11 maio 2011

CONDIÇÕES DO EMPRÉSTIMO

O Jornal de Notícias perguntou-me a minha opinião sobre as taxas de juros que nos foram concedidas pela Europa. Aqui estão as minhas respostas.
JN: 1) A taxa de juro é comportável?
A taxa de juro que nos foi concedida pela Europa é bastante elevada, sendo provavelmente demasiado alta para o nível de dívida actual (que, de resto, continua a crescer). É certo que, mesmo assim, iremos financiar-nos a juros mais baixos do que os que estávamos a conseguir nos mercados. No entanto, e até tendo em linha de conta os juros concedidos pelo FMI, as condições de empréstimo da tranche que vem da Europa não são muito favoráveis. Aliás, é bem possível que esta taxa de juro possa causar problemas ao nível da insustentabilidade da dívida pública, até porque os valores do empréstimo não são suficientes para tomar em linha de conta as dívidas das empresas públicas (40 mil milhões de euros), nem as PPPs (mais de 50 mil milhões de euros, e que, entre 2013 e 2030, terão um encargo anual na ordem dos 2,5 mil milhões de euros. Estes encargos não estão contabilizados na dívida pública directa do Estado). Se o nível da dívida não for mesmo sustentável com estas taxas de juros, Portugal poderá ter de reescalonar ou mesmo reestruturar a sua dívida daqui a 2 ou 3 anos, o que seria lamentável. Por isso, estas taxas de juros são uma má notícia para todos nós e são mais um terrível atestado de incompetência deste governo.

JN: 2) Portugal tinha melhor alternativa?Penso que sim. Portugal deveria ter feito tudo para alcançar taxas de juros mais baixas. Contudo, mais uma vez, este governo mostrou-se totalmente incapaz para conseguir negociar e alcançar condições mais favoráveis para o pacote de ajuda. É natural que assim seja, pois este governo tem um enorme problema de credibilidade no estrangeiro, e os nossos parceiros não confiam nos nossos governantes. Por isso, decidiram punir-nos com taxas de juros e com condições muito exigentes.
É também certo que há países na UE que querem que Portugal (e os outros países que não se portaram responsavelmente) paguem pelos erros cometidos nos últimos anos. No entanto, ao imporem condições desta ordem estão a dar um tiro no pé, pois arriscam-se que estes países não consigam cumprir as suas obrigações, o que certamente irá afectar os seus próprios bancos. Se houver reestruturação das dívidas da Grécia, da Irlanda ou até de Portugal, os principais afectados serão os bancos e o sistema financeiro de países como a Alemanha, a França e até a própria Espanha. Por isso, "castigar" os países periféricos com taxas de juros elevadas (em relação aos níveis de endividamento destes países) é um erro que lhes poderá sair muito caro.

3 comentários:

António Parente disse...

Discordo das acusações que faz ao governo (declaração de interesses: não sou apoiante do governo). A taxa de juro dos empréstimos concedidos pelos parceiros europeus está definida à priori e resulta da soma dum spread de 200 a 300 pontos base com a taxa de funding (pode ser empréstimo bilateral ou através do mecanismo de facilidade europeu). Tentar reduzir o spread impicaria uma revisão das condições da Irlanda e Grécia e tendo em atenção o carácter "punitivo" que estas intervenções têm não me parece exequível ir por esse caminho. O "ganho" da intervenção é que se não a pedíssemos poderíamos cair numa situação de incumprimento ou então fazer emissões a custos proibitivos.

Carlos Sebastião disse...

Boa tarde,

Quando se governa, por vezes não é possível aplicar as medidas que pensamos serem as mais correctas... é que por vezes é necessário contar com a reacção do «povo», da oposição, e da pressão dos jornalistas. Talvez numa ditadura seja possível fazer o estritamente necessário, para atingir o fim desejado.

Deixo aqui duas perguntas... para o caso de querer pensar no assunto...

Quais as vantagens/desvantagens da desvalorização do €uro?

A par do €uro não seria possível criar uma segunda moeda nacional? Quais seriam as vantagem e desvantagens?

José Domingos disse...

Não é de admirar, a taxa de juro, da EU, que está perto da agiotagem.
Sendo a Alemanha, quem empresta mais, e sendo ela, um estado, dominado, pelos judeus...........