28 abril 2008

FOME MUNDIAL

João César das Neves assina hoje no DN um artigo de opinião sobre a subida dos preços alimentares. Vale a pena ler. Aqui fica um pequeno extracto:
"Qual a origem deste surto altista? Uma causa imediata é a queda do dólar. Em euros, as subidas são bem menores (trigo 88%, arroz 55% e milho 19%) mas ainda significativas e no trigo mantêm-se as mais elevadas no registo. Por outro lado, descontada a inflação, os preços, mesmo em dólares, ainda estão bastante abaixo dos valores do início dos anos 80. As matérias-primas registaram uma tendência decrescente nas últimas décadas, agora invertida. O fantasma global ainda vem longe."

2 comentários:

antonio disse...

Será que o fantasma está assim tão longe? Como facilmente se pode compreender a inflacção sentida por cada um de nós depende depende do nosso padrão de consumo. Quem muda de carro de dois em dois anos, faz férias meia duzia de vezes por ano, janta em bons restaurantes etc. defende-se melhor do que quem tem uma pensão de 300 euros e que tem como unica opção comer pouco e mal. Para esta ultima a inflacção tem quase exclusivamente a ver com a subida de preço dos alimentos básicos.
E as más noticias é que Bruxelas admitiu que para este ano a subida de preços da alimentação na zona euro poderá ser superior a 30%. Vestuário e calçado 28%. E para quem não pode optar por cancelar um fim de semana alargado em Nova York porque se limita a comer umas açordazinhas, a opção é mais água e menos pão, alho, azeite e coentros na açorda. Se o Álvaro não lhe quiser chamar fome chamemos-lhe então alimentação frugal. Mas anda muito disso por aí. Eu sou adepto da economia de mercado e da recompensa do empenho e mérito. Mas procuro cada vez que olho para a floresta olhar também para as árvores. Mesmo que a realidade não seja a mais conveniente. Infelizmente a práctica de muitos defensores da economia de mercado é esconderem aquilo que falha. Porque se sentem desconfortáveis e porque não é politicamente correcto sublinharem as falhas. E daqui resulta que sectores como os bloquistas, comunistas e CGTPs se armem em campeões da liberdade e defensores dos desprotegidos. Porque para esses é conveniente levantar a lebre. Em contrapartida os defensores da economia de mercado ficam com a imagem de insensiveis, egoistas e de exploradores.
Esta tem sido a prática do centro direita. Não me parece nada inteligente e julgo que por isso não haverá na Europa partidos extremistas de esquerda tão fortes como em Portugal. O que bloqueia instituções e reformas e gera uma mentalidade de defesa e desconfiança relativemente à economia de mercado. Muito pouco inteligente.

Alvaro Santos Pereira disse...

Concordo inteiramente António. A eficiência económica não tem que ser antagonista a uma boa protecção social. Aliás, veja-se o caso da Escandinávia (e até do Canadá).
Quanto aos preços alimentares, tem razão. Os pobres gastam em média bem mais (em termos relativos) do que os ricos. Por isso, são os pobres os mais afectados pelo aumento dos produtos alimentares. A taxa de inflação dos pobres é actualmente mais elevada do que a dos ricos

Abraço

Alvaro