09 maio 2008

60 ANOS DE ISRAEL


Parabéns a Israel pelos seus 60 anos. 60 anos muito atribulados que levaram muitos a questionar a sua existência e viabilidade (por exemplo, Fernanda Câncio tem hoje no DN uma crónica muito interessante onde apelida Israel de "País kamikaze"). Ainda hoje se debate se as Nações Unidas erraram ou não ao permitirem que Israel fosse localizado no Médio Oriente. É certo que o território israelita tinha um grande significado histórico e religioso para os judeus, mas colocar um pequeno país judaico naquele região foi, no mínimo, uma decisão controversa. Dito isto, também é claro que tirar dali Israel não é solução nenhuma. Não é possível. Para bem ou para mal, Israel está lá e lá ficará, a não ser que haja algum cataclismo, alguma loucura, que afecte irremediavelmente esse país bem como os países que o rodeiam.
^
A nível pessoal, devo dizer que Israel foi dos países que mais me impressionou. Visitei Jerusalém há dois anos atrás a propósito de uma conferência internacional precisamente na altura em que começaram os raptos de soldados israelitas, que deram azo aos conflitos em Gaza e no Líbano. Jerusalém é uma cidade fascinante cuja maior virtude e maior tragédia é ter "demasiado" história. Por onde quer que se vá, a história persegue-nos e envolve-nos.
O facto que mais me chocou na minha visita de então foi constatar o quão perto os árabes e os judeus (e cristãos e os arménios, entre outros) vivem. Literalmente, vivem lado a lado. O ar expirado por um árabe é inspirado por um judeu e vice versa. Poucos metros de distância separam um povo do outro. Por exemplo, nas mesmas ruas estreitas de Jerusalém judeus ortodoxos vivem a menos de 20 metros de distância do mundo árabe. Ainda pior, uma das zonas mais sagradas para os judeus é o muro das lamentações que é composto não só por aquilo que todos vemos nas televisões, mas também por uma secção bem maior que só é acessível por tuneis. Tuneis que passam literalmente por baixo das casas árabes. E, é claro, que para além dos judeus e dos árabes, Jerusalém é ainda sagrada para os cristãos e albergue para muitas nacionalidades.
^
A situação é tão complicada que, na altura, saí de Jerusalém a pensar que a cidade nunca poderá ter uma solução fácil ou monopartidária. Jerusalém é tão importante para tantos e tão distintos povos que a única solução de paz duradoura tem que passar por incorporar a cidade como um protectorado da ONU e/ou como uma cidade internacional.
Outro facto que me impressionou foi o quão perto alguns dos colonatos estão dos territórios palestinianos (muitos deles, como é sabido, estão mesmo nos territórios palestinianos).
^
Os primeiros 60 anos de Israel dificilmente poderiam ter sido mais atribulados. Houve muito radicalismo, pouca paz, muitas atrocidades (de parte a parte) e muita falta de diálogo. Também houve muito desenvolvimento (Israel é hoje um país bastante moderno). Esperemos que nos próximos 60 anos haja mais paz e entendimento entre as diversas partes. E que o desenvolvimento continue e que abarque também a Palestina e demais Médio Oriente. E que os israelitas, os palestinianos e os restantes árabes aprendam finalmente a viver uns com os outros, aceitando as suas diferenças e semelhanças. É difícil, muito difícil que tal aconteça. Mas não custa sonhar.

2 comentários:

Gi disse...

Para que haja paz no Médio Oriente é preciso que os indivíduos perdoem as selvajarias passadas, antigas e recentes, contra eles e as suas famílias, em nome do futuro.
Não é fácil. Para isso seria preciso pelo menos um novo Gandhi - ou dois.

Alvaro Santos Pereira disse...

E mesmo um ou dois Gandhi no Médio Oriente podem não chegar...