Como já aqui vimos, uma das principais consequências da prolongada crise nacional relaciona-se com o extraordinário retorno em força da emigração portuguesa. E se ainda podíamos ter algumas dúvidas se esta vaga emigratória era realmente signficativa ou não, essas mesmas dúvidas começam a dissipar-se com os resultados preliminares do Censo da População, que mostram que as previsões do INE da população nacional poderão estar sobre-avaliadas entre 200 mil e 300 mil portugueses(as). Veremos se estas previsões se mantêm quando os dados definitivos estiverem disponíveis.
Ora, toda esta emigração tem uma grande vantagem, que é diminuir as pressões sociais e económicas relacionadas com o desemprego. Quanto mais emigração, menor é o desemprego, e menores as tensões sociais.
Mais, os dados disponíveis indicam que a emigração portuguesa tende a ser elevada quando o crescimento económico é baixo. Esta relação negativa tem sido especialmente forte nos últimos anos e pode ser observada no gráfico abaixo. Para ser mais fácil interpretar o que nos diz o gráfico, os anos foram incluídos na figura. Como podemos ver, a correlação negativa entre o crescimento do PIB nacional (no eixo vertical) e a emigração anual (no eixo horizontal) não foi muito grande na década de 1980, quando registámos taxas de crescimento económico significativas. Em contraste, os grandes fluxos emigratórios da primeira década do século 21 correspondem ao período de fraco crescimento económico que vimos anteriormente. Isto é, a estagnação económica da última década está altamente correlacionada com o retorno da emigração portuguesa.
O que isto quer dizer ainda é que não será possível travar esta nova vaga emigratória enquanto não houver crescimento económico e, consequentemente, oportunidades de emprego. É que quando não existem empregos nem oportunidades, as pessoas acabam por procurar noutros países aquilo que não encontram no seu país de origem país de origem. É tão simples como isso.
Número de novos emigrantes vs. Crescimento económico, 1985-2008
2 comentários:
Há que recordar que antigamente emigravam com o motivo adicional de fugir à guerra colonial. Hoje a razão prende-se mesmo só com a pobreza do país.
O contingente de emigrantes é, por outro lado, uma fonte de receitas importante para o "status quo", e que ao mesmo tempo disfarça a crise interna. Por outro lado, bem vistas as coisas, a saída de Portugal da zona euro, ainda que por um período temporário (o castigo) seria recompensador para os emigrantes portugueses, que assim veriam aumentar o seu potencial de investimento/crescimento/influência no seu país. Há que pensar neste cenário com abertura de espírito!
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