19 maio 2011

A TRAGÉDIA DO DESEMPREGO




Se há indicador que nos devia envergonhar e que nos devia fazer perceber a gravidade da crise nacional da última década, esse indicador é este: já há quase 700 mil portugueses(as) sem emprego. 700 mil. E nestes números não incluem as centenas de milhares de portugueses que emigraram na última década à procura de melhores oportunidades noutros países, nem sequer os trabalhadores desencorajados (isto é, os que estão desempregados por um período prolongado e já deixaram de procurar emprego, não contando assim para as estatísticas do desemprego). Estima-se que o número de trabalhadores desencorajados já ultrapasse os 200 mil
E o pior é que a tendência do desemprego é para aumentar. Segundo a nova metodologia do INE, a taxa de desemprego já ultrapassou os 12,4% e deve chegar aos 13% nos próximos meses. Já agora, em relação à mudança metodológica do INE, vale a pena referir que estas quebras de série são bastante comuns no INE. O problema não são as quebras de série, que são bem vindas se derem azo a mais informação ou a uma melhor recolha de dados. O problema é que o INE tem o péssimo hábito de fazer estas mudanças metodológicas e depois não consegue (ou não quer) actualizar as séries retroactivamente. Para quem lida com dados é verdadeiramente exasperante.
Mas deixemo-nos das questões metodológicas. O que interessa é analisar as tendências do desemprego. Comecemos então pela análise regional. Como podemos observar no quadro abaixo, a região mais afectada pelo desemprego é o Algarve, onde 17% dos trabalhadores já estão desempregados. A Madeira e a região lisboetas vêm logo atrás com, respectivamente, 13,9% e 13,6% de desempregados. Não deverá tardar muito para vermos uma região do país com níveis de desemprego parecidos com os registados em Espanha (isto é, acima dos 20%).

Taxa de desemprego por região:

Portugal
 12.4
Norte
 12.8
Centro
 9.7
Lisboa
 13.6
Alentejo
 12.5
Algarve
 17.0
R. A. Açores
 9.5
R. A. Madeira
 13.9




Se atentarmos agora para a estrutura etária da população desempregada, podemos verificar que os mais afectados pelo desemprego são o grupo dos 25 aos 34 anos (com 196 mil desempregados) e o grupo com mais de 45 anos. Porém, é ainda notório que todos grupos têm sido assolados pelo flagelo do desemprego:

População desempregada (milhares de pessoas)


População desempregada
 688.9
Homens
 354.1
Mulheres
 334.8
Dos 15 aos 24 anos
 123.9
Dos 25 aos 34 anos
 196.1
Dos 35 aos 44 anos
 160.4
Com 45 e mais anos
 208.4




Se olharmos para o grau de Educação obtido pelos trabalhadores desempregados, vemos que a grande maioria dos sem emprego não têm mais do que o ensino básico. Ainda assim, é muito revelador observar que cerca de 85 mil licenciados estão desempregados. E, obviamente, muitos mais existiriam se nós não fossemos o segundo país da OCDE com a maior fuga de cérebros. Mencione-se ainda que estas cifras não incluem os milhares de empregos temporários que foram criados para o Censos da População. Quando o Censos acabar, é bem possível que muitos destes milhares de trabalhadores engrossem as filas do desemprego.

População desempregada por grau de ensino (milhares)




Até ao Básico - 3º ciclo
 464.4
Secundário e pós-secundário
 140.0
Superior
 84.5




Finalmente, e ainda mais preocupante, refira-se que já há mais de 365 mil portugueses(as) que estão desempregados há mais de um ano. 365 mil. Como este é o desemprego mais difícil de combater, este número elevadíssimo de desempregados de longa duração deve persistir durante bastante tempo.
Por todos estes motivos, é absolutamente vital que o próximo governo ponha o combate ao desemprego no topo da lista das suas prioridades (que deve também incluir o combate ao excessivo endividamento nacional), visto que é simplesmente inaceitável que um país como o nosso (que tradicionalmente tem um desemprego relativamente baixo) tenha taxas de desemprego desta dimensão. Estes números são uma vergonha para todos nós. E um próximo governo não pode continuar a fingir que nada se passa. A verdade é que temos nas mãos não só uma situação social potencialmente explosiva, mas também, e principalmente, uma verdadeira tragédia pessoal para centenas de milhares de famílias portuguesas. E quanto mais tardarmos a lidar com esta situação potencialmente explosiva, piores serão as consequências para todos nós.

5 comentários:

Anónimo disse...

Agora já não digo : "dá que pensar".
É que não há mais tempo a perder para AGIR...

InfinitoZero disse...

De facto são numeros muito preocupantes, mas como inverter esta tendencia?
Parece-me que a via da redução da TSU é mais uma questão de crença ideologica do que de estudos cientificamente fundamentados.
Já alguém fez uma análise sobre o impacto das medidas anti desemprego de 2009, onde, entre outras,estava a redução de 3% na TSU?

Carlos Mendes disse...

"E estes números não incluem as centenas de milhares de portugueses que emigraram na última década à procura de melhores oportunidades noutros países".
Em mensagem anterior, que não sei se lhe chegou, chamava-lhe a atenção para o eventual exagero do número de emigrantes da última década.Parece-me exagero falar em centenas de milhares. Será que não quereria escrever "dezenas de milhares"?
Cumprimentos.

Gonçalo disse...

Na situação actual, investimento e mais formação não conduzirá a nenhum efeito económico. Tão só a mais despesa pública. É chocante, mas uma realidade.
http://notaslivres.blogspot.com/2011/05/produtividade.html

Alvaro Santos Pereira disse...

Obrigado a todos pelos comentários.

Caro InfinitoZero,
SIm, os estudos da descida da TSU estão feitos. Falta a vontade política.

Caro Carlos,

Sim, são mesmo centenas de milhares. Segundo os meus cálculos, foram cerca de 700 mil entre 1998 e 2008.

Caro Gonçalo,
É verdade. Penso que tem razão

Abraço
Alvaro