01 abril 2008

LIÇÕES DE OUTROS PAÍSES

Voltemos à questão das lições de outros países, que poderão elucidar-nos sobre a situação económica actual. Analisámos de forma breve as lições que a Irlanda, a Espanha o Reino Unido e a Estónia nos dão. Que podemos concluir?
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O longo período recessivo que a economia portuguesa atravessa actualmente é consequência de três grandes factores: a nossa adesão ao Euro, a pouca dinâmica da nossa procura externa (principalmente na Europa) e a falta de confiança dos investidores privados
Comecemos pela moeda única. Há cada vez menos dúvidas que grande parte da crise actual é um reflexo da nossa adesão ao euro. Durante décadas, grande parte das empresas portuguesas estavam habituadas aos autênticos balões de oxigénio das chamadas desvalorizações competitivas. Assim, quando a procura externa descia consideravelmente, havia sempre a tentação de desvalorizar o escudo, de forma a aumentar a competitividade das nossas exportações. Esse mecanismo já não existe, o que penaliza grandemente as empresas menos competitivas. Obviamente que quanto à nossa participação no euro não há muito a fazer. Uma saída da moeda única seria desastrosa tanto a nível político como económico. Por isso, a solução passa por as empresas portuguesas se adaptarem. Para tal, é imperioso que se efectue uma reestruturação dos nossos sectores menos produtivos. De facto, essa reestruturação terá lugar quer gostemos quer não, pois a existência de uma moeda forte assim forçará.
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Em relação ao pouco dinamismo de alguns dos nossos principais parceiros não há muito a fazer. A Europa continua esclerosada e o motor alemão já não é o que era, devido não só aos custos da reunificação, mas também ao rígido mercado laboral alemão. Obviamente, se a performance da economia europeia melhorar, o nosso sector exportador beneficiará.
Como já não temos as muletas da política cambial e da política monetária e como não podemos afectar a situação económica dos nossos maiores parceiros, a solução passa obviamente por aumentar a competitividade das nossas empresas (a nível interno e externo) através de um crescimento da produtividade.
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Todos estes países passaram de situações apáticas economicamente para períodos de grande dinamismo. Estes períodos de grande dinamismo foram sempre antecedidos por reformas estruturais, quer a nível do aparelho estatal, quer a nível institucional, quer do mercado de trabalho.
Assim, urge concluir: vale mesmo a pena fazer reformas estruturais, mesmo que os efeitos não se façam sentir imediatamente. A médio ou a longo prazo, a performance económica claramente beneficia deste tipo de reformas. Como os ingleses dizem, “short run pain, long run gain” deveria ser, sem dúvida nenhuma o principal mote para a economia portuguesa nos próximos anos.

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