A primeira parte da minha entrevista desta semana ao Jornal de Negócios:
O euro não agravou os problemas?
Sim, foi um choque. Mas as empresas já se adaptaram a esse choque, já aprenderam a trabalhar com a nova moeda. Repare que as exportações portuguesas cresceram acima do PIB durante muitos anos e agora [2010] voltaram a registar um crescimento muito expressivo.
Na sua "narrativa", o problema nasceu sobretudo de más políticas e decisões económicas?
Não tenho dúvidas. Chegámos aqui porque tivemos um modelo económico errado, assente no sector menos exposto à concorrência internacional - o chamado sector não transaccionável - e porque preferimos sempre atirar dinheiro para cima dos problemas.
O tal "Fontismo" de que fala no livro [em alusão a Fontes Pereira de Melo, que no século XIX apostou na modernização das infra-estruturas]...
Exacto. Eu não sou contra obras públicas, mas nós passámos de oito para 80. Tínhamos pouco na década de 70 e desatámos a construir a partir daí. É revelador que cerca de 40% de todo o endividamento da economia seja culpa indirecta do Estado.
Como assim?
Esta é a dívida externa de empresas públicas - que não são consideradas "Estado -e a dívida de empresas que, apesar de serem privadas, fizeram obras a título de investimento público, nomeadamente em regime de parcerias público privadas.
Há quem diga que foi a crise.
Estes desequilíbrios acumularam-se durante anos e anos e era claro que teriam de rebentar um dia. A crise financeira internacional só acelerou o processo. Os nossos governantes não souberam responder aos problemas e permitiram este endividamento louco.
O endividamento não foi consentido? Os alertas não são de agora.
Claro, chegámos até aqui também porque deixámos. Os políticos enganaram-nos e a opinião pública deixou-se enganar, com a complacência dos "media" e da oposição. Aliás, eu acho que se a oposição tivesse sido mais atenta e tivesse cumprido o seu papel, muito poderia ter sido evitado. Mas, quando entrámos no euro, criou-se a ideia de que os problemas da Balança de Pagamentos deixavam de existir...
Uma opinião partilhada por muitos economistas. O próprio Vítor Constâncio a defendeu.
Sim, mas está completamente errada. O que é que acontece nas outras uniões monetárias? Nos EUA, se um Estado for irresponsável, vai à bancarrota. Até pode haver um "bailout", mas não sem um forte condicionalismo.
E agora? É necessário vender os anéis, como a Caixa Geral de Depósitos?
Eu não defendo isso...
Mas defende que pode ser inevitável.
Pode, e eu até não sou contra. A maior parte dos países não tem um banco público e, em Portugal, ele até está altamente partidarizado, o que é negativo. Apenas tenho receio de que se vendesse um activo importante a preço de saldo. O momento não é o melhor.
O euro não agravou os problemas?
Sim, foi um choque. Mas as empresas já se adaptaram a esse choque, já aprenderam a trabalhar com a nova moeda. Repare que as exportações portuguesas cresceram acima do PIB durante muitos anos e agora [2010] voltaram a registar um crescimento muito expressivo.
Na sua "narrativa", o problema nasceu sobretudo de más políticas e decisões económicas?
Não tenho dúvidas. Chegámos aqui porque tivemos um modelo económico errado, assente no sector menos exposto à concorrência internacional - o chamado sector não transaccionável - e porque preferimos sempre atirar dinheiro para cima dos problemas.
O tal "Fontismo" de que fala no livro [em alusão a Fontes Pereira de Melo, que no século XIX apostou na modernização das infra-estruturas]...
Exacto. Eu não sou contra obras públicas, mas nós passámos de oito para 80. Tínhamos pouco na década de 70 e desatámos a construir a partir daí. É revelador que cerca de 40% de todo o endividamento da economia seja culpa indirecta do Estado.
Como assim?
Esta é a dívida externa de empresas públicas - que não são consideradas "Estado -e a dívida de empresas que, apesar de serem privadas, fizeram obras a título de investimento público, nomeadamente em regime de parcerias público privadas.
Há quem diga que foi a crise.
Estes desequilíbrios acumularam-se durante anos e anos e era claro que teriam de rebentar um dia. A crise financeira internacional só acelerou o processo. Os nossos governantes não souberam responder aos problemas e permitiram este endividamento louco.
O endividamento não foi consentido? Os alertas não são de agora.
Claro, chegámos até aqui também porque deixámos. Os políticos enganaram-nos e a opinião pública deixou-se enganar, com a complacência dos "media" e da oposição. Aliás, eu acho que se a oposição tivesse sido mais atenta e tivesse cumprido o seu papel, muito poderia ter sido evitado. Mas, quando entrámos no euro, criou-se a ideia de que os problemas da Balança de Pagamentos deixavam de existir...
Uma opinião partilhada por muitos economistas. O próprio Vítor Constâncio a defendeu.
Sim, mas está completamente errada. O que é que acontece nas outras uniões monetárias? Nos EUA, se um Estado for irresponsável, vai à bancarrota. Até pode haver um "bailout", mas não sem um forte condicionalismo.
E agora? É necessário vender os anéis, como a Caixa Geral de Depósitos?
Eu não defendo isso...
Mas defende que pode ser inevitável.
Pode, e eu até não sou contra. A maior parte dos países não tem um banco público e, em Portugal, ele até está altamente partidarizado, o que é negativo. Apenas tenho receio de que se vendesse um activo importante a preço de saldo. O momento não é o melhor.
4 comentários:
Excelente !
Caro Álvaro santos Pereira,
Tenho uma pergunta para lhe fazer, se fosse governante, de todas as obras públicas que estão previstas quais eram as que metia na gaveta?
PS: Óptima primeira parte desta entrevista.
Olá caro Álvaro, sigo com prazer, há já algum tempo, as suas intervenções, desde que adquiri o seu livro sobre os mitos da economia portuguesa. Gostaria de saber a sua opinião sobre um pormenor das PPP. O problema está nas PPP como modelo, ou para o fim que lhes foi dado? Pergunto isto porque caso fosse utilizado este modelo de financiamento como incentivo a uma indústria/cluster específica, como aposta de desenvolvimento, não seria um bom modelo? Obrigado
caro Álvaro Santos Pereira,
Se o Senhor fosse governante quais as obras públicas que iam direitinhas para a gaveta e quais as que daria luz verde para a sua realização?
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