação) de prestações sociais como o Rendimento Social de Inserção na última década foi totalmente incapaz para prevenir um agravamento da pobreza das nossas crianças. Porquê? Porque quando as economias não crescem e o desemprego sobe, não há prestações sociais que cheguem para contrabalançar a deterioração das condições de vida das famílias. É tão simples quanto isso.

Percentagem de crianças em agregados familiares pobres, OCDE
Fonte: OCDE

Nota: O México e a Turquia não foram incluídos no gráfico, visto que, tendo em linha de conta os seus rendimentos, apresentam valores de pobreza infantil muito mais elevados do que os outros países da OCDE.

5 comentários:

Gonçalo disse...

Isto apenas nos faz concluir que as politicas vigentes incentivam muito a natalidade nas famílias mais pobres e pouco a natalidade nas famílias menos pobres.
O que é negativo para as sociedades que assim vão ter que acentuar gastos na educação dessas crianças, pois o ponto de partida é mais desvantajoso.
Está provado que o sucesso escolar sobe proporcionalmente à formação de base da família...

Carlos Pereira disse...

É lamentável, sem dúvida. Ver as nossas crianças crescer num meio pobre sem terem recurso, muitas vezes, ao mais básico para o seu crescimento.
”é ainda interessante (e lamentável) verificar que, entre os meados dos anos 1990 e o final da primeira década do novo século, a percentagem de crianças em agregados familiares pobres aumentou cerca de um ponto percentual.”, Na minha opinião, esta frase revela o fracasso das mediadas tomadas pelos governos para o aumento da natalidade. Para muitas famílias pobres, ter filhos, foi durante muito tempo uma forma de fazer entrar dinheiro no agregado familiar, ainda que temporariamente. Houve, há alguns anos atrás, relatos de casos em que, em certas etnias, a criança ao nascer era registada por duas ou mais famílias para extorquir o estado. Noutros casos a mesma criança era registada em duas regiões distintas. Estes e outros casos só foram detectados quando a criança atingiu a idade escolar. Para além de fazer sair dinheiro a mais do estado, fez, ainda que não muito significativamente, aumentar a taxa de natalidade. Na altura, chegaram a ser relatados casos concretos pela comunicação social.

Carlos Pereira

Anónimo disse...

Mais um excelente post !
É triste mas é verdade ...

MBd'O disse...

Mais uma ajuda do Banco de Portugal à banca usurária que comeu durante anos à mesa do orçamento do estado?

Até quando suportaremos isto?

http://supraciliar.blogspot.com/2011/05/ganancia-mata-economia.html

Francisco Domingues disse...

Caro professor,
Disse-se, há dias, que, em 2100, Portugal teria pouco mais de 6 milhões de habitantes, dado os índices de natalidade actuais! E o problema de Portugal é mais agudo do que em outros países europeus porque é mais acentuado e mais perverso o desequilíbrio provocado pelo modelo económico-financeiro vigente: os casais novos da classe média não podem ter filhos ou, quando muito, um ou dois: trabalham 10 a 12 horas por dia, os colégios são caríssimos, as escolas públicas não são satisfatórias para a qualidade de educação que eles querem para os seus filhos. Para quando o equilíbrio e o respeito pela maternidade e pela criança? Não acha que só mudando o modelo económico-financeiro que, a nível global, nos acorrenta a todos? Aliás, é esse modelo que leva as famílias pobres a terem muitos filhos!...
(Eu procuro, sobre o assunto, propor Ideias-Novas no meu blog http://ummundolideradopormulheres.blogspot.com)