Se há indicador que nos devia envergonhar e que nos devia fazer perceber a gravidade da crise nacional da última década, esse indicador é este: já há quase 700 mil portugueses(as) sem emprego. 700 mil. E nestes números não incluem as centenas de milhares de portugueses que emigraram na última década à procura de melhores oportunidades noutros países, nem sequer os trabalhadores desencorajados (isto é, os que estão desempregados por um período prolongado e já deixaram de procurar emprego, não contando assim para as estatísticas do desemprego). Estima-se que o número de trabalhadores desencorajados já ultrapasse os 200 mil.
E o pior é que a tendência do desemprego é para aumentar. Segundo a nova metodologia do INE, a taxa de desemprego já ultrapassou os 12,4% e deve chegar aos 13% nos próximos meses. Já agora, em relação à mudança metodológica do INE, vale a pena referir que estas quebras de série são bastante comuns no INE. O problema não são as quebras de série, que são bem vindas se derem azo a mais informação ou a uma melhor recolha de dados. O problema é que o INE tem o péssimo hábito de fazer estas mudanças metodológicas e depois não consegue (ou não quer) actualizar as séries retroactivamente. Para quem lida com dados é verdadeiramente exasperante.
Mas deixemo-nos das questões metodológicas. O que interessa é analisar as tendências do desemprego. Comecemos então pela análise regional. Como podemos observar no quadro abaixo, a região mais afectada pelo desemprego é o Algarve, onde 17% dos trabalhadores já estão desempregados. A Madeira e a região lisboetas vêm logo atrás com, respectivamente, 13,9% e 13,6% de desempregados. Não deverá tardar muito para vermos uma região do país com níveis de desemprego parecidos com os registados em Espanha (isto é, acima dos 20%).
Taxa de desemprego por região:
Portugal | 12.4 |
Norte | 12.8 |
Centro | 9.7 |
Lisboa | 13.6 |
Alentejo | 12.5 |
Algarve | 17.0 |
R. A. Açores | 9.5 |
R. A. Madeira | 13.9 |
Se atentarmos agora para a estrutura etária da população desempregada, podemos verificar que os mais afectados pelo desemprego são o grupo dos 25 aos 34 anos (com 196 mil desempregados) e o grupo com mais de 45 anos. Porém, é ainda notório que todos grupos têm sido assolados pelo flagelo do desemprego:
População desempregada | 688.9 |
Homens | 354.1 |
Mulheres | 334.8 |
Dos 15 aos 24 anos | 123.9 |
Dos 25 aos 34 anos | 196.1 |
Dos 35 aos 44 anos | 160.4 |
Com 45 e mais anos | 208.4 |
Se olharmos para o grau de Educação obtido pelos trabalhadores desempregados, vemos que a grande maioria dos sem emprego não têm mais do que o ensino básico. Ainda assim, é muito revelador observar que cerca de 85 mil licenciados estão desempregados. E, obviamente, muitos mais existiriam se nós não fossemos o segundo país da OCDE com a maior fuga de cérebros. Mencione-se ainda que estas cifras não incluem os milhares de empregos temporários que foram criados para o Censos da População. Quando o Censos acabar, é bem possível que muitos destes milhares de trabalhadores engrossem as filas do desemprego.
População desempregada por grau de ensino (milhares)
Até ao Básico - 3º ciclo | 464.4 |
Secundário e pós-secundário | 140.0 |
Superior | 84.5 |
Finalmente, e ainda mais preocupante, refira-se que já há mais de 365 mil portugueses(as) que estão desempregados há mais de um ano. 365 mil. Como este é o desemprego mais difícil de combater, este número elevadíssimo de desempregados de longa duração deve persistir durante bastante tempo.
Por todos estes motivos, é absolutamente vital que o próximo governo ponha o combate ao desemprego no topo da lista das suas prioridades (que deve também incluir o combate ao excessivo endividamento nacional), visto que é simplesmente inaceitável que um país como o nosso (que tradicionalmente tem um desemprego relativamente baixo) tenha taxas de desemprego desta dimensão. Estes números são uma vergonha para todos nós. E um próximo governo não pode continuar a fingir que nada se passa. A verdade é que temos nas mãos não só uma situação social potencialmente explosiva, mas também, e principalmente, uma verdadeira tragédia pessoal para centenas de milhares de famílias portuguesas. E quanto mais tardarmos a lidar com esta situação potencialmente explosiva, piores serão as consequências para todos nós.
5 comentários:
Agora já não digo : "dá que pensar".
É que não há mais tempo a perder para AGIR...
De facto são numeros muito preocupantes, mas como inverter esta tendencia?
Parece-me que a via da redução da TSU é mais uma questão de crença ideologica do que de estudos cientificamente fundamentados.
Já alguém fez uma análise sobre o impacto das medidas anti desemprego de 2009, onde, entre outras,estava a redução de 3% na TSU?
"E estes números não incluem as centenas de milhares de portugueses que emigraram na última década à procura de melhores oportunidades noutros países".
Em mensagem anterior, que não sei se lhe chegou, chamava-lhe a atenção para o eventual exagero do número de emigrantes da última década.Parece-me exagero falar em centenas de milhares. Será que não quereria escrever "dezenas de milhares"?
Cumprimentos.
Na situação actual, investimento e mais formação não conduzirá a nenhum efeito económico. Tão só a mais despesa pública. É chocante, mas uma realidade.
http://notaslivres.blogspot.com/2011/05/produtividade.html
Obrigado a todos pelos comentários.
Caro InfinitoZero,
SIm, os estudos da descida da TSU estão feitos. Falta a vontade política.
Caro Carlos,
Sim, são mesmo centenas de milhares. Segundo os meus cálculos, foram cerca de 700 mil entre 1998 e 2008.
Caro Gonçalo,
É verdade. Penso que tem razão
Abraço
Alvaro
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