22 maio 2011

O QUE IRÁ MUDAR NAS NOSSAS VIDAS?

"Agora que já são conhecidas as medidas do plano de ajustamento proposto pela troika (FMI, BCE e Comissão Europeia), interessa perguntar: o que é que irá mudar nas nossas vidas e no nosso país? Esta pergunta é muito pertinente, pois não há dúvida que estamos perante o mais abrangente pacote de medidas estruturais das últimas décadas. Isto é, o programa da troika é simplesmente o maior atestado de incompetência ao actual governo. Porquê? Porque este foi um governo que se mostrou totalmente incapaz para fazer face à espiral de endividamento que se iniciou no final dos anos 90, e foi particularmente inepto para contrariar a perda de competitividade das nossas exportações após a nossa adesão ao euro. Um governo que agravou ainda mais a nossa frágil situação ao apostar num despesismo pouco regrado que nos conduziu à maior dívida pública dos últimos 160 anos.
Face a este cenário pouco animador, a troika respondeu com um plano de medidas que tocará em tudo ou quase tudo. A nossa lenta e ineficiente Justiça será finalmente reformada. As empresas públicas, que se têm endividado à razão de mais de 3 mil milhões de euros ao ano, terão de cortar custos e reorganizar-se. A grande parte destas empresas públicas será ainda privatizada. As parcerias público-privadas (que é uma forma dos nossos governantes construírem obra e não pagarem durante anos a fio) serão reavaliadas. O mercado laboral será mais flexível, uma medida que era simplesmente inevitável, visto que há inúmeros estudos que demonstram que as nossas leis laborais fomentam a precariedade no emprego, penalizam a criação de emprego e prejudicam a nossa competitividade. O mercado das rendas sofrerá a maior reforma das últimas décadas, e a competitividade das nossas exportações será ainda beneficiada pela descida das contribuições sociais pagas pelos empregadores.
Por seu turno, os nossos impostos irão sofrer novo agravamento, uma decisão que, esperemos, possa ainda ser revertida por um próximo governo. E os preços dos transportes públicos irão ser actualizados gradualmente. O Estado também será reformado, não só através da diminuição do número de institutos e outros organismos públicos, mas também através da redução do número de freguesias e municípios. A Saúde e a Educação também serão afectadas.
Em suma, estamos perante um verdadeiro programa de um governo reformista. Um programa que irá finalmente fazer o que os nossos governos despesistas sempre se negaram a fazer. E só por isso temos de dar graças à troika por ter coragem de reformar aquilo que a muitos parecia irreformável."

NOTA: Meu artigo no Notícias Sábado da semana passada.

2 comentários:

sagitario disse...

só agora é que oa portugueses deram conta de quanto o pais só tem favorecido os politicos e amigos deles, mas nenhum deles está inocente, pois nos anos 80 as classes mais pobres viveram uma crise de miséria e nem sequer havia subsidio de desemprego.

Estamos num dilema e pasme-se apesar deste último governo ter esbanjado muito dinheiro em coisas inúteis é nele que os que forem votar ainda podem ter esperança de não se acabar com algumas conquistas como a saúde a educação e outras regalias que ainda existem.
Por isso se ganhar o PSD ou se houver uma coligação PSD +CDS PP então de certeza que os pobres irão ficar mais pobres e os ricos ainda mais ricos.

Só que a juventude de hoje não irá aceitar aquilo que lhes quiserem impor, os jovens já têm outros conhecimentos, pois estudaram, tiraram cursos superiores e não se vão deixar enganar por exploradores sem escrúpulos.

Anónimo disse...

Para ser franco, julgo que o comentários de um professor universitário devia ter um tim diferente, mais distanciado Da lógica partidária. Assim, perdoe-me a sinceridade, só perde prestigio.