27 maio 2008

NOVA ESTAGFLAÇÃO

Nos últimos tempos agravaram-se alguns dos sinais preocupantes nas principais economias do mundo. Surgem assim no horizonte alguns indícios que a economia mundial poderá cair novamente no fenómeno que nos anos 70 veio a ficar conhecido por estagflação. Nessa altura, depois de três décadas de crescimento económico sem precedentes, a maioria das economias registaram a coexistência de taxas de inflação altas e estagnação da actividade económica, da qual resultaram elevadas taxas de desemprego. Esta situação foi despoletada pelos choques petrolíferos de 1973/74 e 1979/1980.
Ora, a nível da política económica, a grande diferença entre a década de 70 e as décadas anteriores foi o factor surpresa. De facto, nem os agentes económicos, nem os bancos centrais estavam preparados para choques de oferta negativos. Desde a Segunda Guerra Mundial os governos e bancos centrais equiparam-se com uma série de mecanismos desenhados a lidar com aumentos ou diminuições da procura agregada, não tendo que se preocupar com o lado da oferta. Este era a receita essencial do keynesianismo. Segundo esta doutrina, em tempos de recessão, o governo deveria estimular a procura agregada para compensar deficiências na procura interna.
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A situação mudou radicalmente com os choques petrolíferos dos anos 70, dos quais resultaram uma série de choques de oferta negativos. Esses choques petrolíferos levaram a um aumento dos custos das empresas, que resultaram uma subida acentuada da taxa de inflação (devido à importância do petróleo na economia mundial). A subida dos custos das empresas levou a uma descida considerável dos lucros das empresas, da qual resultou um aumento dos despedimentos dos trabalhadores. Deste modo, as taxas de desemprego subiram um pouco por todo o mundo ao mesmo tempo que as taxas de inflação dispararam.
Existem bastantes paralelismos entre a situação actual e as crises petrolíferas dos anos 70. Por um lado, tais como nos anos 70, o preço do petróleo tem aumentado consideravelmente nos últimos tempos. Por outro lado, tais como na década de 70, os agentes económicos e as autoridades monetárias foram apanhados em grande parte distraídos, e por isso responderam inadequadamente aos novos desafios.
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Porém, uma grande diferença entre os anos 70 e a situação corrente tem a haver com a experiência dos bancos centrais e dos governos. Se nos anos 70, os bancos centrais cometeram vários erros relativamente ao combate à inflação, actualmente os bancos centrais possuem bastante mais experiência e informação sobre a economia. Por isso, mesmo que os ventos dos preços petrolíferos se transformem num furacão, é provável que os bancos centrais actuem de forma muito mais resoluta e benéfica do que o fizeram na década de 70.
Apesar disso, se a subida dos preços dos produtos petrolíferos se mantiver, podemos certamente esperar nos próximos tempos uma subida acentuada das taxas de juros, possivelmente a partir do Verão. Esta subida dos juros irá penalizar principalmente o consumo e o investimento privados, bem como as famílias seriamente endividadas. Como sabemos, uma das consequências dos juros historicamente baixos nos últimos anos foi um crescimento substancial do endividamento das famílias. Este fenómeno aconteceu um pouco por todo o mundo ocidental. Os juros baixos permitiram muitas famílias financiar a obtenção bens duradouros, tais como casas e automóveis, que não seriam possíveis se os juros não fossem tão baixos. Consequentemente, uma subida substancial das taxas de juro irá afectar grandemente os consumidores que se endividaram acima das suas reais possibilidades.
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Finalmente, esta subida acentuada dos preços dos produtos petrolíferos não é uma boa notícia para a economia mundial, com a excepção dos países produtores de petróleo. Se a recuperação das economias mais desenvolvidas tinha procedido até agora de certamente tímida, a subida dos preços petrolíferos somente poderá aumentar ainda mais esta tendência, devido às influências nefastas da estagflação. Os próximos meses serão assim cruciais para o desempenho da economia mundial.

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